quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

BIBLIOTECA PÚBLICA: AMBIGÜIDADE, CONFORMISMO E AÇÃO GUERRILHEIRA DO BIBLIOTECÁRIO

(Publicado Originalmente em Ensaios APB, n.15, fev. 1995.) "Caminhando e cantando e seguindo a canção." Esta frase, por demais conhecida, se retirada do texto e do contexto em que foi idealizada, propicia duas conotações: conformista e revolucionária. A primeira, conformista, fundamenta-se na concepção de que quem segue não possui idéias próprias, não faz história. Seguir, acompanhando a canção formulada e imposta por outros, significa alienação, conformismo e, pior, reprodução de mensagens e idéias que quase sempre não são próprias. A segunda conotação, a revolucionária, apresenta-se a partir da própria idéia de movimento, de busca, de procura. A canção seguida representa o protesto de uma maioria subjugada, quase sem possibilidades de exteriorizar sua discordância e insatisfação ante os rumos de uma história a cujos destinos não lhe é facultado interferir. Uma revolução - ou, quem sabe, apenas algumas reformas - que se utiliza de pequenas brechas, de pequenas frestas dentro de um sistema aparentemente infalível e indestrutível; uma revolução que, a primeira vista, se esgota e tem seus limites em uma faixa de protesto ou em canções e palavras de ordens de uma trupe momentânea. Da mesma forma, longe de seu contexto, o termo Biblioteca Pública também possibilita as mesmas duas conotações: a conformista e a revolucionária. A Biblioteca Pública é normalmente entendida pela sociedade como conformista. A literatura da área de Biblioteconomia, como será apresentado e confirmado no transcorrer deste trabalho, insiste na necessidade de modificarmos a forma como o bibliotecário e a biblioteca são vistos e reconhecidos pela sociedade: verdadeiro estereótipo do profissional e da instituição. Infelizmente, no entanto, a alteração desse estereótipo não é tão simples e fácil de se concretizar, já que a atuação do profissional bibliotecário está restrita, quase que exclusivamente, à guarda e preservação de registros bibliográficos do conhecimento humano, não atendendo, assim, aos anseios, reclamos e necessidades da sociedade, nem cumprindo uma função reconhecidamente social. A observação e interesse que tivemos e temos como profissional da área, nos possibilita afirmar que o quadro apresentado acima se reproduz em grande parte ou, sendo mais enfático, talvez na maioria das bibliotecas públicas brasileiras. O conformismo da Biblioteca Pública estaria evidenciado, assim, através dos trabalhos desenvolvidos - ou, quem sabe, dos trabalhos não desenvolvidos - pelos profissionais que nela atuam. Explicando melhor: o conformismo deve ser entendido, no caso específico da Biblioteca Pública, como a passividade de sua atuação, como o aceitar ser um mero instrumento ideológico que apenas transmite e reproduz informações de interesses destoantes aos das classes populares. Por demais conhecida é a imagem que a sociedade tem do profissional bibliotecário: uma velha senhora, de coque, óculos na ponta do nariz, livro aberto nas mãos e que, autoritariamente, aponta - dedo em riste - para os catálogos quando solicitada a atender um usuário. Parece-nos que tal imagem, repleta de símbolos, permite análises que podem corroborar com a idéia de conformismo da Biblioteca Pública. Antes, porém, é importante enfatizar que Biblioteca Pública e Bibliotecário estão estreitamente relacionados, formando um todo em que a estrutura e o profissional contribuem, cada um com sua parcela e com suas especificidades, para a formação de uma única imagem que, enfocando um ou outro, integra-os no mesmo estereótipo. A análise da forma como o profissional é visto pela sociedade pode começar pela pessoa representada como bibliotecária: normalmente do sexo feminino e idosa. O mercado de trabalho reserva ou oferece para a mulher, espaços definidos e limitados principalmente ao comércio e aos serviços. Quando aceita nos espaços considerados produtivos, identificados com a geração e produção de mercadorias, os cargos ocupados quase sempre abrangem funções onde a decisão está excluída. Às mulheres são oferecidas ocupações onde o que prevalece é a subordinação, o auxílio, a mera cooperação. No sistema capitalista, o não-produtivo é considerado periférico, relegado a um plano secundário e, evidentemente, as pessoas que nele atuam além de receberem baixos salários, revestem-se de um status social inferior. A biblioteca representaria, então, para a sociedade, já que a mulher é considerada adequada e apta a exercer as funções demandadas por ela, como um espaço não-produtivo, um local de importância menor e cujos produtos oferecidos não fazem parte dos instrumentos concebidos como fundamentais e necessários para um desempenho que corresponda às exigências de uma sociedade capitalista. Seguindo o mesmo raciocínio, a bibliotecária idosa, velha, também está relacionada à forma como o velho é entendido e, principalmente, tratado nesta sociedade. Ele ou ela nada produzem, pois seus corpos não estão mais aptos a exercerem as funções que a sociedade necessita. A experiência, advogada como produto de toda uma existência, é dispensável quando as tarefas necessárias para a manutenção da sociedade industrial são rotineiras, mecânicas e exaustivas, exigindo quase que exclusivamente um vigor físico e uma resistência que o velho não mais pode oferecer. Considerados como um estorvo social, os velhos apenas são motivo de preocupação e fazem parte do interesse da sociedade quando preenchem os espaços, travestidos em números, dos relatórios de uma previdência social ou quando abarrotam os guichês dos hospitais em busca da recuperação de uma saúde perdida e deixada entre o maquinário de uma sociedade que alugou sua mão de obra em troca de um mísero salário. O bibliotecário, ou melhor, a bibliotecária é concebida como uma velha, pois improdutiva; guardiå da memória e da experiência que de nada servem; fiscal de um perdido passado que não contribui para as exigências e demandas atuais; dona de um espaço frio e silencioso que antecipa um inexorável mausoléu e que interessa apenas àqueles que já convivem com o sentimento da morte. A bibliotecária seria, assim, aos olhos da sociedade, a velha professora que receita antigas lições e professa valores que o homem de hoje rejeita. Quem preconiza a manutenção e a preservação de antigos valores, deslocados das relações e dos interesses de uma sociedade em constante mudança, não deve ser entendida como útil socialmente. Pensando dessa forma, compreende-se a razão do penteado em forma de coque presente no estereótipo do bibliotecário. O livro aberto nas mãos da bibliotecária idosa permite uma análise também vinculada à improdutividade. A leitura, principalmente durante o período de trabalho, está ligada à idéia de ociosidade. O espaço adequado para se usufruir dos prazeres da leitura é aquele dedicado ao lazer; são os pequenos intervalos que o sistema de produção oferece para que seja utilizado pelo indivíduo. Mesmo assim, a leitura enfrenta inúmeros concorrentes que disputam esses breves intervalos. A leitura, na imagem estereotipada, está adequada ao velho, pois é considerada como uma atividade passiva, sem dinamismo, não exigindo movimentos físicos, opondo a leitura à explosão da aeróbica. É provável o uso do livro nas inúmeras academias que proliferam pelas cidades, mas utilizado como instrumento e apoio de exercícios, auxiliando àqueles que pulam, suam e esperneiam na busca ansiosa de um vistoso porte atlético. Nesses casos, vale mais o peso do livro do que seu conteúdo. Em breve, talvez, os confusos balconistas de livrarias estarão se defrontando com insólitos pedidos: livros com 2, 3, 4, 5 ou mais quilos. A exemplo da velha bibliotecária, o livro também se reveste, do ponto de vista da sociedade, de inutilidade, de coisa passada, merecedor de um espaço nas prateleiras ao lado do pó que o envolve e que atesta sua incapacidade em responder às exigências de um mundo em constante mudança. Biblioteca, livro e velho se condensam, se integram e formam uma única entidade, indissociável, além de afastada dos interesses e necessidades da sociedade capitalista. A relação biblioteca/serviço público, também está presente na imagem do profissional bibliotecário. No estereótipo, a atenção dada ao usuário está estreitamente relacionada ao modo como os servidores públicos atendem a população. Se verdadeira ou falsa, não nos cabe questionar aqui, porém, é certo que à imagem do bibliotecário foi somado mais um componente: o funcionário público. Entendido como aquele que vive às custas do Estado, o funcionário público teria como principal atribuição, procurar formas de ampliar seu salário, através de brechas na legislação, freqüentemente encontradas por aqueles que despendem suas horas de trabalho nessa tarefa. A fonte primária para que o funcionário público desempenhe com competência essa função, é o Diário Oficial - do Município, do Estado e da União - que deve ser minuciosamente esquadrinhado, redundando na total impossibilidade de atender aos usuários - afinal, convenhamos, cada funcionário é uma única, e somente única, pessoa. Do mesmo modo, o bibliotecário ou a bibliotecária, como é retratada em outras imagens (que, em essência, pouco diferem da que apresentamos), não pode tricotar e atender os consulentes ao mesmo tempo. Tricota-se primeiro e, sobrando tempo, presta-se auxílio a quem solicita. Nada mais justo, então, do que o dedo em riste, pois é inconcebível e imperdoável que alguém possa ser tão insensível a ponto de solicitar a atenção de quem está concentrado em agulhas e linhas, num azáfama complexo. É inacreditável que os usuários de uma biblioteca não percebam a função social de quem tricota agasalhos, meias, cachecóis, toalhas de mesa e coisas parecidas. O dedo em riste é merecido pois, além de importunar os afazeres da bibliotecária, os usuários demonstram total incapacidade e despreparo para se utilizar do acervo organizado para eles com carinho, tabelas, fichinhas e dedicação. Em resumo: o profissional bibliotecário é entendido como improdutivo, passivo, guardião do passado, ocioso, inútil, sem função social e, horror dos horrores, funcionário público. Acrescentar a esse rol de adjetivos mais um, o de conformista, não vai piorar a imagem desse profissional que se faz presente como reprodutor da ideologia dominante, como aquele que colabora na sustentação e preservação dos valores, idéias, propostas e interesses das classes que detêm o poder. A postura e a atitude do bibliotecário parece, muitas vezes, deixar de lado o conformismo para transformar-se em apoio e afirmação deliberada de posições reconhecidamente parciais. Como dissemos anteriormente - e vale aqui relembrar - o bibliotecário e a Biblioteca Pública mesclam-se formando um único estereótipo. A exemplo do verso extraído da canção de Geraldo Vandré, a Biblioteca Pública também pode ser entendida como revolucionária. Na verdade, não só entendida e reconhecida, mas com uma atuação revolucionária. Revolucionar quer dizer transformar de modo radical, alterar uma ordem estabelecida. Em nosso contexto social isso significa instrumentalizar a população afastada dos canais do poder, de forma a que ela possa interferir nas decisões e influenciar nos destinos da sociedade. Como a Biblioteca Pública participaria desse processo revolucionário? Alimentando a população com informações que interfiram e tornem transparentes o jogo do poder e as relações de classes; servindo de contraponto em relação aos meios de comunicação de massa; criando novas demandas e procurando satisfazê-las em detrimento de falsas necessidades introjetadas pela sociedade de consumo; abrindo espaços que permitam à população, não só consumir, mas produzir cultura; produzindo informações que veiculem as necessidades e os interesses da população; advogando e sustentando o direito das classes dominadas de se fazerem ouvir; incentivando o surgimento em cada pessoa, da consciência da cidadania através de informações que propiciem o conhecimento dos direitos de todos aos bens mínimos que proporcionam o acesso a uma vida digna; participando da vida da comunidade que atende; privilegiando os carentes de tudo, inclusive, e principalmente, de informação, etc., etc., etc. Entre os trabalhos desenvolvidos pela maioria das Bibliotecas Públicas, no entanto, não estão presentes nenhum dos citados acima. A Biblioteca Pública não tem uma atuação revolucionária e, não seria temeroso afirmar, nem quer ou pretende ter uma atuação com esse caráter, ao contrário, a grande maioria dos profissionais bibliotecários estão inocentemente (ou nem tão inocentemente assim) imbuídos e envolvidos pela ideologia hegemônica. Basta lembrar, confirmando a afirmação, que a idéia de imparcialidade da atuação do bibliotecário, sustenta políticas e filosofias de trabalho. Acreditando ser imparcial, na medida em que, democraticamente, oferece uma gama de opções para que o usuário faça sua escolha, o bibliotecário se auto exclui do processo de