quarta-feira, 28 de setembro de 2011

FRBR MODELANDO A CATALOGAÇÃO SEM ANOROXIA

http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=278

FRBR MODELANDO A CATALOGAÇÃO SEM ANOROXIA
[Dezembro/2006]

A catalogação, nos últimos anos, tem experimentado mudanças em suas práticas e teorias, afetadas pelas tecnologias de informação. Aliás, as mudanças não provocam sofrimento, mas saudável inovação, que propicia uma nova dimensão no desenvolver do aparato teórico e em servir como recurso para a gestão e organização do conhecimento impresso, e digital circulante na Internet. Alguns bibliotecários podem achar que as mudanças provocam uma anorexia catalográfica, decorrente de estruturas com poucos metadados e para o qual a magreza descritiva simboliza uma completa representação da informação. Embora haja discordâncias a respeito, para vários catalogadores a “ficha” já caiu, na compreensão das transformações que afetam, atualmente, o trabalho catalográfico.

Sabemos da importância dos Princípios de Paris e das ISBDs, cujas recomendações incentivaram a criação de uma variedade de códigos de catalogação nacionais incorporando elementos novos na discrição e na operacionalização das políticas de controle bibliográfico. Atualmente, começa a consolidar-se o modelo FRBR (Requisitos Funcionais para os Registros Bibliográficos) que apresentam uma maneira de organizar a informação, possibilitando uma obtenção de resultados mais completos para as buscas dos usuários, além de oxigenar a discussão na área da representação descritiva.

O modelo é resultado das resoluções adotadas durante o Seminário sobre Registros Bibliográficos, realizado em Estocolmo, no ano de 1990. As resoluções foram aprofundadas com o trabalho desenvolvido por um grupo de especialistas, entre os anos de 1992 e 1997, com a finalidade de discutir uma estrutura que possibilitasse relacionar os registros bibliográficos às necessidades dos usuários. As ações foram apoiadas e encampadas pelo Comitê Permanente da Secção sobre Catalogação da IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions) que, em 2002, constituiu um Grupo de Trabalho sobre FRBR, posteriormente transformado em Grupo de Revisão do FRBR, o endereço eletrônico é: http://www.ifla.org/VII/s13/wgfrbr/index.htm.



Finalidades do Catálogo

Sobre as finalidades do catálogo bibliográfico baseadas nas necessidades do usuário, vale recordar Anthony Panizzi (1797 – 1879), que estando à frente da biblioteca do Museu Britânico, buscou torná-la mais transparente ao público. A intenção era substituir os mistérios de seu funcionamento, por um procedimento que proporcionasse independência do usuário em saber da existência e localização do material procurado. Panizzi entendia que o principal objetivo do catálogo era ser muito mais que uma listagem. Ser um instrumento para transformação da sociedade ao promover acesso ao conhecimento para todas as classes sociais, sem distinção.

Neste sentido, no clássico livro “Introdução à catalogação”, a professora Eliane Mey salienta que as pessoas desejam obter acesso a algum tipo de conhecimento. Assim, compete ao bibliotecário tornar o conhecimento acessível e compatível com as necessidades das pessoas. Em sua reflexão exemplifica: “Como se tornaria impossível aos usuários das bibliotecas, para escolha do mais conveniente, folhear todos os livros, ou ouvir todos os discos, ou manusear todas as outras formas de registro disponíveis no acervo, mesmo que os itens estivessem ampla e corretamente organizados, nós, bibliotecários, elaboramos representações desses itens, de forma a simplificar a busca. Essas representações abrangem tanto o aspecto físico dos itens como seu conteúdo. Com essas representações, criamos instrumentos diversos: bibliografias, catálogos, boletins de serviços de alerta, entre outros” (p.1).

Em suma, ao elaborar a representação de um objeto, descrever seu conteúdo e torná-lo recuperável com visto ao uso, se constrói um meio de comunicação. Comunicação pela qual o usuário é informado sobre os materiais disponíveis na biblioteca, e pode manifestar o seu desejo de obtê-los. Neste aspecto, o FRBR dá continuidade ao objetivo da elaboração de catálogos. O seu diferencial é o aprimoramento que introduz neste processo ao oferecer uma nova perspectiva sobre a estrutura, e as relações dos registros bibliográficos. Contempla propostas, que auxiliam aos responsáveis por códigos de catalogação, os fornecedores de sistemas, e os próprios bibliotecários a repensarem seus produtos para satisfazerem as necessidades dos usuários. Saliente-se, que o FRBR não é um novo código de catalogação ou um novo tipo de ISBD, mas provoca impactos sobre a revisão dos mesmos.


Concepção

A concepção do FRBR baseia-se no modelo de entidade – relacionamento (E-R), compreendida como um modelo lógico orientado ao objeto, e a identificação de entidades e relacionamentos para projeção de banco de dados. No modelo E – R, a entidade é compreendida como objeto do mundo real que pode ser identificado de forma unívoco em relação a todos os outros objetos. Ela pode ser concreta ou abstrata. Os atributos referem-se às diversas características que uma entidade possui, ou propriedades descritivas de cada membro de um conjunto de entidades. O Relacionamento é a associação entre uma ou várias entidades.

O FRBR baseado neste modelo divide-se em três grupos de entidades estruturadas sob os seguintes princípios:

v Grupo 1 – compreende os produtos de trabalho intelectual ou artístico que se descrevem nos registros bibliográficos e que formam a base do modelo: Obra, Expressão, Manifestação e Item.

Ø Obra: entidade abstrata, referente a uma criação intelectual ou artística distinta. É reconhecida como entidade por meio de suas expressões. Esta entidade permite fornecer um nome e elaborar relações com a criação intelectual ou artística. Quando falamos de “Don Quixote de Miguel de Cervantes” enquanto uma obra, não se está referindo a uma edição ou texto específico, mas sim a criação intelectual.

Ø Expressão: refere-se à realização intelectual ou artística específica que assume uma obra ao ser elaborada, excluindo-se aí aspectos de alteração da forma física. Envolve palavras, frases, parágrafos, etc., específicos que resultam da realização ou expressão de uma obra e fornece uma distinção no conteúdo intelectual entre uma realização e outra da mesma obra. Portanto, diferenças tipográficas não constituem uma nova expressão.

Ø Manifestação: é a representação física da expressão de uma obra. Compreende um amplo conjunto de objetos físicos (itens) que podem ser monografias, periódicos, vídeos, etc., que compartilhem as mesmas características no que se refere tanto ao conteúdo intelectual como a forma física. A manifestação possibilita descrever as características compartilhadas.

Ø Item: em muitos casos refere-se a um único objeto físico ou um único exemplar de uma manifestação. Em outras determinadas situações pode compreender mais de um objeto como no caso de uma monografia publicada em três volumes. No Item também está representado o artigo eletrônico recuperado da Internet. Este objeto se pode possuir ou ser visualizado em uma biblioteca digital. O Item, normalmente, compartilha as mesmas características físicas e intelectuais que a manifestação.

v Grupo 2 – agrega as Entidades que são responsáveis pelo conteúdo intelectual, guarda ou disseminação das entidades do primeiro grupo. São duas entidades de fácil compreensão: pessoa e entidade coletiva.

Ø Pessoa: indivíduo responsável pela criação ou realização de uma obra, ou aquele que é assunto de uma obra (biográfico, autobiográfico, histórico e etc.). São definidos como entidade pessoa: autores, compositores, artistas, editores, tradutores, diretores, intérpretes.

Ø Entidade Coletiva: organizações ou grupos de indivíduos ou organizações, inclusive grupos temporários (encontros, conferências, reuniões, festivais, etc.) e autoridades territoriais como uma federação, um estado, uma região, uma municipalidade.

v Grupo 3 – envolve as Entidades que representam o conjunto de temas caracterizadores de uma obra. Inclui as seguintes entidades:

Ø Conceito: uma noção abstrata ou idéia. Abrange abstrações que podem ser temáticas de uma obra: áreas de conhecimento, disciplinas, escolas de pensamento, teorias. Um conceito pode ser amplo ou específico. Ex.: Teoria Quântica.

Ø Objeto: uma coisa material. Abrange uma completa categoria de coisas materiais que podem ser as temáticas de uma obra: objetos animados ou inanimados que ocorrem na natureza, fixos ou móveis; objetos que são produtos da criação humana ou objetos que já não existam. Ex.: Apollo 11.

Ø Evento: entidade que inclui uma variedade de ações, ocorrências ou acontecimentos: histórica, época, período de tempo. Ex.: O século XX.

Ø Lugar: entidade referente a uma localização. Abrange uma série de localizações: terrestres e extraterrestres, históricas ou contemporâneas, características geográficas e jurisdições geopolíticas. Ex.: Ilha de Fernando de Noronha.



Projetos de FRBR


Diversas ações e projetos estão sendo realizados visando aplicar o modelo do FRBR, algumas destas ações estão relacionadas a seguir:

AustLit Gateway – projeto de base de dados bibliográfica (não de catálogo) que apresenta um exemplo de implementação de FRBR. É um experimento aplicado ao mapeamento do corpus literário de textos australianos, ou seja, inclui tanto as bibliografias nacionais que compreendem obras publicadas fora do país como aquelas que abarcam artigos e ensaios ou outros tipos de materiais. Utiliza de uma combinação de conjuntos de dados diferentes e heterogêneos onde se inclui elementos da ISBD. O projeto é fruto da colaboração de várias bibliotecas universitárias australianas e da Biblioteca Nacional.

Virtua – software integrado de biblioteca – desenvolvido pela VTLS (Visionary Technology in Library Solutions), que fazendo jus à sua nomenclatura, introduziu a partir da versão 4.10 a possibilidade das bibliotecas criarem seu próprio catálogo sob modelo FRBR. O sistema permite a coexistência de registros convencionais e FRBR em uma mesma base de dados. O esquema adotado é baseado no sistema de correspondência do MARC 21 e FRBR e toda a interação interna de montagem dos registros se faz via linguagem XML. No site, do fornecedor, é possível encontrar um texto demonstrativo do modelo e dos avanços propostos em matéria de prática catalográfica: http://www.vtls.com.br/demonstracao/demonstracao_arquivos/frbr.pdf, mas o arquivo tem quase 30 Megabytes, e baixa-lo é recomendável acesso via banda larga.

As utilidades bibliográficas também têm se mobilizado na análise e aplicação do modelo, como é o caso da OCLC (Online Computer Library Center) e RLG (Research Libraries Group). As bases de dados, WorldCat da OCLC e o Catálogo Coletivo da RLG (denominado RedLightGreen), estão avaliando o potencial para uso do FRBR.

A OCLC desenvolveu, também, um protótipo FictionFinder que demonstra como os 177 registros bibliográficos, sobre “Cem anos de solidão” de Gabriel García Marquez, podem ser apresentados aos usuários como um único registro da obra, sob o qual se agrupam todas as suas versões lingüísticas e todas as manifestações de cada versão existente.

A Library of Congress desenvolveu um software, denominado “FRBR Display Tool”, que oferece uma visualização hierarquizada de registros bibliográficos obtidos em uma busca no catálogo. Os três níveis superiores do modelo FRBR – Obra, Expressão e Manifestação servem para organizar tais listas hierarquizadas. O programa não permite busca em catálogos bibliográficos, sendo apenas uma ferramenta conversora. Fernanda P. Moreno, em sua dissertação sobre o FRBR, apresenta todo um capítulo comentando a instalação e operação da ferramenta, bem como, as limitação e problemas encontrados na configuração.

Estudo interessante, de aplicação do FRBR, utilizando o software CDS/ISIS, é mostrado por Roberto Sturman, que durante o II Congresso Mundial de Usuários de CDS/ISIS (Salvador - Ba, 20-23 de setembro de 2005), apresentou trabalho “A case study of cataloging software implementation: IFPA (ISIS FRBR Prototype Application)”. Outras informações sobre o protótipo baseado no CDS/ISIS podem ser obtidas no endereço: http://pclib3.ts.infn.it/frbr/FRBR.htm.



