sexta-feira, 29 de maio de 2015

10 dicas para incentivar o seu filho a ler

Conheça atividades simples - e baratas! - que podem transformar seu filho em um pequeno grande leitor

Foto: Leitura desde cedo: incentive seu filho a ter amor pelos livros01/11/2013 17:22
Texto Marina Azaredo

Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava em um outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro." O relato é de Lygia Bojunga. Quando criança, ela fazia do livro um brinquedo. Já adulta, transformou-se em uma das principais escritoras brasileiras de livros infantis. A história de Lygia ilustra e comprova a teoria de que o contato com os livros desde cedo é importante para incentivar o gosto pela literatura.
1808Especial Importância da Leitura 
Ler é um hábito poderoso que nos faz conhecer mundos e ideias. Descubra a importância da leitura para todas as idades!

Os benefícios da leitura são amplamente conhecidos. Quem lê adquire cultura, passa a escrever melhor, tem mais senso crítico, amplia o vocabulário e tem melhor desempenho escolar, dentre muitas outras vantagens. Por isso, é importante ler e ter contato com obras literárias desde os primeiros meses de vida. Mas como fazer com que crianças em fase de alfabetização se interessem pelos livros? É verdade que, em meio a brinquedos cada vez mais lúdicos e cheios de recursos tecnológicos, essa não é uma tarefa fácil. Mas pequenas ações podem fazer a diferença.

"O comportamento da família influencia diretamente os hábitos da criança. Se os pais leem muito, a tendência natural é que a criança também adquira o gosto pelos livros", afirma Rosane Lunardelli, doutora em Estudos da Linguagem e professora Universidade Estadual de Londrina (UEL). A família tem o papel, portanto de mostrar para a criança que a leitura é uma atividade prazerosa, e não apenas uma obrigação, algo que deve ser feito porque foi pedido na escola, por exemplo. "As crianças precisam ser encantadas pela leitura", diz Lucinea Rezende, doutora em Educação e também professora da UEL.

Para seduzir pela leitura, há diversas atividades que os pais e outros familiares podem colocar em prática com a criança e, assim, fazer do ato de ler um momento divertido. No período da alfabetização - antes dela e um pouco depois também -, especialistas sugerem que se misture a leitura com brincadeira, fazendo, por exemplo, representações da história lida, incentivando a criança a criar os próprios livros e pedindo que a criança ilustre uma história. "Para encantar as crianças pequenas, é essencial brincar com o livro", recomenda Maria Afonsina Matos, coordenadora do Centro de Estudos da Leitura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Maria Afonsina também dá uma dica: nunca reclame dos preços dos livros diante do seu filho. "O livro precisa ser valorizado", diz ela.
Faça o teste!Você ensina seu filho a gostar de ler? 
Saiba se você contribui para que seu filho se torne um bom leitor.
Leia a seguir dicas para transformar o seu filho em fase de alfabetização em um pequeno grande leitor:

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Inovação em Biblioteconomia

Tablets, celulares e e-readers estão mudando o hábito de leitura



A internet e toda a revolução tecnológica pela qual o mundo passa nesses últimos anos têm mudado o nosso comportamento em várias áreas e uma delas é a leitura. A literatura continua viva, mas o livro deixou de ser o único suporte. Tablets e os chamados e-readers, que são aqueles aparelhos eletrônicos de leitura, como o Kindle, Kobo ou Lev, tem ganhado mais adeptos. Até os smartphones podem ser um bom veículo de leitura.

E para conhecer tudo o que estes suportes podem oferecer para tornar a leitura ainda mais agradável, 10 bibliotecas municipais estão recebendo a oficina "Leitura e Hiperleitura no mundo digital.

A contadora de histórias e responsável pelas oficinas, Benita Prieto, conversou com o Arte Clube sobre o assunto e você acompanha a entrevista.Baixe o áudio clicando aqui.!

sexta-feira, 22 de maio de 2015

O JOGO DOS ERROS DE PORTUGUÊS

Jogos de portuguêsBrinqu


e neste jogo e evite 100 erros comuns da língua portuguesa


http://educarparacrescer.abril.com.br/100-erros/index.shtml?utm_source=redes_educar&utm_medium=facebook&utm_campaign=redes_educar

Lei de Acesso à Informação Letra morta em papel roto?

Por Alberto Perdigão, do Observatório da Imprensa
A Lei de Acesso à Informação, a número 12.527/11, está completando três anos de pleno vigor. Mas a festa não é da comunicação pública. A comemoração é só dos que não a desejam e não dão a conhecer a LAI; é dos que não a cumprem e não a fazem cumprir; é dos que a querem esquecida, letra morta em papel roto.
E são muitos os cidadãos e agentes públicos, em todo o país, que não querem a LAI. Talvez por desconhecerem a lei, no que o diploma oferece de ferramentas de informação, de expressão e de diálogo, condições para o fortalecimento do Estado e para a legitimação dos governos. Ou, exatamente, por conhecerem a lei e sentirem nela uma “ameaça”.
Observa-se com frequência um alto grau de desconhecimento da LAI, mesmo entre profissionais da comunicação, da gestão pública e do Direito. E, não raro, verifica-se a ignorância (sentido literal) entre os agentes públicos dos palácios, dos parlamentos e dos tribunais, do Ministério Público e órgãos de controle externo.
O resultado é o descumprimento quase generalizado da LAI, nos três Poderes da República e nas três esferas de governo. Para ficar só no Poder Executivo, tem-se que, na grande maioria dos municípios, não há lei local que assegure o direito à comunicação pública – como impõe a referida Lei Federal (Art. 45).
Na maioria dos estados e capitais, já há legislação própria. Mas o seu cumprimento ainda esbarra em muitas limitações de forma (ativa ou passiva, presencial ou virtual) e de conteúdo (quantidade e qualidade da informação). No caso dos sites da LAI, há problemas de acessibilidade, usabilidade e de utilidade dos dados.
A República da intransparência
Somem-se ao panorama adverso os fatos de que o Ministério Público, grosso modo, não vê o descumprimento da LAI na União e nos estados; o promotor da comarca, regra geral, não percebe a desobediência de prefeitos e presidentes de Câmaras; e os tribunais de contas dos estados e municípios não exigem dos ordenadores de despesas a transparência prevista.
É preciso enfrentar já a tradição brasileira do Estado solitário e da sociedade muda. É necessário instituírem-se políticas públicas que informem o cidadão e capacitem os agentes públicos sobre os benefícios da LAI, de forma a que ambos se apropriem da lei como um direito, que é de todos, e como uma oportunidade de mais diálogo e de melhor governança.
Do contrário, seguirá a festa na República da intransparência, das coisas públicas quase sempre escusas e quase sempre praticadas às escuras. E a cultura política, aquela da cidadania ativa e da democracia participativa, da participação e do controle social – sinto informar, caro leitor –, continuará barrada na porta.
Conheça a Lei de Acesso à Informação em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm

De bibliotecas e jardins : Como os antigos romanos prestigiavam a preservação da memória