pesquisa, imaginando que dessa forma isenta as informações de possíveis influências suas. Considera-se, por outro lado, um intermediário imprescindível e não descartável, dentro do processo de transferência de informações, um tradutor entre a questão e a resposta, entre a linguagem natural e a documentária. Contraditórias são, no mínimo, tais idéias, pois a concepção de imparcialidade pressupõe ser o profissional bibliotecário desnecessário na relação usuário/informação. Mero instrumento que decodifica objetivas mensagens presentes nos documentos, a principal função daquele que atua na Biblioteca Pública seria a de confeccionar, qual meias, cachecóis e toalhinhas de mesa, imensos e minuciosos fichários, envolvendo a verdade num espaço nunca maior do que 12,5 X 7,5 cm. Bastariam as gavetas repletas de fichinhas, já que o intermediário não passa de um indicador (vale o dedo também) do que existe à disposição do usuário, não fosse a função social do tricô. Como ser revolucionário considerando-se imparcial? A imparcialidade presente no discurso biblioteconômico lembra um outro conceito: apolítico que, a exemplo daquele, inexiste. São conceitos que fazem o jogo manipulador dos dominadores; que permitem a sensação de não comprometimento, de não responsabilidade com a situação social, política, econômica, etc. A Biblioteca Pública, ante essas considerações, nada mais seria do que o depósito de textos e informações, reunidas e organizadas a partir do ponto de vista das classes que ditam e determinam as normas e valores da sociedade. Sem interferência, o bibliotecário e a Biblioteca Pública beneficiam as regras das relações sociais em vigor, colaborando para sua reprodução. Sem interferir, a Biblioteca Pública assume o papel de aparelho ideológico de Estado. Do mesmo modo, a passividade do bibliotecário que se traduz, entre outros, na espera de que o usuário procure seus serviços e reconheça o valor social da Biblioteca, também aponta para o seu caráter não revolucionário. O conformismo e a identificação com uma ideologia não popular, estão encobertos pela justificativa da imparcialidade que, por sua vez, leva à passividade, à acomodação. A democracia inviabilizaria qualquer tipo de interferência. A verdade, a incontestável verdade, não só existe como tem sua morada nos livros. A Biblioteca Pública, assim, seria o templo da verdade absoluta, embora a democracia, personificação política dela, exigiria também a presença de obras que deturpam a verdade. É claro que os exageros devem ser contidos: as obras que reconhecidamente visam desestabilizar a ordem constituída, mantenedora da paz social e da tranqüilidade no convívio entre os homens, devem ser expurgadas ou, quando muito, de acesso restrito apenas àqueles que possuam uma sólida formação moral. Para os bibliotecários que assim pensam, Bastos Tigre cede lugar a Jorge de Burgos. Os que defendem tais idéias, a grande maioria vale enfatizar, esquecem que a interferência do bibliotecário sobre o processo de pesquisa e de transferência da informação ocorre a todo momento, a cada gesto, fala postura, etc., quando de sua relação com o usuário. Inicia-se com a própria seleção dos materiais que formarão o acervo. Determinar prioridades é um ato político por excelência, refletindo identificações, concepções e redundando, necessariamente, numa interferência, já que a decantada possibilidade de opção oferecida pela Biblioteca Pública é fruto dessa seleção inicial. De igual modo, a análise de conteúdo dos documentos, pelo seu caráter subjetivo, propicia e exige a participação do profissional bibliotecário, com sua bagagem técnica mas, principalmente, com suas concepções, crenças e ideologias. A classificação/indexação de um material traz como resultado também, a exteriorização do modo de ver, entender, vivenciar e compreender o mundo, por parte daquele profissional bibliotecário que tratou tecnicamente o material. A disposição dos livros nas estantes configura um discurso único, fruto do modo de pensar dos trabalhadores da Biblioteca a que pertence aquele acervo. A estrutura física da Biblioteca, ou seja, o prédio, os móveis, a disposição das salas, seções, departamentos e divisões, o espaço concedido para o acervo e para os usuários, o lay-out, configuram-se como interferência do bibliotecário. A participação do usuário é que se faz com menor intensidade, mesmo sendo ele o fim último dos trabalhos desenvolvidos e dos serviços oferecidos pela Biblioteca Pública. Bibliotecário e Biblioteca podem ser entendidos como conformistas e como revolucionários. No entanto, com motivos de sobra e mais próximos da realidade, a sociedade os identifica com a primeira alternativa: conformistas. Bastaria isso para que a população os considerasse inúteis socialmente. Infelizmente, há muito mais. Poderíamos discorrer sobre vários aspectos que motivam o afastamento, o distanciamento entre população e Biblioteca Pública. Importa lembrar que a atual concepção de Biblioteca Pública surge no final do século passado, nos Estados Unidos e suas premissas básicas continuam em vigor até hoje. Esse modelo inicial americano foi importado e transportado para o Brasil pelas mãos e inteligência de Rubens Borba de Moraes, mas as alterações necessárias para que se adequasse às especificidades do nosso contexto social, foram poucas. Até hoje, transcorridos quase 60 anos da implantação do modelo, mesmo após sua expansão e assimilação por todo o Brasil, partindo de São Paulo e, ainda, apesar das transformações que se operaram na sociedade brasileira, a Biblioteca Pública pouco ou quase nada modificou do comportamento, postura, princípios e modo de atuar daqueles primórdios. Alguns setores, não restritos exclusivamente à classe dos profissionais bibliotecários, identificados com os segmentos populares dos países do terceiro mundo, procuravam - e ainda procuram - formas alternativas de trabalho com a cultura popular. A biblioteca faz-se presente nas preocupações desses setores, embora descartem a Biblioteca Pública, na forma como hoje se apresenta, pois a consideram comprometida com a ideologia dominante e, portanto, inadequada para responder às necessidades e interesses das classes populares. Opta-se, então, pela criação dos Centros de Documentação Popular e das Bibliotecas Populares. Evidentemente, as discussões e as experiência ocorridas, com ou sem a presença de bibliotecários qualificados por cursos superiores específicos, alcançam o seio da classe biblioteconômica que acaba parindo debates e questionamentos. Infelizmente, os rebentos que resultam desse doloroso parto, além de prematuros foram arrancados à forceps e acarretaram problemas no organismo bibliotecário até então possuidor de um regular, metódico e sistemático metabolismo. É preciso que se diga que o corpo biblioteconômico sobrevivia dentro de uma escorreita harmonia, às custas de amargos e poderosos remédios que o mantinham em estado de completa letargia. Os estragos e rebuliços que poderiam ter causado tais debates e questionamentos foram sustados e amenizados, evitando-se abrir espaços para esses arautos do apocalipse. Os Congressos restringiam a participação deles e as revistas especializadas não publicavam seus artigos. Os alternativos que procurem suas negas, quer dizer, suas alternativas. Serão impedidos à todo custo, de contaminar os órgãos sadios que mantêm o equilíbrio e dão sustento a um corpo estremecido. A resposta mais forte às pretensões dos defensores da Biblioteca Popular, foi o surgimento da idéia de Biblioteca Comunitária. Amenizava-se a concepção mais radical proveniente da proposta da Biblioteca Popular, cujo número de adeptos começava a crescer. Alguns ainda hoje teimam em afirmar, embora contestados, que o termo Biblioteca Comunitária foi engendrado nos intestinos do Centrão - grupo de Deputados Federais e Senadores, suprapartidário, que se formou por ocasião da Constituinte brasileira de 1988. Deixando de lado seu surgimento, o certo é que a reação acabou conseguindo seu intento: hoje, o termo Biblioteca comunitária foi assimilado e aceito, enquanto Biblioteca Popular continua rejeitada e marginalizada. Entretanto, o número de Bibliotecas Populares e Centros de Documentação Popular implantados e em funcionamento é muito maior do que as experiências concretas de Bibliotecas Comunitárias. A mesma reação também atingiu uma das noções básicas das Bibliotecas Populares: a informação social. Contra ela, e com o mesmo espírito amenizador e desarticulizador, os teóricos, como diríamos, tradicionais da Biblioteconomia, criaram o termo informação utilitária. Não é necessário muita reflexão (diríamos até que está ao alcance de qualquer bibliotecário) para se concluir que informação utilitária objetiva suavizar as propostas, mais radicais evidentemente, da informação social. Alega-se que a utilitária é mais abrangente, evitando assim, a priorização de uma classe social em detrimento das outras, ou seja, deixando tudo como está, alterando-se apenas os nomes das coisas. Não é a primeira vez que, na Biblioteconomia, os nomes são alterados sem que nada se modifique: basta lembrarmos o novo currículo mínimo implantado em 1984. A Biblioteca Pública foi rejeitada, como vimos anteriormente, porque sua atuação, na maioria dos casos, ainda hoje, parece indicar um comprometimento com a ideologia dominante. Estaria, dessa forma, em dissonância com os interesses e as necessidades das classes populares. As Bibliotecas Populares e os Centros de Documentação Popular, ao contrário, estariam não só comprometidos com as classes populares, como também teriam participação e presença concreta entre elas. No entanto, a infra-estrutura, os serviços, os suportes, os trabalhos etc., tanto na Biblioteca Pública como na Popular, teriam poucas variações. Nossa hipótese é de que a diferença entre elas está centrada na ideologia que permeia, perpassa e fundamente cada uma delas; que o conformismo e o revolucionário, embora opostos, podem qualificar tanto a Biblioteca Pública como a Popular, ou seja, não é a denominação que acompanha uma Biblioteca que a transforma em mais ou menos comprometida com as classes populares, mas a priorizaçåo, a determinação do público para o qual está ela voltada e o direcionamento de todas as suas atividades para satisfazer as necessidades dele, além de veicular seus interesses e participar de sua história. http://www.ofaj.com.br/pessoais_conteudo.php?cod=9 Quem determina o caminho, a opção da biblioteca pública (conformista ou revolucionária) é o bibliotecário. Na verdade, podemos agora afirmar que a biblioteca pública, deixando de lado maniqueísmos e antagonismos, é ao mesmo tempo revolucionária e conformista, que a biblioteca pública, a exemplo de várias outras instituições, é ambígua, é contraditória por natureza. Não há instituições puramente revolucionárias ou puramente conformistas, todas carregam e exteriorizam as duas posições. Qualquer posição assumida pela biblioteca, de forma consciente ou inconsciente, não está isenta ou imune à outra, pois não existem posturas ou lados exclusivos. A biblioteca pública penderá para o lado determinado pelo bibliotecário. Embora parecendo nula, a profissão do bibliotecário reveste-se de extrema importância. Não de uma importância passiva, restrito ao mero trabalho de fornecer livros previamente solicitados pelos usuários, mas de uma importância ativa, reflexo e conseqüência de uma atividade que exige posicionamentos e opções a cada momento. Para cada questão formulada por um usuário, existe a necessidade de uma atividade diferenciada, de uma opção quase que única de atendimento. A estratégia de busca é diferente, em cada pesquisa, pois deve adequar o tipo de informação àquele usuário em particular. Sem uma postura, sem um posicionamento anterior, é impossível atuar sobre aquela relação com um mínimo de coerência. Falta ao bibliotecário uma discussão consigo mesmo, um questionamento sobre sua postura, seu modo de ver, interpretar e entender o mundo, fazendo-se partícipe das decisões sobre os destinos da sociedade. Da mesma forma, deve estar ele preocupado em oferecer aos usuários, à comunidade, ferramentas e instrumentos que auxiliem a participação deles também na gestão dos rumos da sociedade. Hoje, o bibliotecário está alheio e excluído desse processo, o que pode ser o principal motivo pelo qual é reconhecido pela sociedade como um profissional inútil. Talvez, como marginalizado, reste ao bibliotecário a subversão. Uma subversão que possui os instrumentos para implantá-la, uma subversão que possa ser oferecida e, quem sabe, ansiada pela sociedade. Retomamos, porque ainda válidas, duas propostas que apresentamos e defendemos em outros momentos: para o bibliotecário passivo, descrente de sua profissão, a terapia do analista de Bagé: a terapia do joelhaço. E, como segunda proposta, acrescentarmos o adjetivo “guerrilheira” à Biblioteconomia, pois ainda necessitamos de uma biblioteconomia guerrilheira. ... Sobre Oswaldo Francisco de Almeida Júnior Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.