Considerações

A inovação do FRBR está em formular um modelo conceitual que possibilita a identificação das entidades, os atributos de cada uma das entidades, e os tipos de relação entre elas.

O FRBR oferece a possibilidade de realizar uma única busca, para encontrar todos os materiais relacionados, mesmo se estes materiais se catalogam em diferentes línguas ou edições, ou com diferentes cabeçalhos de assuntos. É uma nova camada que se pode colocar sobre a catalogação tradicional.

O conceito tradicional de catálogo automatizado se modifica ao adotar um novo modelo de operação, e apresentação de registro bibliográfico, superando limitações nas possibilidades de busca e no desenho das interfaces de consulta.

Um aspecto positivo, observado sobre o FRBR, foi na mudança de foco das discussões técnicas centradas somente na normalização, e nos padrões de intercâmbio bibliográfico, para preocupações sobre: o que os usuários necessitam; como um registro bibliográfico poderia atender satisfatoriamente o questionamento do usuário, ao consultar o catálogo eletrônico. Implica, ainda, revisão e discussão sobre os códigos de catalogação em vigor, formatos de intercâmbio e no desenvolvimento de sistemas de automação. Além da atualização das competências técnicas e habilidades analíticas do catalogador.



Indicação de Leitura

Para maior compreensão sobre o FRBR, recomenda-se a leitura das publicações, em português:

Mey, Eliane S. Alves. Introdução à catalogação. Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 1995.

Assunção, Maria Clara. Catalogação de documentos musicais escritos: uma abordagem à luz da evolução normativa. 2005. Master thesis, Departamento de História, Universidade de Évora.

Moreno, Fernanda Passini. Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos – FRBR: um estudo no catálogo da Rede Bibliodata. Brasília, 2006. Dissertação (Mestrado). Universidade de Brasília. Departamento de Ciência da Informação e Documentação - CID

Moreno, Fernanda Passini; Arellano, Miguel Angel Márdero. Requisitos funcionais para registros bibliográficos – FRBR: uma apresentação. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v.3, n.1, p.20-38, jul./dez. 2005.



link sobre o tema:

A case study of cataloging software implementation: IFPA (ISIS FRBR Prototype Application): http://w2isis.icml9.org/activity.php?lang=es&id=13

International Federation of Library Associations and Institutions, "Functional Requirements for Bibliographic Records": www.ifla.org/VII/s13/frbr/frbr.htm

Library of Congress Network Development and MARC Standards Office: www.loc.gov/marc

OCLC FictionFinder: fictionfinder.oclc.org.

RLG's RedLightGreen: www.redlightgreen.com

VTLS's Virtua: www.vtls.com

Sobre Fernando Modesto
Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.

Catalogação descritiva no século XXI :Um estudo sobre o RDA

http://www.scribd.com/doc/57803839/13/Conceitos-teoricos

ROSA MARIA RODRIGUES CORRÊA
Catalogação descritiva no século XXI :Um estudo sobre o RDA

RESUMO
A informação é essencial neste limiar do Século XXI, assim como sua transmissão.A catalogação descritiva, como área da Biblioteconomia responsável por transmitiras informações contidas em acervos de qualquer natureza, por meio da construçãode formas de representação, deve acompanhar a evolução das necessidades dosusuários. Esta constatação preocupa especialistas da área. A padronização, narepresentação das informações e documentos é imprescindível e também o objetode trabalho da catalogação descritiva como forma de garantia do intercâmbio deregistros bibliográficos. A preocupação cresce com a rapidez com que asinformações são geradas e disponibilizadas em diferentes formas. Este trabalhopropõe-se a analisar o estado da arte do esquema Resource Description and Access(RDA) elaborado pela International Federation of Libraries Associations (IFLA), parauso de catalogadores e bases de dados bibliográficos. A análise baseia-se empesquisas bibliográficas on-line. A evolução da catalogação e seus códigos deregras; a influência das tecnologias nos meios de comunicação, especificamente natroca de informações bibliográficas; a compatibilidade de conceitos visando acomunicação eficiente entre máquina, catalogador e informações codificadas paraatendimento dos usuários foram utilizadas para a construção da parte histórica dotrabalho. O estudo do RDA foi elaborado reunindo-se as necessidadesinformacionais, a catalogação descritiva e o novo esquema para compreender suaabrangência e a sua possível aceitação internacional, como uma forma depossibilitar o controle bibliográfico e ampliar o acesso e uso das informaçõesdisponíveis nos mais diversos ambientes informacionais. O RDA, por ser umesquema em fase de elaboração somente pode ser analisado do ponto de vistateórico. Nossa análise verificou que o RDA é um esquema eficaz, por aliar a teoria àprática. A base teórica serve de apoio para a tomada de decisões para acatalogação descritiva. As considerações finais nos conduzem ao aceite do RDA,desde que eficazmente gerido pelas Instituições que detêm seu domínio. Suapublicação está prevista para 2009, quando poderemos realmente saber as dimensões de sua aplicação e aceite

REQUISITOS FUNCIONAIS PARA REGISTROS BIBLIOGRÁFICOS - FRBR: UMA APRESENTAÇÃO

http://www.sbu.unicamp.br/seer/ojs/index.php/sbu_rci/article/viewFile/317/196
REQUISITOS FUNCIONAIS PARA REGISTROS BIBLIOGRÁFICOS - FRBR: UMA APRESENTAÇÃO
Fernanda Passini Moreno
Miguel Ángel Márdero Arellano
Resumo
A área de estudos da Biblioteconomia, denominada representação descritiva, ou catalogação, tem um histórico de encontros de peritos para estabelecimento de padrões de descrição de documentos, no que tange às regras e formatos. Passados quarenta anos da Declaração dos Princípios de Paris, em 1961, teve início um
re-exame de práticas e normas de catalogação, sob a responsabilidade de um grupo de estudos da Seção de Catalogação, Classificação e Indexação da IFLA-Internacional Federation Library Associations and Institutions – Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias, materializado no relatório final: FRBR – Functional requirements for bibliographic records: final report, FRBR - Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos. Representando um avanço significativo na área de representação bibliográfica, publicado em 1998, apresenta conceitos e definições de entidades, relacionamentos e atributos, lançando um novo olhar sobre o objeto bibliográfico, centrado no usuário e suas ações. O modelo tornou-se objeto de teses, dissertações, grupos de estudos permanentes, tema de seminários e projetos de pesquisa, em nível internacional. Ao propor relacionamentos de diversas naturezas, os FRBR propõem o agrupamento de entidades com semelhanças, oferecendo um maior número de opções ao usuário que busca informações nos registros bibliográficos. Apesar de ser amplamente discutido, possuindo projetos de pesquisa para implementação do modelo em softwares bibliográficos, no exterior, no Brasil não existem registros de
discussão a respeito. Este trabalho apresenta o modelo e algumas considerações como o início de um debate sobre o tema, que revela o futuro da descrição bibliográfica no cenário mundial e a criação do Código de Catalogação Internacional.
Palavras-chave
Registro bibliográfico; Descrição bibliográfica; Catalogação; FRBR; IFLA.
FRBR
A intensificação dos custos de catalogação; a contínua necessidade de economizar no processo de catalogação; o crescimento vertiginoso de publicações e a rápida proliferação
de novos formatos e materiais com diversos novos métodos de acesso. Esses pontos, tão conhecidos dos bibliotecários, motivaram os participantes do seminário de Estocolmo,Suécia, em 1990, patrocinado pela IFLA UBCIM Programme e Divisão de Controle bibliografico. Dentre as várias recomendações do seminário, duas são a base para um reexame dos registros bibliográficos: a necessidade de se estabelecer um nível básico de funcionalidade para os registros bibliográficos em relação à variedade de usuários e de
mídias e que as agências bibliográficas nacionais ficassem responsáveis por garantir que
suas publicações saíssem em diversas mídias, fazendo, em conjunto, um estudo de
necessidade dos usuários.
Ao longo de oito anos, o grupo de estudos oriundo da Seção de Catalogação e da Seção de
Classificação e Indexação da IFLA, com a colaboração de consultores e de voluntários de várias nacionalidades, desenvolveu os FRBR, apresentando um relatório final em 1998, configurando uma recomendação para reestruturar os registros bibliográficos de maneira a refletir a estrutura conceitual de buscas de informação, levando em conta a diversidade
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© Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação,Campinas, v .3, n 1, p. 20-38, jul./dez. 2005– ISSN: 1678-765X.
23 ARTIGO de:
ƒ usuários - usuários da biblioteca, pesquisadores, bibliotecários da seção de
aquisição, publicadores, editores, vendedores;
ƒ materiais - textuais, musicais, cartográficos, audiovisuais, gráficos e
tridimensionais;
ƒ suporte físico - papel, filme, fita magnética, meios óticos de armazenagem,
etc. e, formatos - livros, folhas, discos, cassetes, cartuchos, etc. que o registro possa conter.
Os FRBR oferecem-nos uma nova perspectiva da estrutura e nos relacionamentos dos
registros bibliográficos. A proposta dos FRBR é:
primeiro, fornecer um quadro estruturado, claramente definido, para relacionar
dados registrados em registros bibliográficos às necessidades dos usuários destes
registros. O segundo objetivo é recomendar um nível básico de funcionalidade
para registros criados por entidades bibliográficas nacionais. (IFLA, 1998, p. 7).
No primeiro objetivo, percebe-se a intenção da proposta inovadora dos FRBR: que
catálogos em linha, baseados no modelo, possam mostrar as relações bibliográficas mais claramente, de maneira útil ao usuário, de maneira que ele possa navegar em "espaços" de informações complexos, através das relações, de maneira que as informações nos registros, recuperadas através da expressão de busca do usuário, reflitam um apropriado "rol" de registros (BEACOM, 2003).
Para responder às necessidades dos usuários, os Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos são definidos em relação às seguintes tarefas genéricas realizadas pelos usuários quando fazem buscas em bibliografias nacionais e catálogos de bibliotecas, ou os utilizam, chamadas user tasks:






uso dos dados para encontrar materiais que correspondam aos critérios
estabelecidos para a busca do usuário;
uso dos dados recuperados para identificar uma entidade;
uso dos dados para selecionar uma entidade adequada às necessidades do usuário;
uso dos dados para encomendar, adquirir, ou obter acesso à entidade descrita
(IFLA, 1998, p. 8).
Nota-se que as tarefas genéricas acima descritas são fortemente inspiradas nos três objetivos do catálogo, propostos por Cutter (MEY, 1987; RILEY, 2004; TAYLOR, 2004), quais sejam:
1) Permitir a uma pessoa encontrar um livro do qual ou: a) o autor; b) o título; c) o assunto seja conhecido;
2) Mostrar o que a biblioteca possui: d) de um autor determinado; e) um assunto
determinado; f) em um tipo dado da literatura;
3) Para ajudar na escolha de um livro: g) de acordo com sua edição
(bibliograficamente); h) de acordo com seu caráter (literário ou tópico)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

BibMargarida: PROVA DA USP

BibMargarida: PROVA DA USP

PROVA DA USP

http://www.pcarp.usp.br/pages/processos/201162/prova201162.pdf

PROVA DA USP

http://www.pcarp.usp.br/pages/processos/201162/prova201162.pdf

Concurso publico CCRP/USP- GABARITO DA USP

GABARITO – 25/09/2011
PROVA DE MÚLTIPLA ESCOLHA
01 E 26 B
02 E 27 A
03 A 28 E
04 D 29 D
05 C 30 C
06 E 31 D
07 A 32 E
08 B 33 A
09 B 34 B
10 D 35 E
11 C 36 A
12 D 37 E
13 A 38 C
14 A 39 C
15 D 40 C
16 B 41 E
17 B 42 B
18 C 43 D
19 A 44 B
20 D 45 C
21 C 46 A
22 A 47 A
23 D 48 E
24 B 49 C
25 C 50 C