Por Marisa Midori Deaecto, da Revista Brasileiros
“Se tem uma biblioteca com jardim, você tem tudo.” A passagem de Cicero (106 a.C.-43 a.C.) se situa em um contexto particularmente importante para a história da cultura romana. O próprio poeta organizara pelo menos duas coleções particulares. A primeira foi reduzida a brasas e a outra, ao que parece, sobreviveu ao seu patrono. É que as crises políticas e as guerras faziam sucumbir não apenas a energia dos homens, mas também seus livros.
Ocorre que Roma viveu nesse período um surto de bibliotecas. O modelo era Alexandria. Conhecemos a afeição especial que Julio Cesar (100 a.C.-44 a.C,) devotara a essa cidade brilhante, cravada às margens férteis do Nilo. Ele não ignorava a importância que a dinastia dos Ptolomeus devotara a esse projeto grandioso de conservar os melhores livros do mundo. Era conhecido o cuidado dos reis para com a coleção, as acomodações do edifício, seus bibliotecários e os gastos necessários para manter e fomentar as estantes (ou nichos) onde eram depositados os volumes. Da mesma forma, não se ignorava a generosidade com que remuneravam seus empregados e como recebiam os sábios com um lauto banquete.
Julio Cesar cobiçava Alexandria, o Museu, os livros e sua musa, Cleópatra (69 a.C.-30 a.C.). Mas não descuidava de Roma e de sua vida cultural. Pretendera implantar na capital latina uma biblioteca pública, seguindo o modelo alexandrino. Nomeara Cicero como mentor intelectual do projeto. A ideia vingaria mais tarde, noutra conjuntura. Pouco importa. Na verdade, salta aos olhos a preocupação de um homem belicoso, figura política de grande proa e de pretensões imperiais, com uma instituição destinada a prover os cidadãos de boa leitura. Pois era disso que se tratava. É certo que as bibliotecas gozavam nesse momento de uma aura elitizada, senão hedonista. Jardins e bibliotecas se compunham dentro das mansardas de romanos endinheirados. Dirá Seneca (4 a.C.-65 a.C.), não sem um grau de despeito, que bibliotecas e termas eram ornamentos requisitados entre os novos ricos, muitos deles analfabetos. Havia, contudo, espaço para recintos mais austeros, nos quais a leitura era um fim, embora ela não dispensasse um jardim e boas companhias. A moda pegou tanto que, às vésperas de sua queda, em 476, Roma contava com 29 bibliotecas públicas.
O número não surpreende mais do que a certeza da vitória dos livros, estes mesmos que periclitaram noutros tempos. Durante a Alta Idade Média, por exemplo, as invasões assolaram as cidades, seus homens e seus livros, relegando bibliotecas opulentas a coleções mirradas, encerradas em mosteiros distantes. A ação desses estadistas da Antiguidade espanta ainda mais diante da constatação de que cidades brasileiras ainda são desprovidas de bibliotecas. Pior, muitas fecham. Morrem de inanição. Ao dissertar sobre a natureza do papiro, Plinio, o ancião (23-69) lembra que o “papel é essencial para o desenvolvimento da civilização, ao menos para fixar suas lembranças”. De forma análoga, pode-se dizer que quando se fecham as portas de uma biblioteca, portas da civilização ficam cerradas. O que resta? O vazio da lembrança.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Livros de colorir para adultos realmente alteram a atividade cerebral?



(Foto: Divulgação/Editora Sextante)
Esqueça os livros de autoajuda, “Cinquenta tons de cinza” e toda a coletânea de John Green.
A grande sensação do mercado editorial no momento é O jardim secreto: livro de colorir e caça ao tesouro antiestresse, da britânica Johanna Basford, lançado no Brasil pela Sextante no final do ano passado. O livro foi o terceiro mais vendido no país em março – mais de 22 mil exemplares no total, 14 mil só na última semana do mês.
O sucesso por aqui acompanha os números registrados em outros países: na Amazon, O jardim secreto é o mais vendido na categoria livros; na Amazon do Canadá, só perdeu o primeiro lugar para Floresta encantada, da mesma autora. E até a versão sul-coreana do livro ficou no topo da lista dos mais vendidos durante todo o mês de janeiro, segundo a Sociedade de Editores da Coreia. Várias editoras, em especial na Europa, têm apostado no gênero.
A inglesa Michael O’Mara Books começou a publicar livros para colorir em 2012, mas foi no ano passado que viu a moda pegar, com mais de 300 mil exemplares vendidos. “Já publicávamos livros de colorir para crianças, mas começamos a receber relatos de pais que também gostavam deles”, diz Ana McLaugh­lin, gerente de publicidade e marketing da editora.
Diferentemente dos livros infantis, os para adultos têm padrões mais complexos. Já os temas variam de jardins e mandalas a celebridades, como os da ilustradora Mel Elliot, também inglesa, que aposta em livros com desenhos de famosos (o do galã americano Ryan Gosling é um best-seller).
“Acredito que a tendência tenha começado com os livros interativos, como Destrua este diário, que fez muito sucesso. Desde então, as pessoas têm procurado uma forma de interagir com os livros e torná-los mais personalizados”, afirma Nana Vaz de Castro, gerente de aquisições da Sextante.
Há uma tese, porém, que por enquanto parece ser a mais aceita: a de que eles funcionam como uma espécie de “detox”, uma válvula de escape para rotinas estressantes. “É realmente relaxante porque, ao se concentrar em colorir direito ou na escolha das cores, a pessoa de fato parece esquecer os problemas do dia”, afirma McLaughlin. “Além disso, ainda tem a vantagem de que não dá para colorir e mexer no celular ao mesmo tempo.”
Beleza é fundamental
O sentimento de orgulho ou satisfação por completar a pintura e observar como ficou bonita também é outra explicação possível, já que os livros ativam o circuito de recompensa do cérebro, o sistema responsável pela sensação de prazer. Quando estimulado, ele libera dopamina, um neurotransmissor que provoca o sentimento de bem-estar (veja abaixo). “Mas não são todas as tarefas que ativam esse sistema, que se desenvolveu ao longo de milhões de anos para nos impelir a realizar ações úteis para a autopreservação e a preservação da espécie, como se alimentar e se reproduzir”, explica o neurologista Marino M. Bianchin, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Tudo o que envolve trabalho manual ou arte também estimula a criatividade e a concentração. Quando se trabalha com cores, o resultado é ainda melhor, já que elas podem provocar diversas sensações, como calor, frio e tranquilidade. Bianchin explica que isso é herança dos nossos ancestrais, que de tanto ver fogo, por exemplo, passaram a associar o vermelho ao calor.
Mas, embora causem uma sensação de prazer e bem-estar, os livros não podem ser encarados como terapia, conforme explicam os arteterapeutas Ana Carmen Nogueira e Alexandre Almeida. “Na arteterapia, há um assunto específico a ser trabalhado, e usamos diferentes linguagens, como pintura ou desenho, para que a pessoa possa se expressar”, diz Almeida. “Os livros de colorir não são terapia, mas são relaxantes porque ajudam a proporcionar um momento de pura concentração”, completa Ana Carmen. Ou seja, os livros podem até funcionar como um analgésico para situações de stress, mas não têm nenhum poder milagroso para curar problemas como depressão ou ansiedade – a não ser que você seja dono de uma editora e esteja faturando muito mais que o previsto graças à nova moda.
Ao vivo e em cores: Entenda por que colorir causa sensação de relaxamento
Livros de colorir
1. Ao observar que o desenho pronto ficou bonito, o sistema límbico do cérebro é ativado. Ele é responsável pelo controle de nossas emoções e tem papel importante na regulação do stress.
2. Dentro desse sistema, uma parte específica é responsável por proporcionar sensações de prazer: o circuito de recompensa. Ele começa na área tegmentar ventral (a), que transmite impulsos elétricos para o núcleo accumbens (b), parte central do circuito de recompensa. De lá, os impulsos seguem para o córtex pré-frontal (c), a parte responsável pelo planejamento de atividades.
3. Como não há contato físico entre os neurônios, os impulsos precisam de uma “ajudinha” para ser transmitidos de uma célula para outra. Essa ajuda é a dopamina, um neurotransmissor que transforma o impulso elétrico em sinal químico, possibilitando a transmissão. É a liberação da dopamina que causa a sensação de prazer.
Fonte: Galileu