INFORMACAO E CONHECIMENTO: desafios do administrador do futuro

http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=981 Elaine Cristina Lopes Nas ultimas décadas convivemos com o fato de que o meio empresarial, de um modo geral, vem sofrendo intensas transformações, grande parte causadas pelo desenvolvimento de novos modelos de gestão, do incremento das tecnologias de informação e comunicação, bem como o fenômeno da globalização. Todo esse desenvolvimento culminou no aumento do número de empresas, da mão de obra capacitada e do nível de exigências dos consumidores, fatores esses que geram, naturalmente, a concorrência. Como meio de suportar os intensos avanços da competitividade, as empresas passaram a investir em estratégias de sobrevivência. No Brasil, especialmente, os modelos baseados em estratégias ganharam grande espaço, já que a abertura de mercado trouxe uma quantidade grande de novas empresas, cujas tecnologias e know how apresentavam-se mais avançados. Desse modo, a partir da década de 1990, o avanço na implementação de modelos de estratégia, a criação de áreas especificas de inteligência nas organizações e a remodelagem profissional nesse âmbito, cresceram de forma exponencial. Destaca-se que os modelos de gestão se desenvolvem em alta velocidade, ainda que tenhamos tido um período de cem anos na produção de grande parte desses modelos, visto que a administração empresarial tem evoluído sobremaneira desde o início da década de 1910 quando ocorreram grandes saltos em seu desenvolvimento, especialmente no âmbito industrial. Contudo, a década de 1990 passou a produzir provavelmente uma das mais elaboradas concepções sobre gestão, estratégia, inteligência e competitividade do meio empresarial. Naquela década, cujas características acima mencionadas pressionavam as empresas a buscar desenvolvimento, nascia também grande parte dos modelos de gestão baseados em informação. Tais modelos se desenvolvem ate os dias de hoje a passos largos, intensos, avançando para uma sociedade conhecida por representar a “Era da informação”, sendo também muitas vezes identificada por alguns meios como sendo a “Sociedade do Conhecimento”. Nesse contexto, o papel do administrador passou a ser de superação, já que lidar com informação não se trata de tarefa fácil, considerando-se que esta existe e se dissemina via fluxos informacionais, os quais percorrem as veias das empresas sob as formas formais e informais. Esses fluxos formais e informais são diversos, fluidos, possuindo muitas vezes uma velocidade que dificulta sua apropriação quando estão sob a forma informal. Quanto aos registros e suportes que armazenam os fluxos formais, estes nem sempre são utilizados da forma adequada pelas empresas, já que as mesmas nem sempre lidam de maneira adequada com seus documentos que necessitam de manuseio especial, mas especialmente quando se faz uso de tecnologias, considerando-se que nem todas as empresas conseguem adaptar-se ao uso dos mesmos, sendo ainda que muitas não possuem recursos para os pesados investimentos nesta área. Ao mesmo tempo em que se lida com o desafio da gestão interna da informação, se faz necessário gerir também a informação externa, que independe muitas vezes do próprio negócio na empresa. São as chamadas informações conjunturais, que dizem respeito ao setor especificamente a questões políticas, composição de dados econômicos (micro e macro), incluindo-se também informações culturais, geográficas, regionais, indo até inclusive a esfera biológica. Destaca-se, sob essas considerações, as afirmações de Lopes (2010), porquanto a autora afirma que, o conhecimento no contexto empresarial é extremamente importante, não somente enfocando o contexto interno, como o compartilhamento de informação sobre as rotinas da empresa. Extrema importância deve dada ao contexto externo, considerando-se os demais interessados nos negócios da empresa como clientes e investidores, por exemplo. Tais públicos necessitam de uma gama de informações que serão fundamentais para o processo de construção de conhecimento sobre os produtos, serviços e negócios de um modo geral. (LOPES, 2010, p. 58) Nesse sentido, pode-se afirmar que a informação é, sem dúvida, insumo fundamental para o trabalho dos administradores, uma vez que estes tomam suas decisões realizando a avaliação de um conjunto de informações diversas que podem impactar de forma positiva ou negativa nos negócios. Sob essa perspectiva, é fundamental destacar a importância da construção de conhecimento nesses ambientes, já que este é baseado na apropriação de informações, sua interpretação, avaliação por parte dos administradores no que tange ao negócio, ou seja, a apropriação de um conjunto de informações, ou de uma informação especifica, constitui-se como parte fundamental do processo de construção de conhecimento. Portanto, evidencia-se que a informação é extremamente relevante para a construção de conhecimento no âmbito empresarial, pois é a partir do momento em que o administrador se satisfaz com as informações acessadas e apropriadas, teoricamente está mais bem preparado para tomar a melhor decisão. Para Castells (2005) no novo tipo de economia a fonte fundamental de desenvolvimento se encontra na habilidade de obter novos conhecimentos e aplicá-los a cada espaço das atividades humanas, por meio de procedimentos vinculados a informação. Considerando-se o atual estágio de competitividade empresarial, já mencionado, que vem marcado por constantes mudanças e necessidade de desenvolvimento, é essencial lançar mão da gestão da informação como ferramenta de análise, identificação e compreensão da estrutura do mercado em que a empresa atua, considerando-se que este instrumento é capaz de auxiliar na definição e no posicionamento estratégico da empresa. Quanto ao posicionamento estratégico e níveis de tomada de decisão, destaca-se a abordagem da Figura 1. Figura 1: Tomada de decisão baseada em informação e conhecimento no contexto empresarial. Fonte: Elaborado pela autora A figura apresentada destaca os níveis existentes dentro de uma empresa, considerados aqui de uma forma genérica, já que um ambiente empresarial possui inúmeros níveis departamentais. Nesse sentido, destaca-se as relações internas e externas da empresa, no tocante a apropriação e uso da informação. Observa-se que o nível estratégico utiliza um conjunto de informações externas, nos níveis micro e macro, não utilizados pelo nível operacional, que por sua vez necessita mais de informações sobre políticas internas, processos, rotinas, métodos racionais e não interpretativos, pois trata-se de uma área que realiza a produção de bens e/ou serviços, ao passo que as áreas estratégicas da empresa realizam todo o processo de tomada de decisão, análise de setor de atuação, considerações sobre abertura de filiais que necessita a avaliação interpretativa e realização de pesquisas, enfim, são tomadas de decisões baseadas em informações, porém, cada um possui focos e fontes distintas, bem como um processo de apropriação particular e, consequentemente, a construção de conhecimento específica. Quanto ao papel do administrador no processo de apropriação e uso da informação como subsídios para a construção do conhecimento organizacional, pode-se afirmar que este deve considera-lo em função dos indivíduos que nela atuam, seja a partir do conhecimento trazido pelos fundadores ao longo dos anos e que foi sendo construído na medida em que os processos e métodos da empresa foram sendo elaborados. Também se considera o conhecimento advindo de experiências trazidas de fora por executivos contratados, constituindo o conjunto de saberes que fazem parte do conhecimento organizacional. Pode-se dizer que o administrador torna-se capaz de desenvolver estratégias baseadas em informação e conhecimento, quando passa a compreender questões como: § onde estão as informações da empresa; § quais os fluxos informacionais existentes no ambiente empresarial; § quais são e onde estão as informações do âmbito externo que podem impactar o negócio da empresa; § onde está o conhecimento da minha equipe e, especialmente, de que forma eu posso utilizar o conhecimento existente dentro da empresa como ferramenta de gestão estratégica. Finalizando, argumenta-se que o papel do administrador na gestão da informação deve ser visto como um processo capaz de ampliar as possibilidades estratégicas da empresa, considerando-se que a informação é base para o processo de planejamento, controle financeiro, análise de cenários, pesquisas com consumidores, planejamento de marketing, gestão de estoque, gestão de produção e logística, e a tomada de decisão propriamente dita. Nessa perspectiva reside a necessidade da apropriação e uso oportuno da informação como subsídios para a construção de conhecimento. Referências CASTELLS, M. Innovación, libertad y poder en la era de la información. In: FORO SOCIAL MUNDIAL. Conferência…Porto Alegre, 2005. LOPES, E. C. Construção de conhecimento em governança corporativa: estudo sobre a criação de valor para tomada de decisão de investidores no mercado de capitais. Marília: Unesp, 2014. 228f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - Faculdade de Filosofia e Ciências - Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Marília, 2014. Sobre Elaine Cristina Lopes Doutora em Ciência da Informação (UNESP-Marília). Docente do Departamento de Administração da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR).

COMO A BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA PODE CONTRIBUIR PARA AS PRÁTICAS DE PESQUISA?