Concurso publico CCRP/USP

http://www.pcarp.usp.br/pages/processos/

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CONCURSO PÚBLICO – BIBLIOTECÁRIO - DOCUMENTALISTA

CEFET-RN
CONCURSO PÚBLICO – BIBLIOTECÁRIO - DOCUMENTALISTA
EDITAL 02/2006/GDRH/CEFET-RN

1. No Brasil, a instituição designada para atribuir o International Standard Book Number (ISBN) para publicações monográficas é o(a)
a) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
b) Fundação Biblioteca Nacional.
c) Fundação Getúlio Vargas.
d) Ministério da Educação.
2. Um pesquisador da área de Biblioteconomia/Ciência da Informação necessita fazer um levantamento em uma base de dados referencial de grande abrangência
nessa área. Então ele utilizará a
a) CAB Abstracts.
b) LISA.
c) PsyINFO.
d) CrossRef.
3. O Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte é uma das instituições participantes do Portal de Periódicos da CAPES. Dentre as bases
referenciais que essa instituição tem acesso, destacase a DII- Derwent Innovations Index, que dispõe de
a) patentes.
b) livros eletrônicos.
c) teses e dissertações.
d) artigos de periódicos.
4. Os processos de compra, permuta e doações caracterizam-se como as principais modalidades de aquisição
a) de livros.
b) de materiais informacionais.
c) somente de materiais especiais.
d) somente de periódicos.
5. No Sistema de Classificação Decimal de Dewey, o sinal . (ponto) é utilizado para separar cada conjunto de
a) nenhum dígito.
b) um dígito.
c) dois dígitos.
d) três dígitos.
6. As Linguagens Documentárias (LDs) são sistemas simbólicos instituídos e visam facilitar o processo de comunicação, embora a sua função comunicativa seja
restrita ao contexto da
a) informática.
b) semiótica.
c) documentação.
d) comunicação.
7. O processo que utiliza a operação de tradução de textos em Linguagem Natural (LN) para uma Linguagem Documentária (LD) se denomina
a) automação.
b) normalização.
c) indexação.
d) recuperação.
8. Uma Linguagem Documentária (LD) é utilizada na entrada de um sistema de informação quando o documento é analisado para
a) registro.
b) empréstimo.
c) aquisição.
d) seleção.
9. Um código de catalogação e um formato de entrada são imprescindíveis para o processo de criação de um registro bibliográfico em meio magnético. Identifiqueos a seguir:
a) AACR2 e o DPAC.
b) AACR2 e o MARC.
c) AACR2 e o thesaurus Brased.
d) AACR2 e o thesaurus de Roget.
10. Na sociedade atual, os avanços tecnológicos têm permitido o compartilhamento, a padronização e o armazenamento de registros bibliográficos por meio do(a):
a) CDD – Classificação Decimal de Dewey.
b) CDU – Classificação Decimal Universal.
c) OPAC – On line Public Access Catalogue.
d) MARC21 – Formato Condensado de Dados Bibliográficos.
11. A questão das políticas de análise e representação do conteúdo informacional de documentos é também considerada como uma política
a) educacional.
b) de desenvolvimento de coleção.
c) de indexação.
d) de seleção.
12. No processo de busca e recuperação da informação, o Portal Brasileiro da Informação Científica oferece acesso à produção científica mundial como niciativa
do(a)
a) IBICT.
b) INEP.
c) CAPES.
d) CNPq.
13. O planejamento estratégico enquanto uma metodologia de pensamento participativo, no âmbito de uma Unidade de Informação, inicia-se com a participação
a) somente de gerentes de divisão.
b) somente de gerentes de seções.
c) somente de bibliotecários.
d) de todos os dirigentes (tomadores de decisão).
14. No Brasil, o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas foi traduzido e customizado pelo(a)
a) Universidade de São Paulo.
b) Fundação Biblioteca Nacional.
c) Fundação Getúlio Vargas.
d) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
15. O International Standard Serial Number (ISSN) é considerado um número único internacional para identificação e atribuição a um título de publicação de
a) obra de referência.
b) periódicos.
c) artigo de periódico.
d) livro.
16. No formato bibliográfico Machine Readable Cataloguing (MARC), o campo correspondente para registrar o número do ISSN é
a) 020.
b) 022.
c) 027.
d) 040.
17. No contexto da documentação, o processo de elaboração de índices e resumos é desenvolvido à luz da análise
a) literária.
b) documentária.
c) de conteúdo.
d) do discurso.
18. Um Vocabulário de Termos Controlados, também denominado Thesaurus Brased, contribui para o processo de indexação e recuperação da informação na área de
a) Biologia.
b) História.
c) Educação.
d) Odontologia.
19. O tesauro de documentação, enquanto instrumento metodológico, relaciona descritores/termos e tem como funções principais indexar e
a) catalogar.
b) explicar o significado das palavras.
c) analisar.
d) recuperar informação.
20. A Análise Documentária (AD) se define como um conjunto de procedimentos metodológicos para representar o conteúdo informacional de documentos e com o objetivo de
a) recuperar e armazenar informação.
b) recuperar e disseminar informação.
c) organizar e armazenar informação.
d) organizar e coletar informação.
21. Os primeiros sistemas de classificação bibliográfica considerados de natureza enciclopédica e que visam abranger todas as áreas do conhecimento são:
a) CDU, LC e tesauro.
b) CDD, CDU e LC.
c) CDD, CDU e tesauro.
d) CDD, LC e tesauro.
22. Uma das Linguagens Documentárias mais desenvolvidas que faz uso de operadores boleanos para construção de novas relações entre os termos é o(a)
a) CDD.
b) CDU.
c) LC.
d) tesauro.
23. No âmbito da Análise Documentária, os processos de síntese e de representação documentária advêm do processo de análise. Estes, por sua vez, se apresentam sob duas modalidades:
a) Cutter e resumo.
b) índice e resumo.
c) normalização e resumo.
d) memória coletiva e resumo.
24. O Portal de Domínio Público, lançado em novembro de 2004, é uma importante fonte de informação fomentada pelo Ministério da Educação. Nesse portal estão disponibilizados, gratuitamente, ao público
a) periódicos com texto completo.
b) livros com texto completo.
c) teses e dissertações.
d) livros e periódicos com texto completo.
25. Um usuário portador de deficiência visual deseja fazer uma pesquisa no livro falado “O Atheneu”, de Raul Pompéia. No sentido de agilizar uma busca direta, o
bibliotecário deverá indicar a seguinte fonte de informação:
a) Biblioteca Eletrônica SCIELO.
b) Biblioteca Virtual em Educação.
c) Biblioteca Virtual de Literatura.
d) Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa.
26. Na construção de um tesauro, é fundamental o emprego de relações conceituais. Nesse contexto, se dois conceitos diferentes possuem características idênticas e um deles possui uma característica a mais do que o outro, pode-se afirmar que entre eles se estabelece uma relação
a) de equivalência.
b) hierárquica.
c) partitiva.
d) de oposição.
27. Para formar as classes principais da CDD, Dewey baseou-se diretamente no sistema de Harris, que teve por base a ordem inversa do sistema filosófico de
a) Paul Otlet.
b) Francis Bacon.
c) Porfírio.
d) Shiyali Ramamrita Ranganathan.

28. A notação que melhor representa o assunto “ensaio sobre florestas”, segundo a CDD, corresponde a
a) 502.904
b) 504.904
c) 634.904
d) 910.904
29. Ao normalizar o sumário de um trabalho acadêmico, o bibliotecário necessita fazer uso da norma que estabelece a numeração progressiva das seções de um documento escrito. Nesse caso, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) recomenda a
a) NBR 6021.
b) NBR 6024.
c) NBR 6031.
d) NBR 6032.
30. De acordo com a NBR 6022, de maio de 2003, da ABNT, que trata da apresentação de artigo em publicação periódica científica impressa, o resumo em língua estrangeira é considerado um elemento
a) pré-textual.
b) textual.
c) opcional.
d) pós-textual.
31. Segundo a NBR 6029, de setembro de 2002, da ABNT, um dos elementos pós-textuais obrigatórios na apresentação de livros e folhetos corresponde ao
a) índice.
b) colofão.
c) posfácio.
d) apêndice.
32. Conforme a NBR 6023, de agosto de 2002, da ABNT, o documento jurídico que inclui toda e qualquer discussão técnica sobre questões legais refere-se à(a).
a) súmulas.
b) doutrina.
c) jurisprudência.
d) resoluções.
33. Observe a catalogação do item abaixo
França, Marcos.
Peixe vivo [original de arte] / Marcos França.–
Brasília: Ferro e Aço Badaruco Ltda, 2002.
1 escultura pendular : aço carbono, suporte em arco
fixado em base de concreto ; 9 x 5 x 5m.
De acordo com o Código de Catalogação AngloAmericano, 2ª edição (AACR2), esse item corresponde a
a) um material iconográfico.
b) um material cartográfico.
c) um artefato tridimensional.
d) uma microforma.
34. Na descrição bibliográfica de um item, o principal ponto de acesso é o autor. Este pode ser uma pessoa ou entidade. Segundo a AACR2, na falta de ambos, o
ponto de acesso poderá ser o título da obra ou um título
a) equivalente.
b) corrente.
c) uniforme.
d) de partida.
35. Conforme o AACR2, a entrada para parte de um item já registrado sob uma entrada abrangente é denominada de:
a) secundária.
b) analítica.
c) principal.
d) secundária nome-título.
36. A forma de entrada do título de uma publicação seriada, de acordo com a NBR 10525, de outubro de 1988, da ABNT – Numeração Internacional para Publicações Seriadas – ISSN, é chamada de:
a) título-chave.
b) título coletivo.
c) título corrente.
d) título principal.
37. A ferramenta que possibilitou a concretização da catalogação cooperativa em ambiente digital e em rede corresponde ao
a) Pergamum.
b) ORTODOCS.
c) BIBLIODATA.
d) MARC.
38. O líder, o diretório e os campos são elementos que compõem a estrutura de um registro MARC21. Para cada campo, é associado um número de três dígitos.
Nesse sentido, o número 505 está relacionado ao campo
a) de notas de conteúdo.
b) da descrição física.
c) de assunto tópico.
d) de entidade coletiva.
39. Segundo o Código de Ética Profissional do Bibliotecário (Resolução CFB nº 42, de 11.01.2002), a alternativa que não é considerada como uma penalidade nas infrações cometidas pelo bibliotecário é:
a) advertência reservada.
b) censura pública.
c) cassação do exercício profissional.
d) suspensão do registro profissional pelo prazo de cinco anos.
40. O AACR2 estabelece as regras gerais para uso de uma pontuação na descrição de um item. Conforme este código, o sinal ponto-e-vírgula (;) pode ser utilizado
a) para a designação geral do material.
b) a cada subseqüente indicação de responsabilidade.
c) para a edição.
d) no título equivalente.

Gabarito - Bibliotecário/Documentalista
- Após análise dos recursos

Questão Resposta Questão Resposta
1 B 21 B
2 B 22 D
3 A 23 B
4 B 24 B
5 D 25 D
6 C 26 B
7 C 27 B
8 A 28 C
9 B 29 B
10 D 30 D
11 C 31 B
12 C 32 B
13 D 33 C
14 D 34 C
15 B 35 B
16 B 36 A
17 B 37 D
18 C 38 A
19 D 39 D
20 B 40 B

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

http://www.followscience.com/library_uploads/533836d0a83340bec764e684b73acf41/614/a_indexacao_de_livros_a_percepcao_de_catalogadores_e_usuarios_de_bib

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a indexação de livros a percepção de catalogadores e usuários de bibliotecas
universitárias
mariângela spotti lopes fujita

A legislação sobre bibliotecas no Brasil by EXTRALIBRIS on dez 12, 2005 • 11:19 am

A legislação sobre bibliotecas no Brasil
by EXTRALIBRIS on dez 12, 2005 • 11:19 am Nenhum Comentário
A LEGISLAÇÃO SOBRE BIBLIOTECAS NO BRASIL

CECÍLIA ANDREOTTI ATIENZA
Diretora do Centro de Documentação e Informação da Câmara Municipal de São Paulo.

