As escolas não são públicas. E privatizar não resolve
Gustavo Ioschpe
Veja, publicado em 24 de junho de 2012
Leonardo
Boff
Congresso em Foco, publicado em 06 de maio de 2012
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Congresso em Foco, publicado em 06 de maio de 2012
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A
sustentabilidade, um dos temas centrais da Rio+20, não acontece mecanicamente.
Resulta de um processo de educação pela qual o ser humano redefine o feixe de
relações que entretém com o Universo, com a Terra, com a natureza, com a
sociedade e consigo mesmo dentro dos critérios de equilíbrio ecológico, de
respeito e amor à Terra e à comunidade de vida, de solidariedade para com as
gerações futuras e da construção de uma democracia sócio-ecológica sem fim.
Estou convencido
de que somente um processo generalizado de educação pode criar novas mentes e
novos corações, como pedia a Carta da Terra, capazes de fazer a revolução
paradigmática exigida pelo risco global sob o qual vivemos. Como repetia com
frequência Paulo Freire: “a educação não muda o mundo, mas muda as pessoas que
vão mudar o mundo”. Agora todas as pessoas são urgidas a mudar. Não temos outra
alternativa: ou mudamos ou conheceremos a escuridão.
Não cabe
aqui abordar a educação em seus múltiplos aspectos tão bem formulados em 1996
pela UNESCO: aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos; eu
acrescentaria aprender a cuidar da Mãe Terra e de todos os seres.
Mas este
tipo de educação é ainda insuficiente. A situação mudada do mundo exige que
tudo seja ecologizado, isto é, cada saber deve prestar a sua colaboração a fim
de proteger a Terra, salvar a vida humana e o nosso projeto planetário.
Portanto, o momento ecológico deve atravessar todos os saberes.
A 20 de
dezembro de 2002, a ONU aprovou uma resolução proclamando os anos de 2005-2014
a Década da educação para o desenvolvimento sustentável. Neste
documento, definem-se 15 perspectivas estratégicas em vista de uma educação
para sustentabilidade. Referiremos algumas:
Perspectivas
socioculturais que
incluem: direitos humanos, paz e segurança; igualdade entre os sexos;
diversidade cultural e compreensão intercultural; saúde; AIDS; governança
global.
Perspectivas
ambientais que
comportam: recursos naturais (água, energia, agricultura e biodiversidade);
mudanças climáticas; desenvolvimento rural; urbanização sustentável; prevenção
e mitigação de catástrofes.
Perspectivas
econômicas que
visam: a redução da pobreza e da miséria; a responsabilidade e a prestação de
contas das empresas.
Como se
depreende, o momento ecológico está presente em todas as disciplinas: caso
contrário não se alcança uma sustentabilidade generalizada. Depois que irrompeu
o paradigma ecológico, nos conscientizamos do fato de que todos somos
ecodependentes. Participamos de uma comunidade de interesses com os demais
seres vivos que conosco compartem a biosfera. O interesse comum básico é manter
as condições para a continuidade da vida e da própria Terra, tida como Gaia. É
o fim último da sustentabilidade.
A partir
de agora, a educação deve impreterivelmente incluir as quatro grandes
tendências da ecologia: a ambiental, a social, a mental e a integral ou
profunda (aquela que discute nosso lugar na natureza). Mais e mais se impõem
entre os educadores esta perspectiva: educar para o bem viver que é a
arte de viver em harmonia com a natureza e propor-se repartir equitativamente
com os demais seres humanos os recursos da cultura e do desenvolvimento
sustentável.
Precisamos
estar conscientes de que não se trata apenas de introduzir corretivos ao sistema
que criou a atual crise ecológica, mas de educar para sua transformação. Isto
implica superar a visão reducionista e mecanicista ainda imperante e assumir a
cultura da complexidade. Ela nos permite ver as interrelações do mundo vivo e
as ecodependências do ser humano. Tal verificação exige tratar as questões
ambientais de forma global e integrada. Deste tipo de educação se deriva a
dimensão ética de responsabilidade e de cuidado pelo futuro comum da Terra e da
humanidade. Faz descobrir o ser humano como o cuidador de nossa Casa Comum e o
guardião de todos seres. Queremos que a democracia sem fim (Boaventura
de Souza Santos) assuma as características socioecológicas, pois só
assim será adequada à era ecozóica e responderá às demandas do novo paradigma.
Ser humano, Terra e natureza se pertencem mutuamente. Por isso, é possível
forjar um caminho de convivência pacífica. É o desafio da educação.
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