A biblioteca universitária é um dos ambientes que atuam de maneira mais enfática e plural com processos, gestão, tecnologias e fluxos de informação, visto que conciliam formas técnicas, pedagógicas e institucionais de intensificar as práticas de informação para e com a comunidade de usuários. Nos processos de informação atuam com as práticas de organização, armazenamento, mediação, disseminação, acesso, uso e apropriação da informação. Na gestão da informação, atuam no sentido de, através das ações qualificadas de pessoal (equipe da biblioteca) contemplando competências e habilidades, dinamizar práticas de identificação, busca, organização, serviços/produtos e tecnologias de informação, com a finalidade de auxiliar a comunidade de usuários a tomar decisões em aspectos imediatos e mediatos, além de produzir novos conhecimentos. Nas tecnologias de informação, atuam no uso das diversas ferramentas e suportes, especialmente de cunho digital a fim de aprimorar formas de acesso e uso da informação para além das condições espaço-temporais do ambiente físico da biblioteca. Nos fluxos de informação, atuam na pretensão de estimular os procedimentos de fluidez da informação, via serviços, produtos, comunicação científica, práticas processuais, gerenciais e tecnológicas favorecendo a circulação e movimentação entre a biblioteca universitária e a comunidade interna e externa. Um dos aspectos fundamentais da biblioteca universitária no que se refere à atuação com informação é concernente a pesquisa da comunidade acadêmica de uma forma geral, incluindo docentes, discentes, técnico-administrativos e comunidade externa (usuários diversos que buscam a biblioteca para o desenvolvimento de estudos e pesquisas). É muito comum nos manuais que orientam os programas de ação da biblioteca universitária, a ideia de que um dos papeis centrais deste ambiente de informação é o auxílio às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Embora esse tripé seja muito redutivo para denotar os múltiplos papeis da Universidade, uma vez que também é pertinente indicar atividades de orientação, gestão, cultura, organização político-social, internacionalização e inovação e como todos essas atividades se definem na base de suas intercorrências e interlocuções entre si. A pesquisa, aqui entendida como um conjunto de ações sistemáticas, visando à construção de novos conhecimentos e contribuindo para o desenvolvimento social, deve ter na biblioteca universitária um expressivo amparo, desde as pesquisas mais basilares como pesquisas de opinião, atividades de graduação como relatórios de estágios, trabalhos de disciplinas, entre outros até pesquisas científicas que demandam uma perspectiva eminentemente estratégica, especializadamente metodológica, sistemática e continuada nos mais dissímeis ramos do conhecimento como Ciências Exatas, Ciências Tecnológicas, Ciências da Saúde, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Jurídicas etc. De imediato, conforme a pluralidade das áreas do conhecimento supramencionadas no parágrafo anterior, é possível observar que a biblioteca universitária é um ambiente múltiplo e plural, visto que se constitui como um sistema de informação reticular que se particulariza em bibliotecas setoriais e peculiares de vários Centros do conhecimento e cursos específicos de graduação e pós-graduação e que podem cooperar entre si para o desenvolvimento das práticas informacionais otimizando os processos de relação e satisfação da comunidade de usuários. Ainda de imediato, é possível perceber que se as áreas do conhecimento representam uma pluralidade de saberes, torna-se evidente que apresentam uma diversidade de usuários exigindo da biblioteca universitária práticas gerais e específicas que satisfaçam a dinâmica de busca, acesso e uso dos usuários por informações que os auxiliem no desenvolvimento de pesquisas. Desse modo, cabe elencar subsídios hermenêuticos e estratégicos para responder a pergunta-título do texto “Como as bibliotecas universitárias podem contribuir para as práticas de pesquisa?” A priori, a biblioteca universitária possui meios diversos para encaminhar práticas informacionais de incentivo à pesquisa que vão desde a dinamização do acervo, passando pela proposição de serviços/produtos até o uso variado de tecnologias de informação. Fundamentalmente, as práticas informacionais das bibliotecas universitárias devem ser constituídas de maneira complementar buscando formas diversas de estímulo à pesquisa contemplando as idiossincrasias alusivas à comunidade de usuários da informação. Nessas práticas, a prática dialógica e integrada entre processos, gestão, tecnologias e fluxos de informação é condição fundante para o êxito da biblioteca universitária como ambiente estimulador da pesquisa. Diante de tal questão/discussão, o quadro abaixo demonstra possíveis contribuições da biblioteca universitária como fomentadora das práticas de pesquisa: Quadro 1 – Contribuições da biblioteca universitária para as práticas de pesquisa Tipos de práticas Perspectivas de ação Dinamização do acervo/uso das fontes de informação - considerar como acervo da biblioteca o material direto (aquele oficial que congrega a biblioteca como livros, e-books, periódicos e literatura cinzenta) e o material indireto (aquele não-oficial como bases de dados, repositórios institucionais, bibliotecas digitais, periódicos eletrônicos, materiais audiovisuais, iconográficos, cordéis etc.) valorizando formas de disseminação diversas do acervo direto e/ou indireto junto à comunidade; - exposição presencial e virtual dos acervos em formato físico e digital; - frequente divulgação de acervos de bases de dados especializadas, repositórios institucionais e bibliotecas digitais; - realização de eventos (palestras, mini cursos etc.) com base em assuntos do cotidiano científico valorizando a participação de autores que doam ou ajudam a compor o acervo da biblioteca; - valorização do serviço de alerta sobre a chegada de novos materiais de acervo diretos e/ou indiretos; - elaboração de uma política de organização do conhecimento na biblioteca universitária contemplando desde o uso das técnicas para organização até suas formas de mediação/disseminação. Serviços de referência físico e virtual - auxílio bibliográfico para a comunidade em nível físico e virtual; - provisão de documentos para a comunidade em nível físico e digital; - serviço de alerta informal (exposições sobre aspectos da ciência e práticas de pesquisa) e formais (lista de novas aquisições de acervo direto e indireto da biblioteca) em nível físico e virtual; - orientação ao usuário com consultas orientadas e cursos de fundamentação bibliográfica e documentária que estimulem a busca multiplicada na variedade de acervos diretos e indiretos. Serviços de disseminação seletiva da informação físico e virtual - disseminação de materiais sobre práticas de pesquisa (metodologias, conhecimento científico, elaboração de trabalhos acadêmicos); - disseminação de materiais via e-mail e outros elementos virtuais, conforme demanda do usuário e da área do conhecimento em que está inserido (é fundamental que a biblioteca possua um banco de dados em seu sistema ou mesmo em pastas internas nos computadores com artigos, e-books, literatura cinzenta e outros suportes documentais para servir à comunidade quando solicitar em escala presencial ou virtual); - estabelecer processos de disseminação considerando o tipo de usuário (estudante, professor, técnico, comunidade externa), conteúdo/área do conhecimento (respeitar as particularidades do conhecimento solicitadas pelo usuário), o tipo de acervo (a diversidade de materiais existentes na biblioteca e na web de uma forma geral) e os meios para disseminação (e-mail, redes sociais, sistemas, sites, blogs etc.). Serviços de informação utilitária físico e virtual - divulgação dos aspectos do cotidiano científico contemplando aspectos temáticos, autorais, culturais e de utilidade pública, através de balcão de informações físico e virtual, eventos, informações em murais, divulgação na web, relativos a: Ciências da saúde (realização de atividades sobre elucidação de doenças, prevenção de doenças, sistema de saúde, uso de medicamentos, tratamentos mentais e orgânicos, benefícios das atividades físicas, indústria farmacêutica, criação de novos medicamentos e tratamentos, causas/consequências de doenças, produção científica no campo da saúde etc.); Ciências Humanas (realização de atividades sobre realidades/fenômenos/objetos históricos, sociológicos/antropológicos/políticos, educacionais, filosóficos, linguísticos, psicológicos e jurídicos); Ciências Sociais Aplicadas (realização de atividades alusivas aos campos da Informação, Comunicação, Administração, Economia, Contábeis, Atuariais, Turismo, Secretariado, Políticas Públicas, entre outros); Ciências Tecnológicas (realização de atividades alusivas às práticas técnico-científicas das Engenharias, Computação, Sistemas de informação etc.); Ciências Exatas (realização de atividades nos campos da Matemática, Física, Química, Estatística etc.); Ciências Agrárias (realização de atividades alusivas às questões da Agronomia, Agroecologia, Engenharia Florestal, Engenharia de Pesca, Engenharia de Alimentos, Medicina Veterinária, Zootecnia e outras); Educação e Cultura (realização de atividades no campo da Educação, Música, Estilismo, Artes como teatro, dança etc.; Metodologia e Ciências em geral (realização de atividades diversas sobre o cotidiano da ciência como a aplicação de novos métodos e técnicas, normalização documentária, pesquisa bibliográfica/documental, descobertas da ciência e valorização da transversalidade do conhecimento científico). Produtos de informação físico e virtual - elaboração de manuais em formato presencial e principalmente virtual sobre normalização documentária; - elaboração manuais/guias/cartilhas sobre acesso a bases de dados especializadas; - elaboração de manuais/guias/cartilhas para acesso a e-book, periódicos e anais de eventos; - elaboração de manuais/guias/cartilhas sobre metodologia da pesquisa e ciência no geral; - elaboração de manuais/guias/cartilhas sobre organização/preenchimento de currículos; - elaboração de manuais/guias/cartilhas sobre o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos; - orientação sobre a construção de projetos para concorrer a editais internos (própria Universidade) e externos (órgãos de fomento públicos e privados); - construção de aplicativo incentivando acesso à informação científica disponibilizada oficialmente pela biblioteca e dos aspectos científicos em geral existentes nos ambientes virtuais; - criação de repositório institucional para cadastro da produção científica docente, discente e técnico-administrativa da Universidade; Ações culturais - eventos como palestras, cursos, minicursos, diálogos formais e informais, grupos de estudo etc. que valorizem a cultura das comunidades científicas fomentando a construção dos paradigmas e reflexões sobre os rumos científicos das áreas do conhecimento; - elaboração de manuais/guias/cartilhas que estimulem no meio acadêmico a elaboração de projetos para concorrer a editais locais, regionais, nacionais e internacionais da Cultura de cunho público, privado e misto; - práticas de mediação cultural sobre ciência, pesquisa e metodologia para usuários ingressantes na Universidade (estudantes, técnicos e docentes que acabam de ingressar na instituição); - práticas de mediação cultural sobre ciência, pesquisa e metodologia para usuários especializados como docentes e pesquisadores. Educação de usuários - realização de cursos/oficinas/treinamentos sobre normalização documentária; - realização de cursos/oficinas/treinamentos sobre acesso as bases de dados; - realização de cursos/oficinas/treinamentos sobre diversos setores do conhecimento como Saúde, Humanas, Sociais Aplicadas, Tecnológicas, Exatas, Agrárias, Educação/Cultura e Ciências no geral, conforme solicitações e diálogos com a comunidade; - disponibilizar espaços físicos e virtuais para que os usuários possam reunir-se para debater temas diversos sobre pesquisa, metodologia, atuação acadêmica e outros aspectos da realidade científica; - realização de cursos/oficinas/treinamentos utilizando a participação dos próprios docentes/pesquisadores, estudantes e técnico-administrativos aproveitando as competências e habilidades da comunidade para promoção dos serviços de educação de usuários; - é fundante a concessão de certificados para a comunidade que ministra e participa dos cursos/oficinas/treinamentos, visando formalizar e promover credibilidade institucional as atividades da biblioteca. Por isso é fundamental a parceria da biblioteca universitária com cursos (coordenações/departamentos/centros), gestores e a comunidade de usuários no geral. Comunicação científica - estímulo a elaboração, mediação e uso de ambientes científicos como base de dados, repositórios institucionais e bibliotecas digitais; - valorização da gestão de dados científicos garantindo formas de preservação e divulgação da produção científica; - estímulo a prática do acesso livre à informação científica e tecnológica; - valorização das atividades de input e output para produção do conhecimento científico nas Universidades pela comunidade acadêmica no geral; - o uso de ferramentas/suportes como a via dourada (aplicação do Open Journal Systems) e a via verde (E-prints, DSpace, Fedora, entre outros); - orientação sobre os processos de estruturação de um periódico científico em cursos/departamentos/programas de pós; -orientação referente a produção, editoração, submissão, diretrizes para periódicos e eventos; - orientação para elaboração de anais de eventos; - orientações sobre uso e disseminação de e-books. Políticas de informação científica e tecnológica - elaboração de políticas para organização do conhecimento; - elaboração de políticas para o uso de tecnologias digitais; - elaboração de políticas para gestão da informação científica; - elaboração de políticas para preservação da memória científica; - elaboração de políticas para o desenvolvimento da pesquisa, internacionalização e inovação da produção científica da comunidade acadêmica; - elaboração de políticas de incentivo à produção de livros, artigos e outros trabalhos científicos; - elaboração de ações de incentivo a construção de projetos de pesquisa para docentes; - elaboração de políticas para iniciação científica. Preservação da memória científica - criação de meios virtuais para preservação do conhecimento científico como repositórios, bases de dados, banco de dados e bibliotecas digitais valorizando a preservação da produção de conhecimentos da comunidade acadêmico-científica interna e externa; - respeitar informações confidenciais que exigem privacidade (valorização do uso de criptografias); - fortalecimento continuado das políticas de organização e representação da informação; - práticas de preservação e conservação de acervos físicos através de campanhas de conscientização; - práticas especializadas de restauração de acervos; - dinamização da política de desenvolvimento de coleções valorizando múltiplos suportes no contexto dos processos de aquisição, seleção, doação, troca, cooperação e descarte entre bibliotecas universitárias. Fonte: elaborado pelo autor Diante do quadro é possível perceber que a biblioteca universitária possui um locus extenso de atuação como ambiente de informação estimulador da pesquisa. Vale ressaltar que todos os aspectos mencionados não se excluem, mas, ao contrário, se complementam, promovendo maior envergadura técnica, pragmática e pedagógica das práticas informacionais da biblioteca universitária. Evidentemente que muitas práticas propostas no texto são inviabilizadas por falta de pessoal, infraestrutura física, tecnológica, além de recursos financeiros. No entanto, diante da imensidão de possibilidades de atuação, a gestão da biblioteca universitária pode priorizar o que for mais viável para aplicação contemplando um pouco de cada ponto explanado e buscando, através de parcerias com a comunidade acadêmica e com instituições organizações público-privadas, formas de dinamização das atividades de informação para o incentivo à pesquisa. Portanto, respondendo à pergunta-título do texto, a biblioteca universitária é um ambiente profícuo de atuação para auxiliar a pesquisa no contexto macro via processos, gestão, tecnologias e fluxos de informação e no contexto micro via dinamização do acervo, serviços e produtos de informação, ações culturais, educação de usuários, comunicação científica, políticas de informação científica e tecnológica e preservação da memória científica. ANEXO Para saber um pouco mais sobre aplicações de serviços de informação utilitária, acesse o link: http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=925 Para saber um pouco mais sobre aplicações da disseminação seletiva da informação acesse o link: http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=968 Sobre Jonathas Carvalho Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA).