Revista Palavra-Chave, São Paulo, n.1, p.15-18, 1982.

1 Introdução

Os profissionais bibliotecários, já não sem tempo, estão começando a tomar consciência dos problemas atuais existentes sobre a invasão de outros profissionais (não bibliotecários), na área da Biblioteconomia brasileira.

Ora, esse mercado de trabalho, que deveria ser privativo do bacharel em Biblioteconomia, está sendo utilizado por profissionais de outras áreas, sobre as mais diversas alegações. Isto porque a profissão biblioteconômica vem se desenvolvendo a passos largos, ampliando a escala de valores, que por definição, sempre pertenceu à Biblioteconomia, mas que na impossibilidade natural dos legisladores de 1962 de preverem esse desenvolvimento na Ciência da Biblioteconomia, fez com que a parca legislação existente sobre o assunto se tornasse inadequada, dando margens a interpretações jurídicas as mais diversas, embora saibamos que essas interpretações deveriam respeitar o conceito da matéria a intenção do legislador ao elaborar uma norma, ou seja, obedecendo a interpretação lógica da norma, que nada mais é que a investigação do fim ou da razão da lei, para fixar-lhe o seu real sentido.

Mas nem sempre isso acontece, pois por conveniências diversas, o intérprete poderá justificar sua tese segundo uma interpretação gramatical, ou seja, aquela que estabelece o sentido objetivo da lei, com base em sua “letra”.

Muitos autores jurídicos não se satisfazem com essa interpretação, pois as palavras escondem ou representam um significado não representado, na maioria das vezes, com fidelidade.

Por esta razão, os intérpretes da lei partem a investigação da “ratio legis”, ou melhor, para o fim perseguido pela lei, de modo que, em função dele, possa fixar exatamente o sentido depreendido da “letra da lei”.

Interpretar o Direito “é estabelecer o sentido objetivo da norma, não o sentido retrógrado e nem aquele que de forma alguma poderia ser incluído, mas o que se depreende do texto ajustado à realidade social. Pra descobri-lo, o intérprete deve pensar como homem de sua época e não como homem do tempo em que a lei foi sancionada. Assim, o sentido da lei deve ser atual, e não retrógrado e nem revolucionário” (13).

Uma vez explicadas as divergências possíveis de interpretação, vamos detalhar os problemas legais da Biblioteconomia, dividindo em partes as áreas mais atingidas, começando pela lei maior que disciplina o exercício da profissão, mediante a Lei Federal nº. 4084, de 30 de junho de 1962 (1) e o respectivo Decreto Federal regulamentador, nº. 56.725, de 16 de agosto de 1965 (2).

2 Princípios da Lei 4084/62

Essa lei é o resultado da situação biblioteconômica correspondente aos anos de 1962. Ora, passados vinte anos de sua promulgação, ela não pode atender mais aos objetivos da época atual, pela natural evolução da profissão e as conseqüências resultantes desse fator cultural, mas isto não significa que se deva permitir as “convenientes” interpretações de outrens, menos preocupados com o destino das bibliotecas brasileiras. Sabemos que se faz necessário modificar a Lei 4084/62, mas, antes que isso aconteça, vamos defender os princípios existentes na lei, que por extensão, permitem a defesa dos interesses profissionais dos bibliotecários.

Quais são esses princípios? Então, vejamos:
2.1 Exercício profissional

O exercício da profissão de bibliotecário foi objeto de disposição da Lei 4084, de 30 de junho de 1962 e de sua respectiva regulamentação, pelo decreto 56.725, de 16 de agosto de 1965.

Esta norma apresenta para o estudo do problema, basicamente, a disposição que exige para provimento e exercício de cargos técnicos de bibliotecários (e documentaristas), na administração pública, autárquica, parestatal, empresas sob intervenção governamental ou concessionárias de serviço público, a obrigatoriedade da apresentação de diploma de bacharel em Biblioteconomia. (Obs.: Não existe, juridicamente, a profissão de documentarista. O exercício das funções de “documentarista” é sempre do profissional bibliotecário. Esta nomenclatura precisa de uma reavaliação por autoridade competente.)

2.2 Funções privativas ou atribuíveis ao profissional bibliotecário

O art. 1º., do próprio diploma legislativo em questão, estabeleceu expressamente a intenção citada em primeiro lugar, ao declarar ser “a designação profissional de bibliotecário, privativa dos bacharéis em Biblioteconomia”, como também, assim podem entender, no art. 3º., em relação ao preenchimento dos cargos da série de classes de bibliotecário (e documentarista), onde está clara a exigência peremptória do diploma para aquele fim.

Porém, no art. 2º. quando diz a quem caberá o exercício da profissão de bibliotecário, usa a palavra “permitido” e não “privativo” que impediria, legalmente, as aberrações que estão acontecendo em nosso país, onde pessoas não habilitadas estão dirigindo nossas bibliotecas e centros de documentação, muitas delas sob a alegação (errônea) de que os cargos são de confiança.

O art. 6º. quando diz: “São atribuições dos bacharéis em Biblioteconomia…”, também não deixou claro essa intenção, dando oportunidade a alguns técnico-jurídicos, de adotarem a tese segundo a qual a lei diz que são atribuíveis aos bacharéis em Biblioteconomia as tarefas relacionadas no artigo mencionado, sem afirmar que lhes seriam, também, privativas, pretendendo, apenas, evidenciar que do exercício do cargo em comissão de direção intermediária, não se origina qualquer desvio de atribuições.

Temos como exemplo, o caso da Biblioteca Nacional. Embora a alínea “c” do art. 6º. dá como atribuição ao bacharel em Biblioteconomia “a administração e direção de bibliotecas”, tivemos um não bibliotecário na direção da Biblioteca Nacional, sob a alegação de especialistas jurídicos ligados ao MEC de que “segundo a Lei 4084, que regulamenta a biblioteconomia, o diploma de bibliotecário é imprescindível para a ocupação de cargos técnicos de bibliotecários e documentaristas. A direção da Biblioteca Nacional, entretanto, não se enquadra nestas especificações, sendo um cargo de direção e assessoramento superior, com funções essencialmente administrativas” (8).

Outro exemplo a ser citado é o caso da direção de Serviços de Documentação que, embora, expresso na alínea “d” do art. 6º. “a organização e direção dos serviços de documentação”, tivemos um parecer da Consultoria Geral da República, aprovado pela Presidência da República, onde encontramos a alegação de que “a Lei 4084/62, não tornou privativo dos bacharéis em Biblioteconomia, as funções de direção dos serviços de documentação. É aconselhável, entretanto, o recrutamento entre aqueles que tenham a qualificação de que trata a referida Lei” (3).

Esses exemplos retratam o resultado dessa omissão legislativa que permitiu a elaboração dos pareceres acima mencionados entendendo (esses pareceres) que o diploma legislativo em causa não deu exclusividade aos ocupantes de cargos de bibliotecário (e documentaristas), ou que pelo menos isso não ficou expresso na lei e consideram o diploma legal, apenas, quanto à sua interpretação literal, ou seja, onde a lei não distingue, ao intérprete não será lícito distinguir.

A gravidade, nesses casos, reside no fato (como aconteceu com o Parecer 382-H/66, de autoria do Consultor Geral da República, Dr. Arnaldo Mesquita da Costa) de que esses pareceres quando aprovados pela Presidência da República, não se pode recusar sua aplicação na esfera administrativa, embora essa exigência de habilitação seja perfeitamente legal quando entendida sob a luz da interpretação lógica da norma. (Ao “caput” do art. 6º. Deve ser dada nova redação como: “São atribuições privativas dos bacharéis em Biblioteconomia…”. E, para resolver definitivamente o problema de “cargos de confiança”, deve ser acrescentada uma alínea nesse mesmo artigo, referente às atribuições, constando do seguinte: “o exercício de cargos ou funções de direção, chefia e encarregatura, em comissão ou mediante contrato, nas áreas abrangidas pelas bibliotecas, bancos de dados bibliográficos, redes, sistemas, centros e serviços de documentação e/ou informação e demais entidades e/ ou instituições que tenham como objetivo o armazenamento e/ou a disseminação da informação em qualquer área de atividade intelectual” (4)).

2.3 Direção de Bibliotecas e de Serviços de Documentação

As alíneas “c” e “d” do art. 6º. Declaram como “atribuições dos bacharéis em Biblioteconomia a organização, direção e execução dos serviços técnicos de repartições públicas federais, estaduais, municipais e autárquicas e empresas particulares, concernentes às matérias e atividades seguintes”:

———-
c) a administração e direção de bibliotecas.
d) a organização e direção dos serviços de documentação.
———-

Ora, hoje temos que fazer a interpretação lógica, extensiva dessas alíneas, uma vez que além de bibliotecas de uma forma pura, temos em razão do desenvolvimento dessas mesmas bibliotecas “o planejamento, assessoramento, consultoria, organização, implantação, administração e direção de bibliotecas, bancos de dados bibliográficos, redes, sistemas, serviços e centros de documentação e/ou informação e demais entidades e/ou instituições que tenham como objetivo o armazenamento e/ou disseminação da informação em qualquer área de atividade intelectual” (4).

3 Definição de bibliotecas

Outro comentário a ser feito, ainda com relação ao art. 6º., onde o dispositivo menciona, textualmente, “organização, direção e execução dos serviços técnicos (…) de administração e direção de bibliotecas”. Mas, a aplicação desse preceito esbarra numa indagação: o que é biblioteca? Com efeito, sob esta denominação cabem realidades muito distintas, desde a Biblioteca Nacional com seis milhões de peças (livros, discos, mapas, periódicos etc.) até a de uma escola primária modesta.

E, aqui, poderemos citar alguns exemplos com comentários relativos a essas bibliotecas exemplificativas.

3.1 Biblioteca Pública

O manifesto da UNESCO sobre a biblioteca pública, define-a como força em prol da educação, da cultura, da informação e como instrumento indispensável para promover a paz e a compreensão entre os povos e as nações. Esse manifesto diz ainda que a biblioteca pública deve ser estabelecida à base de dispositivos legais inequívocos que regulem a prestação de um serviço de biblioteca pública de alcance nacional.

Portanto, é indiscutível a necessidade de serem baixadas normas por autoridade competente, baseadas numa publicação de nível internacional, como Internationl Federation of Library Associations, denominada Standards for Public Libraries traduzida para o português como “Normas para Bibliotecas Públicas” e onde inclui o citado manifesto da UNESCO (11).

3.2 Biblioteca Infanto-Juvenil

Em artigo publicado por Yvette Z. Duro (9) encontramos o pensamento de Cecília Merirelles, segundo o qual “as bibliotecas infantis correspondem a uma necessidade da época e têm a vantagem não só de permitirem à criança uma enorme variedade de leituras, mas de instruírem os adultos acerca de suas preferências”.

Yvette diz que “o número de bibliotecas infantis no Brasil é pouco significativo, embora na década de 70 fosse verificado maior desenvolvimento em algumas regiões”. Diz, ainda, que “as atuais diretrizes do ensino brasileiro contribuíram para o maior afluxo de estudantes às bibliotecas públicas mas relegaram a um plano secundário as escolares e infanto-juvenis”.

Não seria o caso de se estabelecer normas por autoridade competente, que poderiam ser baseadas, também, na publicação “Normas para Bibliotecas Públicas”, no item que se refere às crianças, lembrando sempre que “as crianças formam um grupo identificável dentro da comunidade, com necessidades e interesses especiais” (11).