Faber-Castell tem ano colorido graças aos livros de pintar


Caixas com 120 e 24 cores da Faber-Castell: empresa teve de aumentar produção para atender clientes (Foto: Divulgação/Faber-Castell)






















Caixas com 120 e 24 cores da Faber-Castell: empresa teve de aumentar produção para atender clientes (Foto: Divulgação/Faber-Castell)
Todos os anos, enquanto os pais se ajeitam para voltar à rotina de levar os filhos às escolas, a Faber-Castell já está pronta para o pico anual de vendas de dezembro a janeiro.
Neste ano, porém, os livros de colorir para adultos levaram a empresa a um novo ápice – de março a abril – com direito a falta de estoque nas lojas e vendas cinco vezes maiores.
“Sempre nos preparamos para uma demanda maior por caixas com lápis de 12 e 24 cores, e não pelas de 36 e 48, como aconteceu neste ano”, diz Cláudia Neufeld, diretora de marketing da companhia.
Detalhe: uma caixa de lápis com 48 cores custa, claro, 4 vezes o valor de uma caixa de 12.De acordo com ela, a procura por produtos mais sofisticados foi tanta que o estoque da empresa teve de ser abastecido às pressas, depois dos itens sumirem das prateleiras das grandes (e até das pequenas) redes de papelarias.
O jeito foi aumentar de dois para três turnos a produção na fábrica de São Carlos, interior paulista, e redirecionar as pessoas para que lápis de maior valor agregado fossem feitos.
Com isso, a situação deve ser normalizada nos 11.000 parceiros, entre atacadistas e distribuidores, até a próxima semana, garante a empresa.
Público alvo
Além da multiplicação das vendas, a febre por livros de colorir levou a fabricante alemã a atingir um alvo que ela cobiçava há anos: o público adulto.
No exterior, segundo Cláudia, o objetivo já está sendo cumprindo há algum tempo, também com ajuda do mesmo passatempo.
“Por aqui, há dois anos trabalhávamos o conceito de que a Faber era uma marca para toda a vida”, afirma ela. “Os livros chegam num momento perfeito para fazer essa conexão de que não é só porque você é adulto que não pode colorir.”
Maior fábrica da Faber no mundo, a unidade de São Paulo produz cerca de 2 bilhões de lápis por ano e exporta para mais de 70 países, incluindo latinos, asiáticos e europeus.
Produtos mais sofisticados, como as caixas de 36 e 48 cores, ganham agora mais espaço na produção destinada ao Brasil. A expectativa é que a demanda por esses e outros produtos mais caros aumente.
Por aqui, garante ela, produtos da linha artística, importados e vendidos a 100 reais cada, já vinham sendo mais vendidos, bem como a coleção especial de aniversário de 250 anos da marca, que custa 3.000 reais.
“A tendência é seguir crescendo nessa parte”, afirma a diretora.
Ajuda surpresa
É fato que a Faber teve que adaptar seu negócio ao surpreendente aumento da procura por lápis. Nem por isso a companhia acredita que terá de contratar mais gente ou aumentar preço.
A companhia alemã emprega hoje no Brasil cerca de 2.700 pessoas e faturou, de abril de 2013 a março de 2014, 458 milhões de reais no país.
Em uma crise, acredita a executiva, as pessoas não deixam de comprar material escolar para os filhos. Mas os custos de alguns itens importados, pagos em dólar, tendem a aumentar.
As vendas maiores devem fechar essa conta e ajudar a Faber a pintar de azul o balanço financeiro de 2015.
Fonte: Exame

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Livro destaca o tratamento da informação na Biblioteca do analógico ao digital

Desde 1810, quando d. João VI trouxe ao Brasil o acervo de sua coleção de livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas e inaugurou a Real Biblioteca no país, até o momento atual, em que a ciência da informação é uma disciplina instituída, as atividades de tratamento da informação não param de se transformar.

Capa "A representação da informação"
A trajetória das mudanças ocorridas na Real Biblioteca, hoje Biblioteca Nacional, e sua relação com a memória da ciência da informação no Brasil é narrada em A representação da informação na Biblioteca Nacional: do documento tradicional ao digital, de Angela Monteiro Bettencourt. O livro, lançado pela Fundação Biblioteca Nacional e oferecido em formato PDF naBNDigital, é o primeiro volume da Coleção Ramiz Galvão, criada para divulgar estudos nas áreas da biblioteconomia e ciência da informação.
A autora é coordenadora da Biblioteca Nacional Digital – BNDigital e reúne a experiência de mais de trinta anos de exercício da profissão de bibliotecária na maior biblioteca do país. O livro surgiu como resultado da dissertação de mestrado da autora, que utilizou o rico acervo da própria Biblioteca Nacional para pesquisar sobre processamento técnico antes do aparecimento do digital.
A pesquisa acompanha a evolução dos padrões, normas e protocolos para a representação da informação na Biblioteca Nacional, incluindo os atuais sistemas de documentação digital. “O tratamento da informação digital na Biblioteca Nacional reflete o tratamento da informação de uma maneira geral. A Biblioteca Nacional é a instituição de memória mais antiga do Brasil e sempre foi a agência bibliográfica referencial para outras instituições. Fomos pesquisar o passado para estudar a representação atual da informação digital”, conta Angela.
A pesquisadora explica também a relevância do tema para as bibliotecas modernas: “a informação digital equaliza duas questões antagônicas entre si – a preservação e o acesso à informação. Trata-se do futuro da informação, principalmente porque o potencial de acesso é multiplicado, várias pessoas podem acessar sem que o suporte se deteriore ou seja seriamente prejudicado”, justifica.
A BNDigital (http://bndigital.bn.br) oferece na internet grande parte dos mais relevantes documentos guardados pela Fundação Biblioteca Nacional. E, assim, proporciona tanto a disseminação do conhecimento quanto a preservação dos originais, evitando seu manuseio.
Voltado para profissionais, pesquisadores e estudantes de biblioteconomia, ciência da informação e áreas afins, o livro A representação da informação na Biblioteca Nacional preenche um espaço fundamental na discussão de temas como tratamento de coleções no país e armazenamento de documentos nos formatos analógico e digital.