UMA NOVA AUTORIDADE NO FORMATO MARC

http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=1025 Em 17 de novembro de 2016 a Library of Congress publicou nova atualização do formato MARC, por meio do update 23. O sitio da LC (http://loc.gov/marc/status.html) disponibiliza as alterações do formato desde o final dos anos 1990. De 1999 e até 2011 as alterações ocorriam com periodicidade anual. De 2012 a 2016 tem sido publicadas duas atualizações por ano, em decorrência do RDA. Até abril de 2016 as novidades não causavam alterações significativas nas bibliotecas brasileiras, afinal, poucas instituições manifestaram publicamente sua adesão ao novo padrão de catalogação. Este update de novembro, entretanto, trouxe algumas novidades, com a criação de uma nova autoridade. A nova autoridade está relacionada com assuntos. Seu título original é Subject Added Entry – Named Event e, numa primeira olhada, causou confusão. Para que uma nova autoridade sobre Evento, com a existência da autoridade 111 (Meeting Name)? Porém, esta autoridade não está relacionada com eventos, mas com Acontecimentos, numa tradução livre. Espera-se que os catalogadores brasileiros consolidem a nomenclatura adequada a esta autoridade para o português, visando não confundir bibliotecários e usuários, caso esta autoridade entre em uso no país. Não se trata de uma autoridade que possa ser utilizada como Entrada principal. No universo das tags 1XX não houveram mudanças, com utilização dos campos tradicionais: Pessoa (100), Entidade (110), Evento (111) ou Título uniforme (130). A nova autoridade está relacionada com os assuntos (6XX), incluindo categoria para descrição de Acontecimentos, anteriormente registrados como Termo tópico (650). Esta atualização, portanto, resulta em novos campos de autoridade e bibliográfico, conforme demonstrado abaixo: MARC Autoridade Indicador 1: # indefinido Indicador 2: # indefinido 147 |a Nome do acontecimento (NR) - Named event |c Local do acontecimento (R) – Location of named event |d Data do acontecimento (NR) – Date of named event |g Informação diversa (R) – Miscellaneous information |v Subdivisão de forma (R) – Form subdivision |x Subdivisão geral (R) – General subdivision |y Subdivisão cronológica (R) – Chronological subdivision |z Subdivisão geográfica (R) – Geographic subdivision |6 Ligação (NR) - Linkage |8 Campo de ligação e número de sequencia (R) – Field link and sequence number Junto a esta autoridade, novos campos foram criados: 447 – Remissiva Ver (R) – See From Tracing – Named event 547 – Remissiva Ver Também (R) – See Also From Tracing – Named event 747 – Vocabulário externo (R) – Established Heading Linking Entry No registro bibliográfico as alterações resultam em: MARC Bibliográfico Indicador 1: # indefinido Indicador 2: 0 – Library of Congress Subject Heading (LCSH) 1 – LC subject headings for children’s literature 2 – Medical Subject Headings (MESH) 3 – National Agricultural Library subject authority file (NAL) 4 – Fonte não especificada 5 – Canadian Subject Headings 6 – Répertoire de vedetes-matière 7 – Fonte especificada no subcampo |2 647 |a Nome do acontecimento (NR) - Named event |c Local do acontecimento (R) – Location of named event |d Data do acontecimento (NR) – Date of named event |g Informação diversa (R) – Miscellaneous information |v Subdivisão de forma (R) – Form subdivision |x Subdivisão geral (R) – General subdivision |y Subdivisão cronológica (R) – Chronological subdivision |z Subdivisão geográfica (R) – Geographic subdivision |0 No. de controle da autoridade ou no. padrão (R) – Authority record control number or standard number |2 Fonte do cabeçalho ou termo (NR) - Source of heading or term |3 Materiais especificados (NR) - Materials specified |6 Ligação (NR) - Linkage |8 Campo de ligação e número de sequencia (R) – Field link and sequence number Segundo as instruções fornecidas pela LC, o Nome de Acontecimento pode ser uma manifestação da natureza (terremotos, enchentes, avalanches, erupções etc.), mas também eventos que não resultam de responsabilidade de um único agente, como batalhas, crises econômicas, manifestações, guerras etc. Os eventos que dizem respeito a conferências, congressos, palestras, atividades esportivas, competições, expedições, feiras, festivais, torneios etc., continuam a ser registrados na tag 611 (autoridade 111). Dentre os exemplos observados no sítio da LC encontram-se: Registros de autoridades: 147 ## |a Erupção do Vesúvio |c (Itália :|d 79) 147 ## |a Incêncio no Teatro Iroquois |c (Chicago, Illinois : |d 1903) 147 ## |a Revolução |c (Armenia : |d 1917-1920) 147 ## |a Quebra da Bolsa de Valores |d (1929) Registros bibliográficos: 647 #7 |a Furacão Katrina |d (2005) 647 #7 |a Bunker Hill, Batalha do |c (Boston, Massachusetts : |d 1775) 647 #7 |a Fome |c (Irlanda : |d 1845-1852) Criando alguns exemplos: 147 ## |a Guerra dos Canudos |c (1896-1897 : |d Bahia) 747 #1 |a War of Canudos |c (1896-1897 : |d Bahia) 647 #7 |a Guerra dos Canudos |c (1896-1897 : |d Bahia) 147 ## |a Revolução Faurropilha |c (1835-1845 : |d Rio Grande do Sul) 447 ## |a Guerra dos Farrapos |c (1835-1845 : |d Rio Grande do Sul) 647 #7 |a Revolução Faurropilha |c (1835-1845 : |d Rio Grande do Sul) - |x História - |z Brasil 647 #7 |a Erupção do vulcão Eyjafjallajökull |c (2010 : |d Islândia) 647 #7 |a Atentados terroristas |c (2015 : |d Paris) Analisando os exemplos fornecidos pela LC, algumas situações podem ser observadas, como: a) A pontuação utilizada consiste em: |a (|c : |d), |a (|c), ou ainda, |a (d), onde local e data do acontecimento são separados da descrição principal, com os elementos representados entre parênteses, separados por dois pontos, quando ambos estão presentes. b) A autoridade não emprega ponto final em sua descrição, a não ser que termine com uma abreviação ou sigla. c) Quando o acontecimento ocorre em intervalo de tempo, os anos iniciais e finais são informados separados por hífen, como em (1917-1920). Não foram localizados exemplos com a data completa (dd-mm-aaaa), mas somente com o ano. d) O local do acontecimento pode ser um país (Itália) ou cidade (Boston, Massachusetts). Ao descrever uma cidade, aconselha-se a inclusão do Estado, para facilitar a compreensão (Chicago, Illinois). Apesar de não estar expresso nos exemplos, entende-se que não haveriam limitações para Estados, Bairros, Regiões etc., contanto que sejam indicações geográficas claras ao usuário. e) Nos registros bibliográficos, caso seja incluída subdivisão, a mesma deverá ser apresentada separada do Acontecimento por um traço [Revolução Farroupilha (1835-1845 : Rio Grande do Sul) - História – Brasil]. Não foram identificadas no sítio da LC justificativas para esta alteração, mas observa-se que proporciona melhor estruturação dos assuntos, de acordo com sua natureza, criando um conjunto de descritores específicos que podem (e devem) ser tratados de forma diferente dos termos tópicos. Isto pode proporcionar automações e enriquecimento de dados de forma automática no futuro, explorando características da Internet das Coisas, com informações complementares retiradas diretamente da Web no catálogo. Esta alteração demandará tempo aos bibliotecários para adaptação, definindo política descritiva para este tipo de assunto. Após esta definição, exigirá ajustes nos registros de autoridades e bibliográficos existentes nos catálogos, transformando assuntos ‘Termo tópico’ em ‘Acontecimento’, alternando os campos. É necessário aguardar as respostas dos bibliotecários brasileiros em relação a esta nova autoridade, assim como o tempo necessário para a realização de ajustes aos legados. Sobre Liliana Giusti Serra Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP). Mestre em Ciência da Informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Bibliotecária com especialização em Gerência de Sistemas e Serviços de Informação pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP). Profissional de Informação dos softwares SophiA Biblioteca, SophiA Acervo e Philos.