3.3 Biblioteca escolar

A biblioteca escolar permanece entre nós como um simples repositório de material impresso ou um depósito de livro apenas.

Tereza da Silva Freitas Oliveira (16), em seu artigo, diz muito bem e de forma sucinta como a biblioteca escolar representa uma unidade integrante do núcleo de Apoio Técnico Pedagógico, no Regimento das Escolas de 1º. e 2º. graus no Estado de São Paulo, explicando a integração do bibliotecário nos planejamentos e programações escolares e, ainda, o relacionamento que se almeja no processo ensino-aprendizagem. Esses elementos todos fazem parte da estrutura funcional dessas escolas, de uma forma técnico-legal a não deixar dúvidas, mediante decretos estaduais (para São Paulo): nº. 10.623, de 26 de outubro de 1977 e nº. 11.625, de 23 de maio de 1978.

Temos que citar nesse item que “de acordo com o determinado nos artigos 2º. e 3º. do Decreto Estadual (São Paulo) 5.771, de 4 de março de 1975, o governo paulista assumiu o encargo de criar bibliotecas e, simultaneamente, os cargos de bibliotecários nas escolas de 1º. e 2º. graus da rede estadual de ensino, quando estas tiverem mais de 200 alunos. Infelizmente a exigência legal não está sendo cumprida, apesar da sua indiscutível necessidade” (10).

“Ora, se a lei estabeleceu que as bibliotecas fossem instituídas nos estabelecimentos de ensino de 1º. e 2º. graus, não se compreende e muito menos se admite a omissão do governo estadual” (10). E, nós acrescentamos: e os trabalhos de base a serem elaborados pelos órgãos de classe?

Ainda assim, São Paulo possui alguma norma sobre o assunto. E as demais regiões? Não seria o caso de termos uma legislação em âmbito nacional como diretriz básica? E, conseqüentemente, normas paralelas em cada região, salvaguardando as peculiaridades de cada um?

Nos Estados Unidos, temos a American Association of School Libraries que cuida de tornar realidade normas legais sobre biblioteca escolar.

3.4 Bibliotecas Universitárias

Conforme Indicação do CFE, nº. 20, de 8 de outubro de 1968 (7), nos processos de autorização e reconhecimento de escolas superiores ou de universidades devem ser objetivamente consideradas as condições de suas bibliotecas. Esse mesmo documento diz que “a biblioteca constitui a peça central de uma escola. Mesmo antes de a escola existir, pode existir a biblioteca. Por sua natureza um núcleo de estudos, tem sido, em casos raros porém altamente expressivos, o ponto de partida de escolas e universidades. Isso porque a dinâmica de uma biblioteca se enriquece dia a dia: é, ao mesmo tempo, uma fonte de bibliografia e uma instituição de consulta e pesquisa. Habitualmente promove cursos, conferências, exposições, seminários, publicações. Ao acervo de livros, outros departamentos se juntam, como os de revistas, os de gravura, os de dispositivos, a discoteca e a filmoteca. Enfim, todos os veículos em que a cultura se perpetua, e através dos quais pode ser definida. Por vezes, a biblioteca inteligentemente dinamizada vale tanto ou mais que uma escola. Impõe-se, pois, considerar a biblioteca como exigência preliminar à existência de qualquer escola”. E, ainda, diz que “a organização, as instalações específicas, a relação entre estas e o numero de alunos e mestres, a bibliografia geral, as bibliografias especializadas, os técnicos e funcionários hão de ser considerados na apreciação de autorizações e reconhecimentos no tocante às bibliotecas”.

3.5 Bibliotecas especializadas ou de empresas

Nice Figueiredo (12), em artigo publicado, diz que: “as bibliotecas especializadas diferenciam-se por sua estrutura orientada ao assunto, uma vez que as organizações maiores nas quais se inserem, têm normalmente objetivos mais específicos que gerais. Distinguem-se também pelos tipos de pessoas de que são servidas: pessoas associadas às organizações mantenedoras e que têm interesses e habilidades especiais”.

Não podemos deixar de citar, também, Antonio Miranda (15) quando diz que: “o objetivo da biblioteca de empresa é de capacitar o indivíduo para que ele, bem informado, acompanhe a evolução tecnológica e científica e garanta, para a empresa, rendimento e produtividade em termos de qualidade e efetividade profissionais”.

Segundo os conceitos de biblioteca especializada preconizados por Nice Figueiredo e Antonio Miranda, deveríamos ter normas específicas sobre definição, características, funções e objetivos desse tipo de biblioteca, a exemplo do que acontece com a Special Libraries Association quando descreve os objetivos da biblioteca especializada.

3.6 Deliberação do Conselho Federal de Biblioteconomia

Voltando ao início da nossa indagação, nesse comentário “Definição de bibliotecas”: poderíamos aplicar a toda essa heterogeneidade de situações o mesmo critério? – ou, mesmo, identificar a todas sob a mesma denominação, no seu sentido legal? – ou, ainda, fazer as mesmas exigências a todas elas? Acreditamos que não.

Essa dificuldade existe na Lei 4084/62, pois o termo “biblioteca”, no texto legal, é carente de definição. Caberia, pelo menos, distinguir entre uma biblioteca como entidade autônoma e outra que é, apenas, uma coleção de textos para consulta, servindo em caráter suplementar a uma atividade principal. Mesmo no primeiro caso, uma biblioteca que seja, em si mesma, uma entidade, pode serão tão modesta que não se concebe exigir à sua administração um profissional qualificado.

A perfeita interpretação da regra contida nas alíneas “c” e “d”, do art. 6º., conforme redação da Lei 4082/62, exige atenção ao conceito de “bibliotecas” e de “serviços de documentação”. Essa cautela se impõe porque os vocábulos são mencionados em todas as disposições legais existentes, como referência às diretrizes para a fixação de exigências e qualificação profissional.

Daí chegamos à conclusão de que o dispositivo acima mencionado não é auto-aplicável, sendo ao contrário, carente de regulamentação ou interpretação que tenha validade normativa. Ora, a própria Lei 4084 consigna, na alínea “f”, do seu art. 15, como atribuição do Conselho Federal de Biblioteconomia, a de “expedir as resoluções que se tornem necessárias para a fiel interpretação e exceção da presente Lei”. Podemos citar, como exemplo, o final do art. 3º. da Lei 4084, que oferece um caso de exceção à regra geral contida no art. 2º., que exige a formação técnica específica para o exercício da profissão de bibliotecário. Essa exceção se refere aos casos dos “atuais ocupantes efetivos” da função de bibliotecário e documentarista na época da promulgação da Lei 4084. Como essa disposição compreendendo a norma da exceção não está muito clara, o Conselho Federal de Biblioteconomia solicitou a especialista no assunto, um parecer técnico-jurídico (14) sobre a interpretação da mesma. Esse parecer teve como resultado a Resolução do CFB nº. 131, de 21 de outubro de 1975 (5), que interpretou e definiu o campo de aplicação do art. 3º. da Lei mencionada e que deu solução aos processos referentes à questão.

Por que os Conselhos não continuam a adotar o mesmo critério, uma vez que a própria Lei manda?

Àquele órgão cabe, portanto, não a outro qualquer, persistindo a omissão regulamentadora do Poder Executivo, deliberar sobre o âmbito exato de aplicação da regra, não somente por ser esta lacônica, senão, também, por ser absolutamente impreciso o seu objeto.

4 Conclusão

Movimentam-se os bacharéis em Biblioteconomia para discutir a questão do mercado de trabalho do bibliotecário. Muito se tem dito a respeito. Quase tudo é lógico e pertinente à matéria. As soluções apontadas, se praticadas, não deixariam de melhorar, de alguma forma, a situação. Contudo, à evidência, as análises não aprofundam o tema, até o desejável. E, as saídas apontadas são parciais, portanto, insuficientes.

E, em primeiro lugar, vêm as graves seqüelas que o arbítrio deixou em nosso ordenamento jurídico, a partir da Lei 4084/62, que com o decorrer do tempo (20 anos), sem querer sofrer as naturais modificações de redação, tornou-se ultrapassada, permitindo que determinadas soluções fossem encontradas fora das normas regulamentadoras da profissão.

Outra questão importante é a da prevalência de atos emanados por órgãos diretivos. Onde estão as Resoluções dos Conselhos Federal e Regionais que deveriam suprir as lacunas existentes e interpretar o que não está claro? Esquecem esses Órgãos que os atos normativos por eles baixados têm força de lei quando suprem ou interpretam os claros de uma lei maior?

Apesar de estarmos com uma legislação omissa e que, apesar de insuficiente, o pouco que existe, ainda á inadequado, não devemos, contudo, perder o ânimo de lutar pelo que de direito nos pertence.

Do quadro singelamente traçado, decorre que o reencontro do profissional de Biblioteconomia com seu mercado real de trabalho depende de mudanças estruturais, mais do que simples medidas corretivas da conjuntura.

Referências bibliográficas

1 BRASIL. Leis, decretos, etc. Lei 4808, de 30 de junho de 1962. Dispõe sobre a profissão de bibliotecário e regula o seu exercício. Diário Oficial, Brasília, 2 jul. 1962. Seção I, Parte 1.

2 BRASIL. Leis, decretos, etc. Decreto 56.725, de 16 de agosto de 1965. Regulamenta a Lei 4084, de 30 de junho de 1962 que dispõe sobre o exercício da profissão de bibliotecário. Diário Oficial, Brasília, 19 ago. 1965. Seção I, Parte 1.

3 BRASIL. Consultoria Geral da República. Parecer 382-H, de 18 de agosto de 1966. A Lei 4084/62, não tornou privativo dos bacharéis em Biblioteconomia as funções de direção dos serviços de documentação. É aconselhável, entretanto, o recrutamento entre aqueles que tenham a qualificação de que trata a referida Lei. Diário Oficial, Brasília, 8 set. 1966. Seção I, Parte 1. (Observação: este parecer foi aprovado pela Presidência da República, em 2 de setembro de 1966 e encaminhado ao DASP em 8 de setembro de 1966.)

4 CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Anteprojeto de reforma da Lei 4084 de 30 de junho de 1962. Brasília, 1978.

5 CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Resolução 131, de 21 de outubro de 1975. Interpretação e definição do campo de aplicação ao art. 3º. da Lei Federal 4084/62. Diário Oficial, Brasília, 21 nov. 1975. Seção I, Parte II, p. 4288.

6 CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Comissão de Legislação e Normas. Parecer de 18 de agosto de 1971. Exigência de bibliotecário profissional para as bibliotecas dos estabelecimentos de ensino.

7 CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Indicação 20, de 8 de outubro de 1968. Constituição das bibliotecas nos processos de autorização e reconhecimento de escolas superiores ou de universidades. FEBAB. Boletim. São Paulo, 19 (5/6) : 58-63, maio/jun. 1969.

8 DIREÇÃO de biblioteca. Diário Popular, São Paulo, 16 abr. 1979.

9 DURO, Yvette Zietlow. Dimensão atual da biblioteca infanto-juvenil. Rev. Bras. de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, 12 (3/4) : 211-222, jul./dez. 1979.

10 ESCOLAS sem bibliotecas. O Estado de São Paulo, 4 out. 1981.

11 FEDERAÇÃO INTERNACIONAL de ASSOCIAÇÕES de BIBLIOTECÁRIOS. Seção de Bibliotecas Públicas. Normas para bibliotecas públicas; trad. de Antônio Agenor Briquet de Lemos. São Paulo, Quirón, Brasília, INL, 1976.

12 FIGUEIREDO, Nice. Serviços oferecidos por bibliotecas especializadas: uma revisão da literatura. Rev. Bras. de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, 11 (3/4) : 155-168, jul./dez. 1978.

13 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução à Ciência do Direito. São Paulo, Forense, 1976.