Dissertação examina os sistemas de DRM

Os livros digitais facilitam o acesso aos livros, por meio de fatores como a diminuição de barreiras geográficas e financeiras. Como forma de combater a pirataria na rede, os e-books são protegidos por Digital Rights Management (DRM), uma trava tecnológica que permite que os titulares de direitos autorais protejam seus direitos por meio do controle do que os usuários conseguem fazer com os arquivos digitais. Esse foi justamente o tema escolhido pela autora Ana Carolina Bittar para a tese de mestrado que defendeu na Fundação Getúlio Vargas. Digital rights management, concorrência e acesso ao conhecimento no mercado de livros digitais examina como os sistemas de DRM afetam a concorrência no mercado de livros digitais. A íntegra da dissertação pode ser baixada gratuitamente no link abaixo:
bibliotecadigital.fgv.brbibliotecadigital.fgv.br
BIBLIOTECADIGITAL.FGV.BR

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro.

"Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os outros são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões da vista; o telefone, é a extensão da voz; temos o arado e a espada, extensões do braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação."
Jorge Luís Borges

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Bibliotecário

Coisas que você precisa saber sobre Ensino a Distância IV

- Será que estou preparado para fazer um curso de EaD? Será que meu computador serve?
O domínio básico de informática é imprescindível, mas nada além do que se usa no trabalho ou na vida pessoal. O ambiente virtual dos cursos é muito amigável. O computador precisa ter configurações mínimas, como um navegador de internet, pacote Office ou similar, programas para abrir arquivos em PDF e rodar áudios e vídeos. Em geral, os modelos mais recentes vêm com essas funções. Banda larga acima de 500kbps é o ideal para assistir a videoaulas sem pausas e interrupções.
Estão abertas as pré-inscrições para a nova turma do Curso EaD Ação Cultural em Bibliotecas do SisEB. Inscreva-se gratuitamente!
Saiba mais em www.aprendersempre.org.br
O Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas criou esse espaço para você encontrar oportunidades para seu aprimoramento pessoal e profissional: oficinas, cursos, eventos, textos e outras informações relacionadas ao universo das...
APRENDERSEMPRE.ORG.BR

A SAGA DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS FRENTE À EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR EM MOÇAMBIQUE

por Euclides Cumbe - Maputo, Moçambique
Se há um lugar onde muito se busca, se consome e se produz muita informação, este lugar certamente é a universidade. Pelo menos é o que se espera destes centros de educação que trazem em sua essência o ideal de difundir e produzir conhecimento. E, consequentemente, a biblioteca universitária aparece como uma extensão de tudo isto, ou melhor, um meio para atingir este ideal, estando fortemente atrelada à comunidade académica na construção do processo educacional.
E como parte integrante deste processo, a biblioteca deve estar em consonância com o que propõe a universidade: a criação de novos cursos, novas formas de ensino, a exigências de novos suportes de informação etc. Mas não tem sido fácil (ou tem sido niglegenciado ) acompanhar as mudanças incorporadas pelas universidades que, na maioria das vezes, alteram seus propósitos sem avaliar sua real capacidade de atender aos mesmos. Na corrida pela expansão do ensino, criam-se universidades; públicas e privadas; ensino presencial e ou à distância.
O número de instituições de ensino superior em moçambique tem vindo a aumentar, contando actualmente com 44 instituições, a preocupação é que nem sempre expansão e qualificadade do ensino andam juntas, da forma como se estabelece actualmente este processo, uma acaba por abdicar da outra. A questão é que criam-se mais instituições de ensino superior, mais cursos de graduação, mais vagas, mas não se considera de imediato que na mesma proporção devem-se aumentar os recursos humanos qualificados para a biblioteca, a verba para aquisição de material bibliográfico que atendam a este novo público, o espaço físico para comportar este acervo e os próprios usuários, sem falar na necessidade de equipamentos, como computadores e mobiliário para estudo.
Isso não seria problema se as bibliotecas fossem projectadas inicialmente visando o crescimento futuro da instituição, mas também não é o que normalmente acontece e a biblioteca acaba por ser apontada por sua insuficiência no atendimento às demandas universitárias que, na realidade, é uma consequência da ineficiência do sistema como um todo. Diante das novas demandas informacionais e com o advento de novas ferramentas de produção e disseminação da informação, novos desafios surgem e há que questionar: “como serão os universitários do futuro e as suas necessidades de informação?"

quarta-feira, 13 de maio de 2015

MEMÓRIAS DE ARCEBURGO - MG

Antiga praça da Igreja Matriz de Arceburgo. Nota-se ainda o coreto que foi demolido e deu-se lugar ao busto do fundador de Arceburgo, Coronel Cândido de Souza Dias. Foto tirada em meados de 1.930.rgo, Coronel Cândido de Souza Dias. Foto tirada em meados de 1.930.

PANORAMA ATUAL DOS REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NO BRASIL.

Artigo publicado no final de 2013 pela InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação. Autoria de Tiago Rodrigo Marçal Murakami e Sibele Fausto.
Foto de Mural Interativo do Bibliotecário.

terça-feira, 12 de maio de 2015

OS 15 MELHORES COMEÇOS DE LIVROS DA LITERATURA UNIVERSAL

Os 15 melhores começos de livros da literatura universal

Dando sequência à série de melhores trechos de livros, pedimos aos leitores, colaboradores, seguidores do Twitter e Facebook que apontassem quais eram os melhores começos de livros da literatura universal. Cinquenta e cinco livros foram citados, destes, selecionamos os 15 que obtiveram mais citações, são eles: “Moby Dick”, de Herman Melville; “Notas do Subsolo”, de Dostoiévski; “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa; “O Complexo de Portnoy”, de Philip Roth; “A Lua Vem da Ásia”, de Campos de Carvalho; “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger; “O Amanuense Belmiro”, de Cyro dos Anjos; “A Metamorfose”, de Franz Kafka; “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; “Anna Kariênina”, de Liev Tolstói; “O Ventre”, de Carlos Heitor Cony; “Lolita”, de Vladimir Nabokov; “O Jardim do Diabo”, de Luis Fernando Verissimo; “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes; e “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez.

Moby Dick
(Herman Melville)

Chamem-me simplesmente Ismael. Aqui há uns anos não me peçam para ser mais preciso —, tendo-me dado conta de que o meu porta-moedas estava quase vazio, decidi voltar a navegar, ou seja, aventurar-me de novo pelas vastas planícies líquidas do Mundo. Achei que nada haveria de melhor para desopilar, quer dizer, para vencer a tristeza e regularizar a circulação sanguínea. Algumas pessoas, quando atacadas de melancolia, suicidam-se de qualquer maneira. Catão, por exemplo, lançou-se sobre a própria espada. Eu instalo-me tranquilamente num barco.