O LIVRO E A BIBLIOTECA SEM PAPEL NA EDUCAÇÃO

http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=1027 No mês de outubro, e até de forma discreta, ocorreu a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca. A comemoração é estabelecida com início no dia 23 de outubro e término no dia 29 do mesmo mês, o último dia é consagrado como o "Dia Nacional do Livro", pela Lei nº 5.191, de 18/12/1966. A Semana foi instituída por meio do Decreto nº 84.631, de 09/04/1980, que também fixa o dia do Bibliotecário. O Dia Nacional do Livro (29/10) é homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo e também a maior biblioteca da América Latina. O núcleo da Biblioteca Nacional é legado da Real Biblioteca Portuguesa que aqui chegou em 1811, após a vinda da Família Real, em 1808, fugindo da invasão de Portugal pelas tropas francesas de Napoleão. A promoção do livro no Brasil tem sido o ponto forte das bibliotecas públicas brasileiras. Estudo conduzido pela Fundação Pensamento Digital mostra que as ações para preservação de memória e estímulo a escritores também se destacam nos serviços prestados. No ambiente da educação básica e médio, há o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que fornece, desde 1997, obras de literatura e pesquisa, revistas e periódicos para que toda escola pública tenha uma "biblioteca" para os seus alunos. O Programa é executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), e atende em todos os estados do país, escolas públicas responsáveis pela educação infantil, pelo ensino fundamental e pelo ensino médio, cadastradas no Censo Escolar. Existe ainda o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) articulado pelo Ministério da Cultura (MinC) e o Ministério da Educação (MEC), e que envolve centenas de ações, projetos, programas e políticas governamentais. Nesta articulação ressalta a Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) e o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBC) como responsáveis por efetivar ações de implantação, construção e modernização de bibliotecas em parceria com estados e municípios. O Minc é o responsável pela implantação de Pontos de Leitura, bolsas para escritores e os prêmios literários, realizados pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e pela DLLLB. Entretanto, apesar dos vários programas oficiais em defesa da valorização do livro e da leitura e, por extensão, de bibliotecas, parece haver pontos fora da curva nesta valorização e investimentos públicos. Entre o dia 10 e 11 de outubro de 2016, ocorreu um acontecimento que ilustra a triste situação da educação no Estado de São Paulo, bem como em algumas regiões do Brasil, o descaso com os livros e bibliotecas. O acervo da “biblioteca” da escola “Estadão” (Escola Estadual Júlio Prestes de Albuquerque), localizada na cidade de Sorocaba (SP) foi simplesmente destruído. O processo de destruição é realizado com os livros lançados da janela do segundo andar do prédio da "Escola" para o chão e depois jogados em um caminhão. A "Escola" que deveria formar cidadãos é a mesma que destrói ideias e conhecimentos. No vídeo disponível na web é possível ver os Alunos abismados, tentando salvar alguns dos livros assassinados pelo descaso público. A quantidade de publicações descartada era tanta que a barbárie não pode ser contida. Os livros destruídos no lançamento e jogados em um caminhão fúnebre, estavam destinados à reciclagem. Ironia para uma morte “sustentável” da memória. Entre os livros condenados, estavam vários clássicos da literatura brasileira e mundial, como Monteiro Lobato, Nicolau Maquiavel, William Shakespeare e outros. Além de enciclopédias, jornais da década de 70, alguns atlas geográficos e outros itens históricos. Foi uma condenação que só encontra similaridades no obscurantismo dos governos totalitários e em sistemas públicos de cultura e educação biblioclastas. Com recursos públicos mal geridos nas mãos de agentes públicos ineptos. O acontecimento indica a fragilidade das bibliotecas públicas escolares sujeitas ao descarte sem critério, sem metodologia, sem pessoal qualificado, sem justificativas plausíveis para tanta ignomínia que só causa indignação em quem assiste aos fatos. Fatos esses que podem ser vistos em: § Acervo de livros da escola Estadão é destruído. § Educação apura descarte de livros jogados pela janela de escola. § Funcionários calculam que 1,5 mil livros de escola foram para reciclagem. Segundo estimativa de funcionários da Coreso, uma cooperativa de reciclagem de materiais, localizado na cidade de Sorocaba, e responsável pela coleta dos materiais bibliográficos, cerca de 1,5 mil livros foram retirados da escola estadual. Apesar da polêmica causada por conta de vídeos que mostram o descarte do material, o caso está sendo investigado pela Diretoria Regional de Ensino, que alega não estar autorizada a comentar sobre a investigação. Entretanto, emitiu nota informando que o descarte das publicações não foi autorizado; que repudia qualquer "desperdício de material" e que vai punir os responsáveis. Afirma ainda que a escola Estadão tinha um acervo com mais de 4 mil livros na "sala de leitura" e que o espaço continua sendo usado pelos alunos todos os dias. Em manifestação de estudantes, foi salientado que os livros ficavam em uma sala fechada (mais ironia, pois são as chamadas “salas de leitura”) e que não teriam acesso ao material. O comentário de uma estudante demonstra a sua consciência cidadã ao dizer que: "Tudo bem que está antigo, faz uma doação. Doa para criança, que adora brincar, desenhar, recortar. Doa para uma família. Reúne e doa para as bibliotecas que não têm, para outras escolas. Mas não fazer essa situação". Ao tentar explicar o inexplicável aos estudantes, a diretoria da Escola afirmou que os livros estavam “velhos”, e por serem “antigos” não tinham mais uso, com isso tiveram que mandar para reciclagem. Na justificativa oficial nota-se uma “política de descarte estranha”. Pior ainda, quando a própria Diretoria de Ensino diz que não autorizou tal descarte de livros. Sabe-se que a Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo promoveu concurso, em 2013, para contratar 97 bibliotecários. Será que nenhum destes profissionais concursados (que ainda estão atuando no âmbito da Secretaria) poderia ter sido consultado pela Escola. Ainda assim, a cidade de Sorocaba tem uma biblioteca pública reconhecida, será que nenhum dos bibliotecários sorocabanos poderia ter sido consultado sobre a obsolescência alegada para o acervo descartado? São conjecturas é verdade, porém apesar das políticas públicas citadas, o ponto fora da curva está na ponta final do processo. E na ponta final, a realidade é muitas vezes o descaso sobre descaso, a ausência de boa gestão e de política para tratamento, preservação e descarte de coleções bibliográficas. Agora, todo o material bibliográfico descartado foi separado e vendido para reciclagem. Assim, Monteiro Lobato, Shakespeare, Machado de Assis e tantos outros irão virar bandeja de frutas, papel toalha, papel higiênico. Aliás, mais uma ironia diante da "merda feita". Monteiro Lobato dizia: "Um país se faz com homens e livros". Mas agora, se eu me livro dos livros, que resto resta para um país? Sobre Fernando Modesto Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.

O futuro das bibliotecas e o desenvolvimento de coleções: perspectivas de atuação para uma realidade em efervescência

Discute as perspectivas das bibliotecas no futuro, enfocando especificamente o papel do desenvolvimento de coleções nesse novo ambiente. Analisa aspectos relacionados com a permanência dos meios impressos, a necessidade de intermediários no fornecimento/obtenção de informação e as características das atividades do desenvolvimento de coleções em ambientes de informação eletrônica. 1 Introdução Já se tornou comum ouvir falar no fim das bibliotecas. A literatura em geral, seja a especializada em biblioteconomia e ciência da informação, seja aquela voltada para o grande público, têm divulgado previsões que louvam as delícias de um mundo onde a informação em suporte papel não passará de uma lembrança ou poderá ser encontrada apenas nos museus. Da mesma forma, personalidades famosas e conceituadas como Bill GATES (1995), fundador e proprietário da Microsoft Inc., e Nicholas NEGROPONTE (1995), diretor do Massachussets Institute of Technology (MIT), criaram cenários maravilhosos para um futuro, segundo eles já bastante próximo, no qual a informação fluirá até os interessados de maneira quase instantânea, bastando, para tanto, somente a posse de um computador munido de um mouse e de um dispositivo de comunicação. Dentro desse contexto, falar em desenvolvimento de coleções chega mesmo a ter como que um ranço de saudosismo antecipado. Afinal, esta é uma época efervescente, tanto no nível das idéias como no nível das tecnologias, que surgem e proliferam quase que num piscar de olhos. Na área da informação, esse avanço ocorreu numa rapidez espantosa, evidenciando um passado que parece apenas corroborar as previsões, pois, afinal, passamos “da biblioteca baseada em papel para a biblioteca automatizada em um período de cerca de duas décadas” (SHAUGHNESSY, 1996, p.49).

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

. Critérios para a definição de obras raras.

SANT'ANA, Rizio Bruno. Critérios para a definição de obras raras. ETD - Educação Temática Digital, Campinas, SP, v. 2, n. 3, p. 1-18, jan. 2009. ISSN 1676-2592. Discute-se a adoção de critérios de raridade em bibliotecas. Para tanto, são analisados os critérios, muitas vezes antagônicos, adotados por colecionadores e por diversas instituições públicas. Em seguida, são estudadas as normas presentes nos principais códigos de catalogação de obras raras, incluindo textos recentemente disponibilizados na Internet. Finalmente, são estudados mais detalhadamente vários textos, encontrados nos catálogos de obras raras das bibliotecas brasileiras, bem como os critérios adotados na Biblioteca Mário de Andrade, da Prefeitura Municipal de São Paulo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

COMO O BIBLIOTECÁRIO PODE ATUAR NA BIBLIOTECA ESCOLAR?