14 LACERDA, Paulo Rubens de Moraes. Parecer s.n., de 21 de abril de 1975. Bibliotecário – Exercício regular da profissão – A regra de exceção contida no art. 3º. da Lei Federal 4081/62: como interpretá-la e definir seu campo de aplicação. (Observação: não foi publicado. Este parecer foi oferecido ao CFB e uma vez aprovado pelo Plenário do Conselho foi transformado na Resolução CFB-131/75).

15 MIRANDA, Antonio. Informação na empresa: o papel da biblioteca. Rev. Bras. de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, 12 (1/2) : 67-88, jan./jun. 1979.

16 OLIVEIRA, Tereza da Silva Freitas. A biblioteca escolar no regimento comum das escolas estaduais de 1º. grau. Diário Oficial do Estado, São Paulo, 24 mai. 1978.

17 SÃO PAULO (Estado). Leis, decretos, etc. Decreto 10.623, de 26 de outubro de 1977. Aprova o Regimento comum das escolas estaduais de 1º. grau. Diário Oficial do Estado, São Paulo, 27 out. 1977.

18 SÃO PAULO (Estado). Leis, decretos, etc. Decreto 11.625, de 23 de maio de 1978. Aprova o Regimento comum das escolas estaduais de 2º. Grau. Diário Oficial do Estado, São Paulo, 24 mai. 1978.

19 SÃO PAULO (Estado). Leis, decretos, etc. Decreto 5.771, de 4 de março de 1975. Fixa a estrutura básica das escolas de 1º. e 2º. graus e regulamenta os artigos 11, 12 e 13 da Lei Complementar 114, de 13 de novembro de 1974. Diário Oficial do Estado, São Paulo, 5 mar. 1975

Original: ATIENZA, Cecília Andreotti. A legislação sobre bibliotecas no Brasil. Palavra-chave, São Paulo, n.1, p.15-18, 1982.

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DESIGN DE BIBLIOTECAS VIRTUAIS CENTRADO NO USUÁRIO

DESIGN DE BIBLIOTECAS VIRTUAIS CENTRADO NO USUÁRIO: a abordagem do "Sense-Making" para estudo de necessidades e comportamento de busca e uso de informação
Miguel Ángel Márdero
INTRODUÇÃO
Na área da Ciência da Informação, os estudos centrados no usuário podem se dividir em dois grupos, os tradicionais que examinam os sistemas apenas com base em características grupais e demográficas de seus usuários e os alternativos que estudam as características e perspectivas individuais dos usuários. A mudança neste campo de estudo, segundo Ferreira (1996, p.221-222), acontece no momento em que o enfoque deixa de ser sobre quem usa os sistemas de informação e com que freqüência, e passa a ser com que propósito os sistemas são utilizados e como eles efetivamente ajudam. Uma dessas abordagens alternativas tem sido o Sense-Making de Brenda Dervin (1989, 1993, 1994). O trabalho de Dervin procura identificar quais são os indicadores potenciais do comportamento de busca e uso da informação sob a ótica do usuário, prestando maior atenção as mudanças temporais e espaciais que ocorrem no cotidiano dos indivíduos.
I TÓPICO: estudos de necessidades, comportamento da informação e dos usuários
Segundo Dervin, as abordagens tradicionais de estudos de usuário estão baseados em certos mitos, que colocam os sistemas de informação como sendo estruturados herméticamente contendo unicamente informação e tecnologia. A informação é entendida como um produto fechado e estruturada em "tijolos de informação". Esses "tijolos" são transmitidos às pessoas dentro de um processo de comunicação pouco flexível. Para a Professora nesses estudos, os produtos de informação (artigos, livros, relatórios, fatos, etc.) são armazenados e achados pelos individuos de uma maneira aleatória. Os indivíduos são vistos como seres habituados a obter informação e pelo mesmo motivo obrigados a passar pelos sistemas de informação constituídos.
Baseados nesses mitos, todos os sistemas de telecomunicação também vêem aos usuários como tendo a obrigação de, no decorrer de sua vida, passar pelo ambiente das telecomunicações formado pelas regulamentações governamentais, os grupos de cidadãos organizados e as companhias produtoras de sistemas e redes de comunicação.
A expectativa de que os usuários terão a mesma capacidade organizativa que tem o sistema é comprovadamente um mito; um conjunto de idéias que produz comportamentos discordantes com as verdadeiras necessidades de informação de uma sociedade, e que ao mesmo tempo, produz teorias para explicar porque "as pessoas fracassam na suas tentativas de obter informações através dos sistemas constituídos".
Para Dervin (1989, p.230), as categorias com as quais têm-se tradicionalmente tratado de compreender como as pessoas usam a informação são insuficientes para cobrir os aspectos mais relevantes dos usuários, e em conseqüência evitam um acesso democrático as informações. O que ela propõe é um novo processo de comunicação.
Na percepção dos indivíduos, os sistemas de informação aparecem como uma ajuda nos momentos que precisam "dar sentido" ou resposta a seus questionamentos sobre o que pretendem fazer, onde querem chegar, como e porque agir de uma forma ou outra. O sistema somente terá resposta a essas perguntas quando for um sistema responsável do seu papel determinante para a interpretação da realidade dos individuos que compõem a sociedade em que o sistema está inserido.
II TÓPICO: a abordagem do 'Sense-Making'(o ato de fazer sentido) e a sua prática
Para exemplificar como o conhecimento do real no Ocidente é influenciado pelas nossas perspectivas ontológicas (da natureza das coisas e dos seres humanos) e epistemológicas (visões da natureza do conhecimento e padrões de avaliação do conhecimento como informativo), a Profa. Dervin dividiu, em seis grupos de pressupostos, as abordagens que nas áreas das ciências e das humanidades tem tido como foco de discussão a informação. Os seis grupos "estereotipados" de pressupostos ontológicos e epistemológicos analisados foram: o do dogma/autoridade, o do naturalismo/empirismo/positivismo, o do relativismo cultural, o do constructivismo, o do post-modernismo, e o do sense-making baseado em algumas idéias do comunitarianismo (Dervin,1994 p.377).
O modelo do discurso teórico do Sense-Making foi apresentado como uma metodologia onde é permitido inventar opções para interpretar e analizar o fenômeno da informação; a metodologia parte de certos presupostos sobre o fenómeno, como o de que a informação ser um meio e não um fim. Para Dervin todas as outras perspectivas do conhecimento são válidas, como passos a ser percorridos para o entendimento da realidade, uma realidade composta de ordem e caos, estabilidade e desestabilidade, hábito e mudança, mas, que em qualquer delas existe a necessidade de informação. Até para aqueles que são capazes de ver a falta de acesso efetivo à informação, a construção de um mundo informado nunca poderá cobrir toda a riqueza e complexidade da diversidade da existência humana. Mas, geralmente, diversidade é entendida como caos e o sistema como ordem, ou seja, o oposto da diversidade.
A estratégia proposta pela abordagem do Sense-Making, parte da idéia básica de que nós humanos temos a capacidade de nos entender mutuamente apesar de cada um de nós ver as coisas desde pontos de vista diferentes. Isto leva ao pressuposto de ter-se no mínimo duas possibilidades para tudo. Para o Sense-Making as pessoas procuram informação quando estão em um "gap" ou quando estão em uma situação de mudança ou caos, em outras palavras, quando não têm respostas claras ou estão tratando de "fazer sentido". Para cruzar esse "gap" as pessoas constroem "pontes", quer dizer, respostas tentativas frente ao que não apresenta ter uma resposta clara. Mesmo dos pontos de vista diferentes sobre a mesma coisa precisam de um enorme componente de flexibilidade para ter uma resposta aceita mutuamente.
A Professora chamou a atenção para a enorme flexibilidade que os novos meios de comunicação possuem e que ainda continuam pouco explorados para benefício dos usuários. Os novos sistemas eletrônicos agilizam a informação em quantidades e velocidade inimagináveis através do espaço, mas as evidências mostram que os responsáveis por esses sistemas continuam fazendo as coisas da mesma maneira que nos sistemas tradicionais de informação, isto é, se perpetua a percepção de que as pessoas são ineptas a atuar frente à estrutura de informação estabelecida. No ciberespaço, o uso da metodologia do Sense-Making pode ajudar a revelar o potencial que está na realidade dos usuários e que pela reprodução dos sistemas não centrados no usuário pode deixar ainda encoberta.
O trabalho dos profissionais da informação é o de lidar com sistemas de informação que deveriam ter respostas para todas as necessidades dos usuários. Por esse motivo duas perguntas básicas dentro da metodologia do Sense-Making são: qual é o "gap" que está querendo se cobrir? e o que conduz a pessoa para esse ou aquele raciocínio? O reconhecimento da importância dessas questões surge depois de ter-se comprovado que é necessário usar os fatos para organizar a realidade e dessa maneira colocar a informação dentro do seu contexto. Os fatos devem estar sempre ligados a um contexto; se as pessoas olham para a informação através do seu contexto, a realidade pode ficar um pouco mais compreensível, no mínimo, no momento-espaço em que os fatos acontecem.
O profissional da informação deve ser capaz de saber fazer a pergunta que leve ao ponto central do assunto. Nos estudos que usaram a metodologia do Sense-Making aparece claramente, como as respostas a esse tipo de questões podem-nos levar a compreender como as pessoas "dão sentido" à realidade do seu trabalho e nos sistemas de informação que utilizam.
Basicamente, as entrevistas feitas dentro dos estudos de Sense-Making das necessidades de informação de diferentes categorias de usuários têm como característica perguntas que fazem referência a algum dos quatro momentos que formam a "metáfora do Sense-Making": situação, "gap", ponte (bridge), ajuda (help), representados da seguinte maneira: S B H G
A proposta é pensar as situações como forma de movimento no tempo e no espaço; primeiro tem que se localizar o interlocutor detido em alguma das chamadas pela professora Dervin de "situation movement stops" e tentar saber porque parou nela. A resposta à questão de porque a pessoa parou nessa "situação-movimento" pode ajudar ao sistema de informação na sua própria tomada de decisões.
Alguns desses momentos "situação-movimento-parada" são:
esperando enrolando
passando o tempo obstaculizando
problematizando sendo levado
decidindo fracassando
paralizando mexendo
observando desfrutando