Notas do Subsolo
(Dostoiévski)

Sou um homem doente… Sou mau. Não tenho atrativos. Acho que sofro do fígado. Aliás, não entendo bulhufas da minha doença e não sei com certeza o que é que me dói. Não me trato, nunca me tratei, embora respeite os médicos e a medicina. Além de tudo, sou supersticioso ao extremo; bem, o bastante para res­peitar a medicina. (Tenho instrução su­fi­ciente para não ser supersticioso, mas sou.) Não, senhores, se não que­ro me tratar é de raiva. Isso os se­nho­res provavelmente não compre­en­dem.

Grande Sertão: Veredas
(Guimarães Rosa)

Nonada. Tiros que o senhor  ouviu foram de briga de ho­mem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do cór­rego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mo­cidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, er­roso, os olhos de nem ser — se viu —; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebi­tado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: deter­mi­naram — era o demo.

O Complexo de Portnoy
(Philip Roth)

Ela estava tão profundamente entranhada em minha consciência que, no primeiro ano na escola, eu tinha a impressão de que todas as professoras eram minha mãe disfarçada. Assim que tocava o sinal ao fim das aulas, eu voltava correndo para casa, na esperança de chegar ao apartamento em que morávamos antes que ela tivesse tempo de se transformar. Invariavelmente ela já estava na cozinha quando eu chegava, preparando leite com biscoitos para mim. No entanto, em vez de me livrar dessas ilusões, essa proeza só fazia crescer minha admiração pelos poderes dela.

A Lua Vem da Ásia
(Campos de Carvalho)

Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa — e qual defesa seria mais legítima? — logrei ser absolvido por cinco votos a dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris. Deixei crescer a barba em pen¬samento, comprei um par de óculos para míope, e passava as noites espiando o céu estrelado, um cigarro entre os dedos. Chamava-me então Adilson, mas logo mudei para Heitor, depois Ruy Barbo, depois finalmente Astrogildo, que é como me chamo ainda hoje, quando me chamo.

O Apanhador no Campo de Centeio
(J.D. Salinger)

Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que os meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso. Em primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço se contasse qualquer coisa íntima sobre eles. São um bocado sensíveis a esse tipo de coisa, principalmente meu pai. Não é que eles sejam ruins — não é isso que estou dizendo — mas são sensíveis pra burro.

O Amanuense Belmiro
(Cyro dos Anjos

Ali pelo oitavo chope, chegamos à conclusão de que todos os problemas eram insolúveis. Florêncio propôs, então, um nono, argumentando que outro copo talvez trouxesse a solução geral. Éramos quatro ou cinco, em torno de pequena mesa de ferro, no bar do Parque. Alegre véspera de Natal! As mulatas iam e vinham, com requebros, sorrindo dengosamente para os soldados do Regimento de Cavalaria. No caramanchão, outras dançavam maxixe com pretos reforçados, enquanto um cabra gordo, de melenas, fazia a vitrola funcionar.

A Metamorfose
(Franz Kafka)

Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intran­quilos, em sua cama meta­morfo­seado num inseto monstruoso. Estava dei­tado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, mar­rom, dividido por nervuras arqueadas, no topo de qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavel­mente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremu­lavam desamparadas diante dos seus olhos.

Dom Casmurro
(Machado de Assis

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

Anna Kariênina
(Liev Tolstói)

Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira. Tudo era confusão na casa dos Oblónski. A esposa ficara sabendo que o marido mantinha um caso com a ex-governanta francesa e lhe comunicara que não podia viver com ele sob o mesmo teto. Essa si­tuação já durava três dias e era um tormento para os cônjuges, para todos os familiares e para os criados. Todos, familiares e criados, achavam que não fazia sentido morarem os dois juntos e que pessoas reunidas por acaso em qualquer hospedaria estariam mais ligadas entre si do que eles.

O Ventre
(Carlos Heitor Cony)

Positivamente, meu irmão foi acima de tudo um torturado. Sua tor­tura seria interessante se eu a explo­rasse com critério — mas jamais me preocupei com problemas do espírito. Belo para mim é um bife com batatas fritas ou um par de coxas macias. Não sou lido tampouco. A única atração que tive por livro limitou-se à ilustra­ção de um tratado de educação sexual que o vigário do Lins fez o pai comprar para nosso espiritual proveito. Só creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e pobreza de espírito.

Lolita
(Vladimir Nabokov)

Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita. Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial.

O Jardim do Diabo
(Luis Fernando Verissimo)

Me chame de Ismael e eu não atenderei. Meu nome é Estevão, ou coisa parecida. Como todos os homens, sou oitenta por cento água salgada, mas já desisti de puxar destas profundezas qualquer grande besta simbólica. Como a própria baleia, vivo de pequenos peixes da superfície, que pouco significam mas alimentam. Você talvez tenha visto alguns dos meus livros nas bancas. Todo homem, depois dos quarenta, abdica das suas fomes, salvo a que o mantém vivo. São aqueles livros mal impressos em papel jornal, com capas coloridas em que uma mulher com grandes peitos de fora está sempre prestes a sofrer uma desgraça.

Dom Quixote
(Miguel de Cervantes)

Desocupado leitor: sem juramento meu embora, poderás acreditar que eu gostaria que este livro, como filho da razão, fosse o mais formoso, o mais primoroso e o mais judicioso e agudo que se pudesse imaginar. Mas não pude eu contravir a ordem da natureza, que nela cada coisa engendra seu semelhante. E, assim, o que poderá engendrar o estéril e mal cultivado engenho meu, senão a história de um filho seco, murcho, antojadiço e cheio de pensamentos díspares e nunca imaginados por ninguém mais, exatamente como quem foi engendrado num cárcere, onde toda a incomodidade tem assento e onde todo o triste barulho faz sua habitação?

Cem Anos de Solidão
(Gabriel García Márquez)

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, cons­truídas à margem de um rio de águas diá­fanas que se precipitavam por um lei­to de pedras polidas, brancas e enor­mes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para men­cioná-las se precisava apontar com o dedo.

Neil Gaiman: Por que nosso futuro depende de bibliotecas, de leitura e de sonhar acordado