COMO O BIBLIOTECÁRIO PODE ATUAR NA BIBLIOTECA ESCOLAR? [Setembro/2016] http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=998 A atuação profissional em ambientes de informação não é um receituário em que se estabelecem de maneira pronta e acabada as perspectivas e procedimentos práticos. As formas de atuação em ambientes de informação variam conforme as necessidades/demandas/desejos/perfis da comunidade de usuários, predominância cultural, crença, gênero, escolaridade, regionalismos, entre outros quesitos. Por isso a atuação profissional merece um olhar cuidadoso e simultaneamente propositivo, visto que há uma multiplicidade de formas para planejar e agir. No caso da biblioteca escolar, a atuação profissional é complexa em face de constituir um dos públicos base de acesso à informação que são estudantes que cursam desde a educação infantil/fundamental até o ensino médio. Eis que a Biblioteconomia precisa concentrar um olhar continuado e permanente para a biblioteca escolar, pois neste ambiente reside um dos maiores potenciais de atuação do bibliotecário, seja contemplando a percepção mercadológica, seja contemplando a questão humana e pedagógica. Desse modo, a atuação de bibliotecários em bibliotecas escolares no Brasil ainda é uma realidade muito rústica no sentido de que há a necessidade legal e especializada de ocupação destes ambientes por bibliotecários e equipes qualificadas para desempenhar atividades. E quais seriam essas atividades? Este viés pragmático é relevante para denotar a atuação do bibliotecário, mas é preciso pensar num contexto totalizador que admita ser o bibliotecário um efetivo profissional que lida e atua com informação na biblioteca. Considerando essa multiplicidade de atuação do bibliotecário e equipe em bibliotecas escolares podemos ponderar que atuam da seguinte maneira, conforme indica o quadro que segue: Quadro 1: Perspectivas de atuação na biblioteca escolar SETORES DE ATUAÇÃO NORTEADORES FORMAS DE ATUAÇÃO Gestão da informação Gerenciamento do acervo Gerenciamento dos serviços; Gerenciamento das tecnologias digitais; Gerenciamento dos recursos humanos; Planejamento das atividades da biblioteca como produtos e serviços; Formas de dinamização do acervo; Oferecimento estratégico e dialógico dos serviços; Uso estratégico e interativo das tecnologias; Gestão compartilhada e participativa da biblioteca escolar liderada por bibliotecários com a participação de professores, alunos, direção e comunidade escolar no geral. Tecnologias da informação Definição de quais programas, softwares, bases de dados, redes sociais, sites, blogs e outros meios tecnológicos devem ser utilizados; Aplicações pedagógicas das tecnologias digitais. Criação de um sistema de informação software que dê conta da atividade representacional do acervo; Uso interacional das redes sociais mais utilizadas como facebook, twitter, linkedin etc.; Valorização dos serviços virtuais como forma de ampliar o acesso à informação para os usuários, tais como: serviço de referência virtual, disseminação seletiva da informação, informação utilitária e serviços de alerta. Organização e tratamento da informação Estratégias dinâmicas para representação do acervo; Uso de técnicas e linguagens documentárias para otimizar o acesso à informação. Criação de catálogos dinâmicos expostos no ambiente físico e virtual da biblioteca escolar; Formas dinâmicas de classificação: a classificação no sistema pode ser convencional, mas é interessante dispor critérios qualitativos de classificação facetada; Criação de índices, vocabulários controlados e tesauros sobre aspectos de interesse de atuação da comunidade de usuários. Recursos e serviços de informação Estratégias para oferecimento de serviços; Elaboração para o uso das fontes de informação; Definição dos produtos a serem propostos pela biblioteca escolar. Desenvolvimento de serviços diversos como informação utilitária (temáticos, autorais, culturais, utilidade pública), disseminação seletiva da informação (DSI), serviços de referência, serviço de alerta, ação cultural, promoção de leitura e pesquisa; Criação de produtos como manuais, guias, catálogos etc. Elaboração e aplicação de política de acervo que considere a diversidade documental a ser disposta na biblioteca escolar (livros, artigos, revistas, sites, blogs, bases de dados, repositórios, entre outros). Pesquisa a partir da biblioteca escolar Estratégias para promoção de pesquisa para professores, alunos e a comunidade em geral. Realização de estudo de usuários. Estímulo à pesquisa escolar para docentes por meio da orientação de projetos para aplicação na escola ou qualificação acadêmica e para alunos por meio de práticas de escrita/redação, reforço escolar, práticas artístico-culturais. Práticas mediacionais na biblioteca escolar Estratégias de mediação da informação, mediação da leitura e mediação cultural aplicadas a biblioteca escolar Estímulo à formação de competências em informação Serviços estratégicos que estimulem a leitura da palavra, leitura do mundo e fomento ao letramento informacional; Estímulo à formação da cultura da própria comunidade, da cultura regional, nacional, global e popular; Práticas de educação e treinamento de usuários sobre temas diversos relacionados à política, educação, sociedade, meio ambiente, preservação da memória, atividade artística. Fonte: elaborado pelo autor Evidentemente que este quadro não detalha o processo de atuação na biblioteca escolar, mas apenas apresenta uma estrutura geral de atuação que deve nortear as práticas do bibliotecário no sentido de constituir um planejamento estratégico para atuar. De modo geral essa atuação compreende o aprendizado na base de setores curriculares biblioteconômicos, assim como investe em estratégias pedagógicas de atuação. Vale destacar que nesta proposta não há isolacionismos, mas a ideia de uma integração disciplinar. Gestão também envolve relação com a aplicação de tecnologias, serviços, organização e práticas pedagógicas; tecnologias demandam uma atividade gerencial, organização, realização de serviços, estimulo à pesquisa e práticas pedagógicas; organização e tratamento exigem gestão de acervos, uso de tecnologias e realização de serviços e auxílio a pesquisa; recursos e serviços precisam ser gerenciados, organizados e de tecnologias digitais para um alcance mais expressivo e satisfatório, assim como dependem fundamentalmente das atividades de pesquisa e práticas pedagógicas para se consolidarem; as atividades de pesquisa, por sua vez, precisam ser gerenciadas, precisam de tecnologias para se desenvolverem, atuam como serviços e elementos de práticas pedagógicas. E, por fim, as práticas pedagógicas sintonizam um dos grandes legados contemporâneos que é compreender a biblioteca escolar como um ambiente que lida com informação a partir de práticas mediacionais diversas, visando à construção de novos conhecimentos e satisfação de necessidades/desejos/demandas da comunidade de usuários (sujeitos da informação). Isto significa que a atuação da biblioteca escolar ocupa múltiplos espaços superando a visão funcional de que cada aspecto ocupa uma atividade, mas, ao contrário, um aspecto possui múltiplas atividades de maneira integrada. O bibliotecário deve reconhecer que é na pluralidade (gestão, tecnologias, organização, serviços, pesquisa e práticas pedagógicas) que conquista o respeito da instituição e da comunidade de usuários desmistificando a ideia de que a biblioteca escolar é apenas um espaço composto de acervo, em especial, livros. Indico um processo holístico de atuação, mas enfatizo a questão inerente a gestão, tecnologias e práticas pedagógicas em virtude de que há uma crítica muito intensa acerca da qualificação do bibliotecário para atuar em bibliotecas escolares como se este profissional estabelecesse sua atuação apenas para o viés da organização e tratamento da informação, sendo as questões pedagógicas, gerenciais e tecnológicas mais voltadas para outros profissionais como professores, administradores, profissionais das áreas de tecnologias. Considero que há um reducionismo e deturpação nessa crítica, visto que a formação do bibliotecário permite uma atuação plural e diversificada. No entanto, é comum em qualquer área do conhecimento haver especialidades que norteiam a atuação dos profissionais. Houve uma ampliação formativa nos currículos de Biblioteconomia para atuação em ambientes de informação, conforme indica o quadro, mas esta ampliação ainda não foi suficientemente disseminada e assimilada por setores diversos que envolvem a atuação do bibliotecário como escolas, universidades, órgãos públicos, hospitais etc. É pertinente que, além da proposta de atuação inserida no quadro, seja considerada fundamental uma campanha maciça da Biblioteconomia fomentada pelos órgãos de classe e academia acerca do papel do bibliotecário, em especial nas bibliotecas escolares, pois é um ambiente que necessita da prática profissional de bibliotecários, mas que ainda é pouco ocupado, tanto na esfera pública quanto privada. Portanto, ao indicar alguns aspectos gerais para pensar a atuação em bibliotecas escolares (também aplicável em outros tipos de bibliotecas), a partir da tríade “setores de atuação”, “norteadores” e “formas de atuação”, este texto traz à baila uma condição articuladora entre o planejar, implementar, executar e avaliar e também entre princípios, procedimentos e finalidades das práticas em bibliotecas escolares considerando que é um campo exponencial de atuação a ser ocupado pelos bibliotecários nas mais diversas regiões do Brasil. Sobre Jonathas Carvalho Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA).

FORMAR LEITORES: EIS A QUESTÃO!

FORMAR LEITORES: EIS A QUESTÃO! [09/11/2016] Lena Lois "Os jovens de hoje não lêem!!" É muito comum hoje em dia escutarmos frases desse tipo vindas de pais e professores. Sem dúvida, os baixos índices de leitores no Brasil, sinalizados por diversas pesquisas, é um dado concreto. Estudos revelam que a média de livros lidos num país desenvolvido (a França foi tomada como exemplo maior) é de nove ao ano. O Brasil não atinge nem metade desse número! Os motivos para os insucessos da leitura são de diversas ordens. A extensa geografia do país, que impede que muitos programas educacionais cheguem às mais remotas regiões; a precária formação de muitos professores; a dificuldade de acesso aos livros (existem muitos municípios que não possuem uma única livraria ou biblioteca) e, a própria compreensão limitada sobre o ato de ler. Já não é mais tempo de discutir sobre os desusos da decodificação pura ou da grande importância do letramento. Muito menos produtivo é questionar de quem é a culpa na falta de interesse pela leitura, se da televisão ou da internet. Os conceitos de leitura, ato de ler e leitor andam imbricados num movimento dinâmico, e singular para cada um, e extrapolam todas essas proposições. Quando a criança entra na escola, mesmo na educação infantil ou na creche, ela já traz o seu repertório leitor. Não só um repertório de textos ou histórias que lhe são contadas, mas as suas próprias conjecturas, fantasias e imaginações sobre o entorno. O seu exercício de compreensão e explicação do mundo inicia com a criação de realidades paralelas. E essas realidades paralelas nascem de sensações. Sim, as primeiras leituras caminham lado-a-lado com as emoções. E é por isso que a literatura penetra no cenário infantil com o papel maior que o de promover leituras: ela se oferece gratuitamente, inteira, para que esse pequeno leitor inicie seu passeio metafórico na compreensão do mundo através da magia. A literatura pertence ao mundo das artes e é pela arte que a criança inicia seu ofício de leitor, participando das aventuras, vibrando com as conquistas, expressando seus sentimentos sobre determinadas situações. A literatura ajuda a organizar os pensamentos e construir hipóteses para compreender o mundo. A literatura promove comunicações entre quem lê e quem escuta a história. O incentivo à leitura da literatura na sala de aula é muito importante porque dessa forma não se quebra o fio que um dia uniu o leitor do mundo ao leitor do texto, da fantasia e da arte. Quando a escola encontra uma forma de destacar momentos literários, ela está permitindo que haja um espaço que transcende os espaços pedagógicos onde o aluno é valorizado em sua essência subjetiva. Ele fala. O professor escuta. Ele exercita suas possibilidades críticas e passa a confiar mais em suas reflexões. Dessa forma, também leva para o dia a dia de sala de aula uma outra forma de se relacionar com o ato de aprender. A prática de oficinas literárias (1) cumpre esse papel. Com apenas um encontro semanal de uma hora, onde os alunos se reúnem com os mediadores de leitura e, através de técnicas lúdicas se encontram com a literatura, podemos perceber a construção de uma relação diferenciada com o texto, a criatividade e seus desdobramentos. É priorizada a liberdade de expressão nesse momento. Nada se cobra sobre gramáticas ou ortografias, apenas se incentiva a invenção através da arte literária. Eles trocam idéias, realizam jogos, criam textos e aventuras e fazem desse momento um encontro de prazer com a leitura. Costumo dizer que dentro de todos os alunos existe um leitor, entretanto é necessário que se dê a ele motivos para aparecer. A importância da leitura será vista na proporção de sua função para a vida. De nada adianta impor o texto escrito sem que se apresente uma experiência de prazer sobre ele. E a literatura é essa experiência de prazer. Atuar através da arte é permitir que haja espaço para o simbólico - condição essencial do homem. A literatura não é uma forma de aprender sobre algo. Não é pedagogia. É arte. É um veículo para se aprender sobre o mundo e a humanização do homem. E penso que ensinar sobre humanização também seja papel da escola. Nota 1 Oficinas literárias: tecnologia social capaz de atrair grupos de crianças e jovens para o meio artístico/literário, culminando na sua formação leitora. Lena Lois é psicóloga, especialista em literatura pela UFBa, atualmente é diretora da Asa da Palavra - oficina e consultoria em literatura. Autora do livro "Teoria e prática da formação do leitor: o uso da literatura em sala de aula".