A perspectiva que o Sense-Making oferece para entender os processos de informação/comunicação tem como elemento principal o movimento, onde as entidades e os estados tornam-se processos e dinâmicas, transformando os substantivos que identificam essas entidades/estados em verbos que indicam algum tipo de movimento.
O método de ir sempre na procura do "gap" ou da ponte entre a situação e a ajuda significa olhar para a situação problemática como um momento de decisão, onde a resposta a nossas perguntas vão ser sempre expressar confusão, idéias, emoções, sentimentos, perguntas e conclusões. A linearilidade da narrativa não deve ser o fator que determine a nossa percepção das situações. A Professora Dervin mostrou como, pelo fato do profissional da informação deixar de impor uma linearilidade na narrativa do seu usuário, as ações descritas conterão outra interconexão que poderá ajudar ao próprio usuário na construção de suas "pontes" ou idéias formadas.
As considerações acima podem ser muito úteis no momento de coleta de dados, com usuários de sistemas de informação que estão atualmente em serviço. Em qualque tipo de entrevista, tanto individual como em grupo, o procedimento pode se iniciar na narração da última vez que tiveram acesso ao sistema; a atividade do entrevistador nesse momento deve ser a de tentar identificar três partes do triângulo: a situação (o que está se manifestando), o "gap" (aquilo sobre o qual se deseja ter uma resposta) e a ajuda (o que você pode fazer).
O instrumento de ajuda básico para a pesquisa de usuário no Sense-Making é a entrevista do "micro-momento" (Dervin, 1986), essa entrevista é formada por três passos básicos que precisam estar sob o controle do entrevistador e do entrevistado:
1º narração de eventos ordenados no tempo ou sem ordenar,
2º expressão de confusões, idéias, emoções, sentimentos, perguntas e conclusões,
3º as respostas a perguntas tais como: - o que ajudou você nesse momento? - o que levou você a essa conclusão? - quais conexões você percebe? - como você quer ser ajudado agora?
As perguntas realizadas durante a entrevista dão lugar a muitas repetições, mas como a Professora Dervin mostrou, cada resposta obtida, diferente da obtida na pesquisa demográfica, tem contida a visão do mundo do entrevistado e, se no lugar de criticar ou corrigir, o entrevistador organiza a fala em triângulos (situação/gap/ajuda), obterá não unicamente o registro das emoções mas também elementos para o desenho de uma base de dados sobre as necessidades de informação de um determinado tipo de comunidade.
III TÓPICO: o Sense-Making para as bibliotecas virtuais
Entre as múltiplas aplicações do Sense-Making estão o desenho de:
- sistemas de informação,
- sistemas expertos,
- software de testagem,
- software de interface,
- sistemas de recuperação,
- bibliotecas virtuais.
Para esta última, os idealizadores devem ter claro como uma interface eletrônica pode ajudar a resolver necessidades de diferentes categorias de indivíduos. Em primeiro lugar, o desenho das páginas deve conter diálogos baseados na metodologia do Sense-Making, ou seja, conseguir fazer que a pessoa participe de uma entrevista claramente articulada para obter informações que sejam para o seu beneficio.
Entretanto, é evidente que toda situação de obtenção de informação contém algum índice de stress, e é por esse fato que a recomendação da Dra. Dervin é que as perguntas a serem formuladas reproduzam um fidedigno interesse de escutar o que o usuário tenha para dizer.
As perguntas podem aparecer em qualquer lugar das páginas, desde o momento em que a pessoa entra na biblioteca virtual até, o momento de sua saída. Recomenda-se que os ícones sejam utilizados como orientadores do que pode ou não estar indo bem ou sendo um obstáculo para o visitante. Todas as respostas devem ser codificadas para mais tarde serem convertidas em uma base de dados que informe sobre as necessidades reais de informação dos usuários.
Frente a questão de como ter sobre o sucesso ou fracasso da utilização dessa prática na obtenção de dados que possam ajudar a dar um melhor serviço, a professora Dervin afirmou que esse resultado pode ser avaliado quando o usuário afirmar que se está fazendo algo útil para ele.
Quando se realiza uma pesquisa do tipo Sense-Making com pessoas que utilizam bases de dados computarizados não se deve perguntar diretamente pelas emoções, o entrevistador deve ser capaz de identificá-las nas respostas recebidas. Todas as respostas podem ajudar a criar um novo desenho de biblioteca virtual que utilize as vantagens do hipertexto e da livre busca de informação sem criar maior confusão.
O que existe atualmente na Internet é a reprodução da tradicional estrutura de sistemas de informação com textos, imagens e botões dos quais o usuário depende para fazer sua pesquisa mais amena mas isso, em realidade, vai depender mais da rapidez e precisão do sistema acessado na recuperação da informação solicitada.
Dervin propõe que para algumas áreas de pesquisa como Ciência e Tecnologia, em função de sua complexidade e multiciplinariedade, incremente-se nas bibliotecas virtuais um lugar onde as pessoas possam fazer comentários sobre os documentos acessados, para que os demais usuários também possam ler e opinar a seu respeito. O "design" de um lugar onde as pessoas possam trocar opiniões pode ser um meio de mostrar aos usuários que o sistema, não simplesmente se preocupa com o acesso aos documentos, mas promove o intercâmbio e diálogo interdisciplinar.
Para Dervin, um bom inicio é a realização de ligações telefônicas sistemáticas aos usuários a fim de registrar suas opiniões e mais tarde divulgá-las on-line; dessa forma os usuários irão acostumando-se a saber que no sistema tem "alguém" ouvindo. Isto superaria as barreiras encontradas na administração das chamadas "áreas de sugestões" onde as pessoas simplesmente escrevem sugestões de rotina, sem nenhum conteúdo que possa levar a determinar o seu verdadeiro interesse. Não se trata de fazer um tipo de "relações públicas" mas de permitir uma autêntica intervenção humana que modifique a forma como as relações sociais estão sendo estabelecidas pelo avanço tecnológico na nossa época.
Por último, a professora Dervin expôs o fenômeno que ocorre atualmente nos Estados Unidos na área das bibliotecas virtuais. No setor público, o governo americano investiu um grande orçamento na edificação de dez grandes bibliotecas virtuais através da National Science Foundation Digital Library Iniciative, mas ele agora esta preocupado por não saber quem vai sustentar essas bibliotecas quando a verba da Iniciativa acabar, pois aparentemente não existe um público definido que possa arcar com as despesas.
CONCLUSÃO
Deve-se reconhecer a importância desta abordagem, pelo fato de encaminhar os estudos de usuário para uma compreensão mais humanista dos sistemas de informação, e por propor que esteja sempre em primeiro lugar a procura por conhecer melhor o usuário. Algumas das suas propostas fazem parte dos princípios teóricos da psicologia e da lingüística cognitiva.
A discussão proposta pela professora Devin sobre a necessidade de tornar o sistema de informação mais flexível, aceitando as diferenças, e construir assim um sistema mais responsável e democrático, coloca o usuário definitivamente como o agente que através de suas necessidades pessoais deve definir o sistema, fazendo dele algo realmente útil.
A abordagem de sense-making chama a atenção para a importância de que exista um diálogo aberto entre a iniciativa privada e a pública para estabelecer um respaldo mútuo aos trabalhos que vêm sendo feitos na área das bibliotecas virtuais, reafirmando a necessidade de que exista em todos os envolvidos na estruturação dos novos sistemas de informação um pouco mais de entendimento sobre as necessidades reais dos usuários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DERVIN, B.; DEWDNEY, P. (1986). Neutral Questioning: a new approach to the reference interview. RQ, p. 506-513.
DERVIN, B. (1989). Users as research inventions: how research categories perpetuate myths. Journal of Communication, v. 39, n. 3, p. 216-232.
DERVIN, B.; CLARK, K. D. (1993). Communication and democracy: a mandate for procedural invention. In: SPLICHAL, S.; WASKO, J. ed. Communication and Democracy. Norwwod, NJ: Ablex, p. 103-140.
DERVIN, B. (1994). Informação<->Democracy: an examination of underlying assumptions. Journal of the American Society for Information Science, v. 45, n. 6, p. 369-87.
FERREIRA, Sueli Mara S. P. (1996). Novos paradigmas da informação e novas percepções do usuário. Ciência da Informação, Brasília, v. 25, n. 2, p.217-223, maio-agosto 1996.

Design de biblioteca virtual centrado no usuário: a abordagem do Sense-Making para estudos de necessidades e procedimentos de busca e uso da informaçã

Design de biblioteca virtual centrado no usuário:
a abordagem do Sense-Making para estudos de necessidades e procedimentos de busca e uso da informação*
Sueli Mara S. P. Ferreira
Resumo
Analisa a abordagem do Sense-Making na busca e uso da informação.
Palavras-chave
Biblioteca virtual; Biblioteca eletrônica; Biblioteca digital; Design; Sense-Making.





INTRODUÇÃO

Falar de bibliotecas virtuais, tanto quanto de redes de comunicação, esbarra em uma questão básica: quem são os atuais usuários da rede e dos sistemas de informação? Como e por que os estão utilizando? Quais suas características? E, principalmente, como projetar sistemas e serviços que efetivamente satisfaçam a atual demanda?

Estudos recentes sobre uso das atuais tecnologias emergentes têm evidenciado que a tendência de comportamento dos usuários é buscar, cada vez mais, serviços: a) interativos, ou seja, que utilizem todos os recursos tecnológicos disponíveis para estimular e promover a participação da clientela, tanto na utilização como na produção e avaliação das informações a serem inseridas nos próprios serviços de informação que lhe estão sendo oferecidos; b) personalizados e contextualizados, o que significa: serviços comprometidos com grupos específicos de comunidades, tratando de identificar suas necessidades intrínsecas, "customizando", ou seja, personalizando produtos e serviços em função de pessoas ou grupos, e ainda tratando de contextualizar a informação (fornecer elos de compreensão para o usuário); c) relevantes com valor agregado, isto é, que venham ao encontro das expectativas e conveniências do consumidor, sendo muito questionada a vital importância da manutenção de diálogos constantes entre provedor e consumidor de informações.

Uma análise destes três aspectos nos leva a um repensar sobre o próprio conceito de informação. Vale refletir que qualquer informação só tem sentido quando integrada a algum contexto. A informação por si só se constitui em um dado incompleto, é o indivíduo que lhe atribui sentido a partir de suas experiências passadas e interesse futuro.

O ser humano raramente busca informação com um fim em si mesmo. Ao contrário, ela é parte de um processo de tomada de decisão, solução de problemas e/ou alocação de recursos. Portanto, qualquer tentativa de descrever padrões de busca de informação deve admitir o indivíduo como o centro do fenômeno e considerar a visão, necessidades, opiniões e problemas desse indivíduo como elementos significantes e influentes que merecem investigação, quer seja para o desenvolvimento de produtos e serviços em ambiente eletrônico, ou não.

As tecnologias emergentes oferecem oportunidades para melhorar o gerenciamento de informações, os serviços e a colaboração interna e externa, bem como de oferecer serviços de acordo com a conveniência dos usuários traduzindo relevantes informações. Para isto, todavia, é exigido atualmente que o planejamento de toda e qualquer atividade de informação seja feito com base em pesquisas centradas no indivíduo, partindo-se de uma perspectiva cognitiva, buscando interpretar necessidades de informação tanto intelectuais como sociológicas.

Sense-Making Approach

Dentre as atuais metodologias de estudos de usuários, a mais completa e abrangente, com grande número de adeptos em todo o mundo, é a abordagem intitulada Sense-Making Approach, apresentada ao público em maio de 1983 pela professora doutora Branda Dervin**, na International Communications Association Annual Meeting, em Dallas/TX/USA.

Como consiste na pontuação de premissas teóricas e conceituais e outras tantas metodologias relacionadas, a abordagem Sense-Making se propõe avaliar como pacientes/audiências/usuários/ clientes/cidadãos percebem, compreendem, sentem suas interações com instituições, mídias, mensagens e situações e usam a informação e outros recursos neste processo. Tem, portanto, como foco o fenômeno do Sense-Making***.

Ao definir, amplamente, em termos de uma série de suposições ontológicas e epistemológicas, como a atividade humana de observações, interpretação e compreensão do mundo exterior, inferindo-lhe sentidos lógicos, advindos do uso dos esquemas interiores, Dervin define essa atividade tanto como um comportamento interno (cognitivo), como externo (atitudes, reações em face do meio social) que permite ao indivíduo construir e projetar seus movimentos, suas ações através do tempo e espaço. A busca e uso de informação, portanto, é central para tal atividade.

A base conceitual do Sense-Making foi desenvolvida com suporte na teoria de vários estudiosos, como Bruner & Piaget (cognição), Kuhn & Habernas (constrangimento das ciências tradicionais e alternativas), Ascroft; Beltran & Rolins (teórica crítica), Jackins & Roger (teoria psicológica) e principalmente em Carter, teórico da comunicação, afirmando que o homem cria idéias para transpor as lacunas que lhes são apresentadas em decorrência da descontinuidade sempre presente na realidade.

Dervin e seus seguidores têm verificado a crescente adoção desta abordagem, tanto nas áreas de comunicação, informação e biblioteconomia, como na educação, assistência social, psicologia, medicina e outras. Tem sido empregada em estudos desenvolvidos com amostras desde 20 a cerca de 1000 elementos - principalmente teses de doutoramento, pesquisas acadêmicas, projetos encomendados e estudos empíricos. De maneira geral, as aplicações abrangem grande variedade de contextos (em pesquisas de opinião pública sobre política, processos de comunicação na área de saúde, estudos acerca de imagens organizacionais, recepção de audiência e, recentemente, sobre uso de telecomunicações) e a uma variedade de níveis analíticos (individual, grupal, organizacional, comunitário, cultural).