Uma palestra que explica porque usar nossa imaginação e providenciar para que outros utilizem as suas, é uma obrigação de todos os cidadãos
pelo The Guardian, em 15/10/2013
Neil Gaiman
“Temos a obrigação de imaginar…” Neil Gaiman dá uma palestra anual à Reading Agency sobre o futuro da leitura e das bibliotecas. Fotografia: Robyn Mayes.
É importante para as pessoas dizerem de que lado estão e porque, e se elas podem ou não ser tendenciosas. Um tipo de declaração de interesse dos membros. Então eu estarei conversando com vocês sobre leitura. Direi à vocês que as bibliotecas são importantes. Vou sugerir que ler ficção, que ler por prazer, é uma das coisas mais importantes que alguém pode fazer. Vou fazer um apelo apaixonado para que as pessoas entendam o que as bibliotecas e os bibliotecários são e para que preservem ambos.
E eu sou óbvia e enormemente tendencioso: sou um escritor, muitas vezes um autor de ficção. Escrevo para crianças e adultos. Por cerca de 30 anos tenho ganhado a minha vida através das minhas palavras, principalmente por inventar as coisas e escrevê-las. Obviamente está em meu interesse que as pessoas leiam, que elas leiam ficção, que bibliotecas e bibliotecários existam para nutrir amor pela leitura e lugares onde a leitura possa ocorrer.
Então sou tendencioso como escritor. Mas eu sou muito, muito mais tendencioso como leitor. E sou ainda mais tendencioso enquanto cidadão britânico.
E estou aqui dando essa palestra hoje a noite sob os auspícios da Reading Agency: uma instituição filantrópica cuja missão é dar a todos as mesmas oportunidades na vida, ajudando as pessoas a se tornarem leitores entusiasmados e confiantes. Que apoia programas de alfabetização, bibliotecas e indivíduos e arbitrária e abertamente incentiva o ato da leitura. Porque, eles nos dizem, tudo muda quando lemos.
E é sobre essa mudança e este ato de leitura que quero falar hoje a noite. Eu quero falar sobre o que a leitura faz. O porquê de ela ser boa.
Uma vez eu estava em Nova York e ouvi uma palestra sobre a construção de prisões particulares – uma ampla indústria em crescimento nos Estados Unidos. A indústria de prisões precisa planejar o seu futuro crescimento – quantas celas precisarão? Quantos prisioneiros teremos daqui 15 anos? E eles descobriram que poderiam prever isso muito facilmente, usando um algoritmo bastante simples, baseado em perguntar a porcentagem de crianças entre 10 e 11 anos que não conseguiam ler. E certamente não conseguiam ler por prazer.
Não é um pra um: você não pode dizer que uma sociedade alfabetizada não tenha criminalidade. Mas existem correlações bastante reais.
E eu acho que algumas destas correlações, a mais simples, vem de algo muito simples. Pessoas alfabetizadas leem ficção.
A ficção tem duas utilidades. Primeiramente, é uma droga que é uma porta para leituras. O desejo de saber o que acontece em seguida, de querer virar a página, a necessidade de continuar, mesmo que seja difícil, porque alguém está em perigo e você precisa saber como tudo vai acabar… Este é um desejo muito real. E te força a aprender novos mundos, a pensar novos pensamentos, a continuar. Descobrir que a leitura por si é prazerosa. Uma vez que você aprende isso, você está no caminho para ler de tudo. E a leitura é a chave. Houve um burburinho brevemente há alguns anos atrás sobre a idéia de que estávamos vivendo em um mundo pós-alfabetizado, no qual a habilidade de fazer sentido através de palavras escritas estava de alguma forma redundante, mas esses dias acabaram: as palavras são mais importantes do que jamais foram: nós navegamos o mundo com palavras, e uma vez que o mundo desliza para a web, precisamos seguir, comunicar e compreender o que estamos lendo. As pessoas que não podem entender umas às outras não podem trocar idéias, não podem se comunicar e apenas programas de tradução vão tão longe.
A forma mais simples de ter certeza de que educamos crianças alfabetizadas é ensiná-los a ler, e mostrarmos a eles que a leitura é uma atividade prazerosa. E isso significa, na sua forma mais simples, encontrar livros que eles gostem, dar a eles acesso a estes livros e deixar que eles os leiam.
Eu não acho que exista algo como um livro ruim para crianças. Vez e outra se torna moda entre alguns adultos escolher um subconjunto de livros para crianças, um gênero, talvez, ou um autor e declará-los livros ruins, livros que as crianças devem parar de ler. Eu já vi isso acontecer repetidamente; Enid Blyton foi declarado um autor ruim, R. L. Stine também, assim como dúzias de outros. Quadrinhos tem sido acusados de promover o analfabetismo.
Enid Blyton's Famous Five book Five Get Into a Fix
Não existem escritores ruins… O famoso livro de Enid Blyton. Foto: Greg Balfour Evans/Alamy
É tosco. É arrogante e é burro. Não existem autores ruins para crianças, que as crianças gostem e querem ler e buscar, porque cada criança é diferente. Eles podem encontrar as histórias que precisam, e eles levam a si mesmos nas histórias. Uma ideia banal e desgastada não é banal nem desgastada para eles. Esta é a primeira vez que a criança a encontrou. Não desencoraje uma criança de ler porque você acha que o que eles estão lendo é errado. A ficção que você não gosta é uma rota para outros livros que você pode preferir. E nem todo mundo tem o mesmo gosto que você.
Adultos bem intencionados podem facilmente destruir o amor de uma criança pela leitura: parar de ler pra eles o que eles gostam, ou dar a eles livros ‘chatos mas que valem a pena’ que você gosta, os equivalentes “melhorados” da literatura Vitoriana do século XXI. Você acabará com uma geração convencida de que ler não é legal e pior ainda, desagradável.
Precisamos que nossas crianças entrem na escada da leitura: qualquer coisa que eles gostarem de ler irá movê-las, degrau por degrau, à alfabetização. (Além disso, não faça o que eu fiz quando a minha filha de 11 anos estava gostando de ler R. L. Stine, que foi pegar uma cópia de Carrie do Stephen King e dizer que se você gosta deste, adorará isto! Holly não leu nada além de histórias seguras de colonos em pradarias pelo resto de sua adolescência e até hoje me dá olhares tortos quando o nome de Stephen King é mencionado).
E a segunda coisa que a ficção faz é construir empatia. Quando você assiste TV ou vê um filme, você está olhando para coisas acontecendo a outras pessoas. Ficção de prosa é algo que você constrói a partir de 26 letras e um punhado de sinais de pontuação, e você, você sozinho, usando a sua imaginação, cria um mundo e o povoa e olha através dos olhos de outros. Você sente coisas, visita lugares e mundos que você jamais conheceria de outro modo. Você aprende que qualquer outra pessoa lá fora é um eu, também. Você está sendo outra pessoa e quando você volta ao seu próprio mundo, você estará levemente transformado.
Empatia é uma ferramenta para tornar pessoas em grupos, que nos permite que funcionemos como mais do que indivíduos obcecados consigo mesmos.
Você também está descobrindo algo enquanto lê que é de vital importância para fazer o seu caminho no mundo. E é isto:
O mundo não precisa ser assim. As coisas podem ser diferentes.
Eu estive na China em 2007 na primeira convenção de ficção científica e fantasia aprovada pelo partido na história da China. E em algum momento eu tomei um alto oficial de lado e perguntei a ele “Por que? A ficção científica foi reprovada por tanto tempo. Por que isso mudou?”. É simples, ele me disse. Os chineses eram brilhantes em fazer coisas se outras pessoas trouxessem os planos para eles. Mas eles não inovavam e não inventavam. Eles não imaginavam. Então eles mandaram uma delegação para os Estados Unidos, para a Apple, para a Microsoft, para o Google e perguntaram às pessoas de lá que estavam inventando seu próprio futuro. E descobriram que todos eles leram ficção científica quando eram meninos e meninas. A ficção pode te mostrar um outro mundo. Pode te levar para um lugar que você nunca esteve. E uma vez que você tenha visitado outros mundos, como aqueles que comeram a fruta da fada, você pode nunca mais ficar completamente satisfeito com o mundo no qual você cresceu.
Descontentamento é uma coisa boa: pessoas descontentes podem modificar e melhorar o mundo, deixá-lo melhor, deixá-lo diferente. E enquanto ainda estamos nesse assunto, eu gostaria de dizer algumas palavras sobre escapismo. Eu ouço o termo utilizado por aí como se fosse uma coisa ruim. Como se ficção “escapista” fosse um ópio barato utilizado pelos confusos, pelos tolos e pelos desiludidos e a única ficção que seja válida, para adultos ou crianças é a ficção mimética, espelhando o pior do mundo em que o leitor ou a leitora se encontra.
Se você estivesse preso em uma situação impossível, em um lugar desagradável, com pessoas que te quisessem mal e alguém te oferecesse um escape temporário, por que você não ia aceitar isso? E ficção escapista é apenas isso: ficção que abre uma porta, mostra o sol lá fora, te dá um lugar para ir onde você esteja no controle, esteja com pessoas com quem você queira estar (e livros são lugares reais, não se enganem sobre isso); e mais importante, durante o seu escape, livros também podem te dar conhecimento sobre o mundo e o seu predicamento, te dar armas, te dar armaduras: coisas reais que você pode levar de volta para a sua prisão. Habilidades, conhecimento e ferramentas que você pode utilizar para escapar de verdade.
Como J. R. R. Tolkien nos lembrou, as únicas pessoas que fazem injúrias contra o escape são prisioneiros.
A ilustração de Tolkien da casa de Bilbo
A ilustração de Tolkien da casa de Bilbo, Bag End. Foto: HarperCollins
Outra forma de destruir o amor de uma criança pela leitura, claro, é se assegurar de que não existam livros de nenhum tipo por perto. E não dar a elas nenhum lugar para que leiam estes livros. Eu tive sorte. Eu tive uma biblioteca local excelente enquanto eu cresci. Eu tive o tipo de pais que podiam ser persuadidos a me deixar na biblioteca no caminho do trabalho deles nas férias de verão, e o tipo de bibliotecários que não se importavam que um menino pequeno e desacompanhado ficasse na biblioteca das crianças todas as manhãs e ficasse mexendo no catálogo de cartões, procurando por livros com fantasmas ou mágica ou foguetes neles, procurando por vampiros ou detetives ou bruxas ou fantasias. E quando eu terminei de ler a biblioteca de crianças eu comecei a de adultos.
Eles eram ótimos bibliotecários. Eles gostavam de livros e eles gostavam dos livros que estavam sendo lidos. Eles me ensinaram como pedir livros das outras bibliotecas em empréstimo inter-bibliotecas. Eles não eram arrogantes em relação a nada que eu lesse. Eles pareciam apenas gostar do fato de existir esse menininho de olhos arregalados que amava ler e conversariam comigo sobre os livros que eu estava lendo, achariam pra mim outros livros em uma série deles, eles me ajudariam. Eles me tratavam como outro leitor – nem mais, nem menos – o que significa que eles me tratavam com respeito. Eu não estava acostumado a ser tratado com respeito aos oito anos de idade.
Mas as bibliotecas tem a ver com liberdade. A liberdade de ler, a liberdade de ideias, a liberdade de comunicação. Elas tem a ver com educação (que não é um processo que termina no dia que deixamos a escola ou a universidade), com entretenimento, tem a ver com criar espaços seguros e com o acesso à informação.
Eu me preocupo que no século XXI as pessoas entendam errado o que são bibliotecas e qual é o propósito delas. Se você perceber uma biblioteca como estantes com livros, pode parecer antiquado e datado em um mundo no qual a maioria, mas não todos, os livros impressos existem digitalmente. Mas pensar assim é errar o ponto fundamentalmente.
Eu acho que tem a ver com a natureza da informação. A informação tem valor, e a informação certa tem um enorme valor. Por toda a história humana, nós vivemos em escassez de informação e ter a informação desejada era sempre importante, e sempre valia alguma coisa: quando plantar sementes, onde achar as coisas, mapas e histórias e estórias – eles eram sempre bons para uma refeição e companhia. Informação era uma coisa valorosa, e aqueles que a tinham ou podiam obtê-la podiam cobrar por este serviço.
Nos últimos anos, nos mudamos de uma economia de escassez da informação para uma dirigida por um excesso de informação. De acordo com o Eric Schmidt do Google, a cada dois dias agora a raça humana cria tanta informação quanto criávamos desde o início da civilização até 2003. Isto é cerca de cinco exobytes de dados por dia, para vocês que mantém a contagem. O desafio se torna não encontrar aquela planta escassa crescendo no deserto, mas encontrar uma planta específica crescendo em uma floresta. Precisaremos de ajuda para navegar nesta informação e achar a coisa que precisamos de verdade.
Menino lendo em sua escola
Foto: Alamy
Bibliotecas são lugares que pessoas vão para obter informação. Livros são apenas a ponta do iceberg da informação: eles estão lá, e bibliotecas podem fornecer livros gratuitamente e legalmente. Crianças estão emprestando livros de bibliotecas hoje mais do que nunca – livros de todos os tipos: de papel e digital e em áudio. Mas as bibliotecas também são, por exemplo, lugares onde pessoas que não tem computadores, que podem não ter conexão à internet, podem ficar online sem pagar nada: o que é imensamente importante quando a forma que você procura empregos, se candidata para entrevistas ou aplica para benefícios está cada vez mais migrando para o ambiente exclusivamente online. Bibliotecários podem ajudar estas pessoas a navegar neste mundo.
Eu não acredito que todos os livros irão ou devam migrar para as telas: como Douglas Adams uma vez me falou, mais de 20 anos antes do Kindle aparecer, um livro físico é como um tubarão. Tubarões são velhos: existiam tubarões nos oceanos antes dos dinossauros. E a razão de ainda existirem tubarões é que tubarões são melhores em serem tubarões do que qualquer outra coisa que exista. Livros físicos são durões, difíceis de destruir, resistentes à banhos, operam a luz do sol, ficam bem na sua mão: eles são bons em serem livros, e sempre existirá um lugar para eles. Eles pertencem às bibliotecas, bem como as bibliotecas já se tornaram lugares que você pode ir para ter acesso à ebooks, e audio-livros e DVDs e conteúdo na web.
Uma biblioteca é um lugar que é um repositório de informação e dá a cada cidadão acesso igualitário a ele. Isso inclui informação sobre saúde. E informação sobre saúde mental. É um espaço comunitário. É um lugar de segurança, um refúgio do mundo. É um lugar com bibliotecários. Como as bibliotecas do futuro serão é algo que deveríamos estar imaginando agora.
Alfabetização é mais importante do que nunca, nesse mundo de mensagens e e-mail, um mundo de informação escrita. Precisamos ler e escrever, precisamos de cidadãos globais que possam ler confortavelmente, compreender o que estão lendo, entender as nuances e se fazer entender.