Workshop - "Design de bibliotecas virtuais centrado no usuário"

Reunindo estes três grandes temas - Design de Bibliotecas Virtuais, Estudos de Necessidades de Informação e o Sense-Making Approach -, foi projetado o workshop Design de Bibliotecas Virtuais Centrado no Usuário: a abordagem do Sense-Making para estudo de comportamento e busca e uso de informação.

Ministrado pela professora Brenda Dervin, no período de 17 a 21 de março de 1997, teve como proposta apresentar e discutir usos e implementações de abordagens sistêmicas interpretativas para estudos de usuários e parâmetros norteadores para o design e avaliação de bibliotecas virtuais, partindo dos resultados obtidos com tais estudos. O respaldo metodológico de todo o workshop foi a abordagem do Sense-Making.

Com vistas a identificar pares, motivar estudos e criar uma massa crítica sobre o tema em nível nacional, o Grupo de Trabalho sobre Biblioteca Virtual do Comitê Gestor Internet-Brasil, em seu Programa de Capacitação Docente, promoveu a participação de representantes de cada uma das Coordenadorias Regionais da Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação (ABEBD) e de cada um dos cursos de pós-graduação vinculados à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (Ancib).

Os 16 docentes beneficiados com este programa assumiram, em contrapartida, a responsabilidade de difundir e servir de veículo multiplicador de informações à comunidade de sua região e/ou instituição. Mais adiante, encontram-se relacionados os seminários de divulgação já promovidos e/ou agendados com o objetivo de atender este compromisso.

Identificação dos participantes

Embora o número de vagas tenha sido delimitado a 40, a grande procura acarretou o número de 57 participantes, 42 fixos e 15 freqüentando apenas sessões esporádicas.

Entre estes, encontram-se professores universitários (a maioria), representantes de associações de classe, bibliotecários de sistemas de informação e analistas de sistema. As linhas de atuação e especialidade dos participantes são as seguintes: controle bibliográfico; representação; indexação; serviço de referência, ciência da informação; ensino de biblioteconomia; automação; ciência da computação; metodologia de pesquisa; terminologia; informação para educação; informação para biblioteconomia; administração de bibliotecas; administração de recursos humanos; planejamento estratégico; bibliotecas digitais; gestão da qualidade; editoração eletrônica; bibliotecas públicas; bibliotecas escolares em ciência e tecnologia; informação em novas tecnologias; epistemologia; antropologia; estatística; novas tecnologias aplicadas à educação.

Metodologia e programa de trabalho

Os trabalhos da semana foram organizados de maneira a que todas manhãs fossem dedicadas a revisões teóricas dos temas específicos do programa, utilizando-se do recurso de tradução consecutiva, e as tardes a atividades em grupo com exercícios práticos, leituras, reflexão sobre temas específicos e avaliações.

O programa de trabalho contemplou os seguintes tópicos:

• Necessidades e busca de informação: conceitos. Foco nos aspectos filosóficos e metodológicos relacionados a estudos de necessidade, comportamento da informação e dos usuários.

• O processo de "produzir sentido" (Sense-Making). A abordagem do Sense-Making: a história de seu desenvolvimento teórico, aspectos filosóficos de suas aplicações para estudos de usuários, necessidade, busca e uso da informação. A metáfora gapbridging. Definição de conceitos como tempo, espaço, poder, motivação, restrições e, ainda, aplicação destes conceitos para se compreenderem os usuários.

• Como projetar estudos utilizando a abordagem do Sense-Making. Comparação entre as práticas de pesquisa. Os aspectos de continuidade dos estudos de usuários versus desenvolvimento tecnológico constante.

• Coleta de dados, utilizando a teoria do Sense-Making para desenvolver entrevistas para pesquisa específicas. Tipos de entrevistas: micromoment timeline, abbreviated time-line, focus group, time-spanning, help chainging, com o emprego da teoria para guiar a prática da entrevista.

• Prática: como aplicar resultados de estudos de usuários para a projeção de sistemas de informação e bibliotecas virtuais.

Avaliação final

Em conjunto com a professora Brenda Dervin e utilizando a bordagem do Sense-Making, foi elaborado um instrumento de avaliação para ser preenchido pelos participantes em diferentes etapas do workshop. Este instrumento, distribuído logo no primeiro dia e disponível permanentemente aos interessados em enviar sugestões e comentários, foi aplicado em dois momentos específicos: no terceiro dia de atividades, objetivando uma análise pontual de um dos tópicos em discussão e, ao final da semana, visando a uma avaliação global. Os dados compilados com esses formulários estão disponíveis no endereço: URL: http://www.eca.usp.br/eca/prof/sueli/workshop.htm

De maneira geral, pode-se afirmar que o workshop atingiu seus propósitos de incitar reflexões sobre os usuários de bibliotecas virtuais a um grande grupo de profissionais, divulgar a abordagem do Sense-Making, cultivar adeptos, iniciar atividades e trabalhos cooperativos com outras instituições. Vários são os fatores que levam a esta constatação. Por um lado, tem-se a expressiva demanda, a dispersão geográfica dos participantes, as entidades representadas e, principalmente, o alto nível de companheirismo e espírito de grupo que uniu os participantes durante toda a semana. Sem dúvida, essa união - cujo mérito é todo da estimulante professora Brenda - favoreceu os excelentes resultados obtidos. Por outro lado, no curto espaço de três meses que sucederam o workshop, um grupo de pesquisa já foi constituído, uma lista de discussão eletrônica está em vias de ser implementada e vários seminários já foram promovidos e/ou agendados pelos participantes docentes para repasse das informações obtidas. São eles:

• Seminário ABEBD da região Sudeste. São Carlos, 08 de maio de 1997. Palestra - A Abordagem do Sense-Making. Proferida pela professora Elizabeth Márcia Martucci da UFSCar.

• Seminário Globalização, informação e desenvolvimento humano sustentável: um desafio para os profissionais da informação e da comunicação. Goiânia-GO, 01 a 04 de junho de 1997. Promoção da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás.

• Palestra - Estudos de usuários e a abordagem do Sense-Making. Proferida pelo professor doutor Eduardo J. W. Dias da UFMG, como representante do Grupo Centro-Oeste da ABEBD.

• Seminário Globalização, informação e desenvolvimento humano sustentável: um desafio para os profissionais da informação e da comunicação. Goiânia-GO, 01 a 04 junho de 1997. Promoção da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás.

• Palestra - Os periódicos eletrônicos como caso de Sense-Making. Proferida por Sueli Gomes do IBICT.

• VI Encontro de Cursos de Biblioteconomia da Região Sul da ABEBD. Florianópolis-SC, 12 a 14 de junho de 1997.

• Palestra - Design de bibliotecas virtuais centrado no usuário: a abordagem do Sense-Making para estudo de necessidades e comportamento de busca e uso da informação. Proferida pela professora Maria Lourdes Blatt Ohira - Udesc.

• Encontro de Cursos de Biblioteconomia da Região Leste. Niterói, 25 a 27 de junho de 1997. Palestra - Sense-Making, proferida pela professora Sandra Rebel da UFF.

• Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação. Simpósio sobre formação e desempenho profissional no âmbito da biblioteconomia no Mercosul. São Luís, MA, 24 a 31 de julho de 1997. Seminário: Abordagem do Sense-Making na Pesquisa em Biblioteconomia. Proferida pela professora doutora Sueli Mara S.P. Ferreira.

• Seminário na Universidade Federal do Paraná, previsto para agosto de 1997, a ser proferido pela professora Patrícia Zeni Marchiori.

• Seminário na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, previsto para setembro de 1997, a ser proferido pela professora Jussara Santos.





User-centered design of virtual library: the Sense-Making approach to study the information needs seeking and use
Abstract
The article analyses the aspects of Sense-Making approach in the search and use of information.
Keywords
Virtual library; Electronic library; Digital library; Design; Sense-Making.





Sueli Mara S. P. Ferreira

Professora doutora do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
smferrei@usp.br




* Relatório do workshop promovido pelo Departamento de Biblioteconomia e Do-cumentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com apoio do Grupo de Trabalho sobre Biblioteca Virtual do Comitê Gestor Internet-Brasil, de 17 a 21 de mar-ço de 1997, sob coordenação da professora doutora Sueli Mara S.P. Ferreira. Informações adicionais em: URL: http://www.eca.usp.br/eca/prof/sueli/workshop.htm
** Professora titular no Departamento de Comunicações da Ohio State University. Foi professora da Escola de Comunicações da University of Washington e na School of Information Transfer da Syracuse University. Recebeu seu Ph.D. em Comunicações pela Michigan State University. Antiga presidente e agora membro honorário da ICA/International Communication Association. Concentra suas pesquisas em necessidades de informação, procedimentos de busca e uso da informação, comunicação/informação e democracia, design de sistemas de informação no usuário, teoria de comunicação, aplicações filosóficas e culturais de comunicação/informação. Foi a autora mais citada nos últimos dois anos, segundo estudos feitos no Social Science Citation Index.
*** Conforme mensagem eletrônica, recebida recentemente da professora Brenda Dervin, seu grupo de seguidores instituiu, desde final do ano de 1994, o uso de letras maiúsculas para se referir à abordagem e minúsculas para o fenômeno.

Design de biblioteca virtual centrado no usuário: a abordagem do Sense-Making para estudos de necessidades e procedimentos de busca e uso da informação *

INTRODUÇÃO Falar de bibliotecas virtuais, tanto quanto de redes de comunicação, esbarra em uma questão básica: quem são os atuais usuários da rede e dos sistemas de informação? Como e por que os estão utilizando? Quais suas características? E, principalmente, como projetar sistemas e serviços que efetivamente satisfaçam a atual demanda? Estudos recentes sobre uso das atuais tecnologias emergentes têm evidenciado que a tendência de comportamento dos usuários é buscar, cada vez mais, serviços: a) interativos, ou seja, que utilizem todos os recursos tecnológicos disponíveis para estimular e promover a participação da clientela, tanto na utilização como na produção e avaliação das informações a serem inseridas nos pró- prios serviços de informação que lhe estão sendo oferecidos; b) personalizados e contextualizados, o que significa: serviços comprometidos com grupos específicos de comunidades, tratando de identificar suas necessidades intrínsecas, “customizando”, ou seja, personalizando produtos e serviços em fun- ção de pessoas ou grupos, e ainda tratando de contextualizar a informação Design de biblioteca virtual centrado no usuário: a abordagem do Sense-Making para estudos de necessidades e procedimentos de busca e uso da informação * Sueli Mara S. P. Ferreira (fornecer elos de compreensão para o usuário); c) relevantes com valor agregado, isto é, que venham ao encontro das expectativas e conveniências do consumidor, sendo muito questionada a vital importância da manutenção de diálogos constantes entre provedor e consumidor de informações. Uma análise destes três aspectos nos leva a um repensar sobre o próprio conceito de informação. Vale refletir que qualquer informação só tem sentido quando integrada a algum contexto. A informação por si só se constitui em um dado incompleto, é o indivíduo que lhe atribui sentido a partir de suas experiências passadas e interesse futuro. O ser humano raramente busca informa- ção com um fim em si mesmo. Ao contrário, ela é parte de um processo de tomada de decisão, solução de problemas e/ou alocação de recursos. Portanto, qualquer tentativa de descrever padrões de busca de informação deve admitir o indivíduo como o centro do fenômeno e considerar a visão, necessidades, opiniões e problemas desse indivíduo como elementos significantes e influentes que merecem investigação, quer seja para o desenvolvimento de produtos e serviços em ambiente eletrônico, ou não.