As bibliotecas realmente são os portais para o futuro. É tão lamentável que, ao redor do mundo, nós observemos autoridades locais apropriarem-se da oportunidade de fechar bibliotecas como uma maneira fácil de poupar dinheiro, sem perceber que eles estão roubando do futuro para serem pagos hoje. Eles estão fechando os portões que deveriam ser abertos.
De acordo com um estudo recente feito pela Organisation for Economic Cooperation and Development, a Ingaterra é o “único país onde o grupo de mais idade tem mais proficiência tanto em alfabetização quanto em capacidade de usar ou entender as técnicas numéricas da matemática do que o grupo mais jovem, depois de outros fatores, tais como gênero, perfis sócio-econômicos e tipo de ocupações levados em consideração”.
Colocando de outro modo, nossas crianças e netos são menos alfabetizados e menos capazes de utilizar técnicas de matemática do que nós. Eles são menos capazes de navegar o mundo, de entendê-lo e de resolver problemas. Eles podem ser mais facilmente enganados e iludidos, serão menos capazes de mudar o mundo em que se encontram, ser menos empregáveis. Todas essas coisas. E como um país, a Inglaterra ficará para trás em relação a outras nações desenvolvidas porque faltará mão de obra especializada.
Livros são a forma com a qual nós nos comunicamos com os mortos. A forma que aprendemos lições com aqueles que não estão mais entre nós, que a humanidade se construiu, progrediu, fez com que o conhecimento fosse incremental ao invés de algo que precise ser reaprendido, de novo e de novo. Existem contos que são mais velhos que alguns países, contos que sobreviveram às culturas e aos prédios nos quais eles foram contados pela primeira vez.
Eu acho que nós temos responsabilidades com o futuro. Responsabilidades e obrigações com as crianças, com os adultos que essas crianças se tornarão, com o mundo que eles habitarão. Todos nós – enquanto leitores, escritores, cidadãos – temos obrigações. Pensei em tentar explicitar algumas dessas obrigações aqui.
Eu acredito que temos uma obrigação de ler por prazer, em lugares públicos e privados. Se lermos por prazer, se outros nos verem lendo, então nós aprendemos, exercitamos nossas imaginações. Mostramos aos outros que ler é uma coisa boa.
Temos a obrigação de apoiar bibliotecas. De usar bibliotecas, de encorajar outras pessoas a utilizarem bibliotecas, de protestar contra o fechamento de bibliotecas. Se você não valoriza bibliotecas então você não valoriza informação ou cultura ou sabedoria. Você está silenciando as vozes do passado e você está prejudicando o futuro.
Temos a obrigação de ler em voz alta para nossas crianças. De ler pra elas coisas que elas gostem. De ler pra elas histórias das quais já estamos cansados. Fazer as vozes, fazer com que seja interessante e não parar de ler pra elas apenas porque elas já aprenderam a ler sozinhas. Use o tempo de leitura em voz alta para um momento de aproximação, como um tempo onde não se fique checando o telefone, quando as distrações do mundo são postas de lado.
Temos a obrigação de usar a linguagem. De nos esforçarmos: descobrir o que as palavras significam e como empregá-las, nos comunicarmos claramente, de dizer o que estamos querendo dizer. Não devemos tentar congelar a linguagem, ou fingir que é uma coisa morta que deve ser reverenciada, mas devemos usá-la como algo vivo, que flui, que empresta palavras, que permite que significados e pronúncias mudem com o tempo.
Nós escritores – e especialmente escritores para crianças, mas todos os escritores – temos uma obrigação com nossos leitores: é a obrigação de escrever coisas verdadeiras, especialmente importantes quando estamos criando contos de pessoas que não existem em lugares que nunca existiram – entender que a verdade não está no que acontece mas no que ela nos diz sobre quem somos. A ficção é a mentira que diz a verdade, afinal. Temos a obrigação de não entediar nossos leitores, mas fazê-los sentir a necessidade de virar as páginas. Uma das melhores curas para um leitor relutante, afinal, é uma estória que eles não são capazes de parar de ler. E enquanto nós precisamos contar a nossos leitores coisas verdadeiras e dar a ele armas e dar a eles armaduras e passar a eles qualquer sabedoria que recolhemos em nossa curta estadia nesse mundo verde, nós temos a obrigação de não pregar, não ensinar, não forçar mensagens e morais pré-digeridas goela abaixo em nossos leitores como pássaros adultos alimentando seus bebês com vermes pré-mastigados; e nós temos a obrigação de nunca, em nenhuma circunstância, escrever nada para crianças que nós mesmos não gostaríamos de ler.
Temos a obrigação de entender e reconhecer que enquanto escritores para crianças nós estamos fazendo um trabalho importante, porque se nós estragarmos isso e escrevermos livros chatos que distanciam as crianças da leitura e de livros, nós estaremos menosprezando o nosso próprio futuro e diminuindo o deles.
Todos nós – adultos e crianças, escritores e leitores – temos a obrigação de sonhar acordado. Temos a obrigação de imaginar. É fácil fingir que ninguém pode mudar coisa alguma, que estamos num mundo no qual a sociedade é enorme e que o indivíduo é menos que nada: um átomo numa parede, um grão de arroz num arrozal. Mas a verdade é que indivíduos mudam o seu próprio mundo de novo e de novo, indivíduos fazem o futuro e eles fazem isso porque imaginam que as coisas podem ser diferentes.
Olhe à sua volta: eu falo sério. Pare por um momento e olhe em volta da sala em que você está. Eu vou dizer algo tão óbvio que a tendência é que seja esquecido. É isto: que tudo o que você vê, incluindo as paredes, foi, em algum momento, imaginado. Alguém decidiu que era mais fácil sentar numa cadeira do que no chão e imaginou a cadeira. Alguém tinha que imaginar uma forma que eu pudesse falar com vocês em Londres agora mesmo sem que todos ficássemos tomando uma chuva. Este quarto e as coisas nele, e todas as outras coisas nesse prédio, esta cidade, existem porque, de novo e de novo e de novo as pessoas imaginaram coisas.
Temos a obrigação de fazer com que as coisas sejam belas. Não de deixar o mundo mais feio do que já encontramos, não de esvaziar os oceanos, não de deixar nossos problemas para a próxima geração. Temos a obrigação de limpar tudo o que sujamos, e não deixar nossas crianças com um mundo que nós desarrumamos, vilipendiamos e aleijamos de forma míope.
Temos a obrigação de dizer aos nossos políticos o que queremos, votar contra políticos ou quaisquer partidos que não compreendem o valor da leitura na criação de cidadãos decentes, que não querem agir para preservar e proteger o conhecimento e encorajar a alfabetização. Esta não é uma questão de partidos políticos. Esta é uma questão de humanidade em comum.
Uma vez perguntaram a Albert Einstein como ele poderia tornar nossas crianças inteligentes. A resposta dele foi simples e sábia. “Se você quer que crianças sejam inteligentes”, ele disse, “leiam contos de fadas para elas. Se você quer que elas sejam mais inteligentes, leia mais contos de fadas para elas”. Ele entendeu o valor da leitura e da imaginação. Eu espero que possamos dar às nossas crianças um mundo no qual elas possam ler, e que leiam para elas, e imaginar e compreender.
• Esta é uma versão editada da palestra do Neil Gaiman para a Reading Agency, realizada dia 14 de outubro de 2013 (segunda-feira) no Barbican em Londres. A série anual de palestras da Reading Agency começou em 2012 como uma plataforma para que escritores e pensadores compartilhassem ideias originais e desafiadoras sobre a leitura e as bibliotecas.