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Bibliotecas públicas e telecentros: ambientes democráticos e alternativos para a inclusão social

Bibliotecas públicas e telecentros: ambientes democráticos e alternativos para a inclusão social http://www.scielo.br/pdf/ci/v37n1/03.pdf Professora doutora do Instituto de Ciência da Informação da UFBA. E-mail: ambar@ufba.br Maria Dulce Paradella Mestranda do Programa de Pós-graduação do Instituto de Ciência da Informação (ICI) da Universidade da Bahia (UFBA). E-mail: dulce@attglobal.net Sônia Assis Auxiliar de biblioteca na Faculdade de Direito da UFBA e formanda em bBiblioteconomia e documentação no ICI/UFBA. E-mail: massaserena@yahoo.com.br Resumo O acesso e o uso da informação são questões relacionadas ao desenvolvimento humano em seus múltiplos aspectos. Percebe-se um diferencial entre as pessoas que têm acessibilidade aos meios de informação – uma pequena parcela da população – e as que não têm. Nesse sentido, as bibliotecas públicas, os telecentros ou, ainda, a articulação entre os dois organismos de informação são propostos com o objetivo de democratizar o acesso e o uso da informação junto às comunidades e segmentos sociais alijados da participação em sociedade. Essa é a reflexão, feita a partir da literatura e documentos sobre o objeto deste texto, com ênfase nos telecentros, visto que as bibliotecas públicas, historicamente, vêm sendo debatidas há muito tempo, enquanto que os telecentros são organismos emergentes e devem contar com políticas mais sólidas, para que não esbarrem nos mesmos entraves que impossibilitaram o sucesso daquelas. Iniciativas de comunidades, em particular, têm oferecido resultados otimistas nesse sentido. Palavras-chave Biblioteca pública. Telecentro. Tecnologia de informação e comunicação. Inclusão social. Public libraries and the telecenters: information organisms to democratize and social inclusion Abstract Both the access and the use of information are issues related to human development in its multiple aspects. There is a difference which can be noticed between people who have access to the means of information – a small percentage of the population – and those who do not. This way, the public libraries, the telecenters or still the articulation between these two information organisms are proposed with the objective to democratize the access and the use of information within communities and social segments which are currently excluded from participating in society. This is the reflection proposed, based on literature and documents on the object of this text, with emphasis on the telecenters, once the public libraries have been historically debated since long ago, whereas the telecenters are emergent organisms and should count with more solid policies not to come up against the same restraints which have impeded the success of the former. The initiatives of some communities, in particular, have provided optimistic results in this direction. Keywords Public Library. Telecenter. Information and communication technology. Social i INTRODUÇÃO A trajetória histórica aponta diversas relações entre o sujeito e a informação, desde a informação genética e os órgãos dos sentidos – que ocorrem a partir de uma interação natural, biológica, e que nos propiciam o contato com o mundo externo – até as formas de representações simbólicas. Nesse trâmite, linguagem e pensamento entrecruzam-se no uso e no acesso à informação e na construção do conhecimento; são articulantes ao cognitivo. Marcam e definem a sociedade humana, como um fazer contínuo e um trabalho que se transforma a cada momento. No cerne da questão, a comunicação dialógica do pensamento que se transforma e que, ao mesmo tempo, é transformador, criativo. Na Idade Moderna – época de grandes transformações científicas e culturais –, a imprensa industrial traz grande expectativa em relação ao novo sentido da informação a partir da circulação do impresso, percebido como forma especial de democratização e, por isso, de participação social. Nesse momento, as bibliotecas públicas são compreendidas como organismos de vital importância social na circulação da informação, e as políticas públicas começaram a surgir e a fundamentar ações nesse contexto. Atualmente, o aparecimento das tecnologias da informação acelera o processamento, o armazenamento e a comunicação da informação, e um novo cenário de otimismo parece evocar a euforia da inclusão social, isto é, a participação social de todos os sujeitos, independentemente de classe social, raça ou credo. Assim, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) consolidam-se como importante estratégia para o desenvolvimento educacional, econômico, político e cultural de uma sociedade. O Manifesto da Unesco (1994) sobre a biblioteca pública aponta para a necessidade de igualdade de acesso à informação a todos os cidadãos, independentemente de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social. Nesse aspecto, o que fundamenta a existência de uma biblioteca pública, além da guarda da memória, é a disseminação do conteúdo do seu acervo, o que redunda em um processo social inclusivo, pelo acesso, uso e democratização da informação, científica e cultural, além das informações úteis e necessárias à atuação do cidadão no dia-a-dia. Vê-se a biblioteca pública como promotora da igualdade social, pela oferta de oportunidades a todos, e como força viva para a educação, cultura e informação. Entre os enunciados do Manifesto da Unesco, inserem-se dois propósitos que nos chamam a atenção por já serem focados nas novas tecnologias: garantir aos cidadãos todo tipo de informação comunitária; facilitar o desenvolvimento da informação e da habilidade de uso de tecnologias. A criação dos Telecentros visa, igualmente, a esses propósitos, permitindo amplo acesso à informação pelas camadas sociais mais desfavorecidas. Segundo o Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil (TAKAHASHI, 2000), documento que esboça diretrizes para a inserção do Brasil na sociedade da informação, o país aponta para a necessidade da inclusão social, via educação e promoção do acesso à informação. Vincula essas condições ao exercício da cidadania e da promoção social. O seu capítulo 4, Educação na Sociedade da Informação, inicia-se: A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao desenvolvimento da capacidade de aprender e concretizar inovações. Por outro lado, educar em uma sociedade da informação significa muito mais que treinar as pessoas para o uso das tecnologias de informação e comunicação: trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. Trata-se também de formar os indivíduos para “aprender a aprender”, de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica. Percebe-se um consenso: o de que a consolidação da democracia depende de um sistema educacional forte e satisfatório, o que pressupõe o acesso à cultura e à informação, questões que se imbricam. Originários de datas diferentes, os dois documentos mostram as bibliotecas públicas e os telecentros como organismos inclusivos e até complementares. Possuem objetivos comuns, reconhecendo a informação como questão fundamental para a cidadania, para a formação de sujeitos conscientes de seus deveres e direitos. É nesse sentido que o acesso e o uso da informação se referem à importante estratégia para o desenvolvimento educacional, econômico, político e cultural de uma sociedade.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Principais periódicos da Ciência da Informação

Para os bibliotecários que estão tentando mestrado em Ciência da Informação ou estudando para concursos de Biblioteconomia é importante saber quais são os principais periódicos científicos da nossa área. O Departamento de Ciência da Informação da UFSCAR fez uma lista desses periódicos informando ainda índice Qualis de cada um deles. • Biblos (ISSN 0102-4388) – Qualis B3 • Brazilian Journal of Information Science (ISSN 1981-1640) – Qualis B1 • Ciência da Informação (ISSN 0100-1965) – Qualis B1 • DataGramaZero (ISSN 1517-3801) – Qualis B1 • Em questão (ISSN 1807-8893) – Qualis B1 • Encontros Bibli (ISSN 1518-2924) – Qualis B1 • Informação & Informação (ISSN 1981-8920) – Qualis B1 • Informação & Sociedade: estudos (ISSN 1809-4783) – Qualis A2 • Perspectivas em Ciência da Informação (ISSN 1413-9936) – Qualis A2 • Ponto de Acesso (ISSN 1981-6766) – Qualis B2 • Revista ACB (ISSN 1414-0594) – Qualis B2 • Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (ISSN 0100-0691) – Qualis B1 • Revista Digital de Biblioteconomia e CI (ISSN 1678-765X) – Qualis B1 • LIINC em Revista (ISSN 1808-3536) – Qualis B1 • TransInformação (ISSN 0103-3786) – Qualis B1 Sobre o Índice Qualis O Qualis é um levantamento realizado pela Capes com o intuito de mensurar a qualidade da produção científica dos programas de pós-graduação. A classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por um processo anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos de qualidade – A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C – com peso zero.

Atuação do Bibliotecário na editoração científica

Publicado em outubro 3, 2016 por portaldobibliotecario Artigo de Solange Alves Santana e Marivalde Moacir Francelin que aborda o papel do bibliotecário na equipe de editoração científica de periódicos. O que é? A editoração científica configura-se como um conjunto de processos e atividades multidisciplinares no âmbito da comunicação científica, em que profissionais de diferentes áreas estão envolvidos, entre eles, o bibliotecário. Inicialmente, ao pensarmos na atuação do bibliotecário em equipes editoriais, a normalização de documentos é, dentre as atividades possíveis, a mais comumente relacionada à figura do bibliotecário. No entanto, com as profundas alterações ocorridas no campo editorial nas últimas décadas, sobretudo, promovidas pelas novas tecnologias, ampliaram-se a inserção e escopo de atuação do bibliotecário, dada sua formação diversificada e multifacetada. Equipes editoriais A estrutura de uma equipe editorial de um periódico científico, via de regra, é constituída por: uma comissão científica, representada basicamente pelo editor responsável (ou editor-chefe), pelo conselho editorial (também chamado de comitê consultivo ou conselho consultivo), pelos assessores científicos (também chamados de editores de seção ou editores de área) e revisores (pareceristas ou referees); e uma equipe de produção editorial, responsável por questões técnico-administrativas e de pós-produção dos manuscritos. No entanto, No que diz respeito à composição da equipe editorial, a configuração pode variar conforme as condições da instituição responsável e o aporte financeiro para definição dessas equipes. Importante! As equipes editoriais continuamente empreendem esforços para estruturarem suas equipes editoriais haja vista que a composição das equipes, mais especificamente da Comissão científica, constitui-se como critério de avaliação por organismos responsáveis pela estratificação de publicações científicas, bem como por bases de dados indexadoras, que observam questões relativas à afiliação dos membros, distribuição institucional, endogenia, entre outros fatores. Atuação do Bibliotecário no trabalho No que diz respeito às possibilidades de atuação do bibliotecário em equipes editoriais, foram identificadas 19 categorias de atividades desempenhadas por bibliotecários em equipes de produção editorial, assinaladas a seguir: análise de provas editoriais (fluxo editorial); assessoria aos autores e pareceristas; avaliação técnica de revista para inclusão em bases de dados; catalogação na fonte; conferência da terminologia (palavras-chave); controle de assinaturas, permuta e doação (distribuição); diagramação; divulgação; elaboração de projetos; elaboração de relatórios; expedição; formatação dos manuscritos; gestão de processos (da pré-avaliação à publicação); indexação; manutenção do site da revista; normalização; prestação de contas; secretaria; e supervisão de marcação em XML. Há outras atividades em ascensão em instituições de ensino superior, como assessoria aos autores na escolha de periódicos para publicação e o auxílio na elaboração do manuscrito. É possível notar que as categorias de atividades identificadas pelas autoras são vastas e se relacionam a diferentes esferas de atuação profissional, assinalando um diversificado espaço de atuação para o bibliotecário. Tem muito mais coisas interessantes no texto, leia o artigo na íntegra AQUI. https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/543/483

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A importância da leitura infantil para o desenvolvimento da criança

A importância da leitura infantil para o desenvolvimento da criança Portal R7 - Brasil Escola “O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora.” Bamberger Resumo Reconhecer a importância da literatura infantil e incentivar a formação do hábito de leitura na idade em que todos os hábitos se formam, isto é, na infância, é o que este artigo vem propor. Neste sentido, a literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa. O presente estudo inicia com um breve histórico da literatura infantil, apresenta conceitos de linguagem e leitura, enfoca a importância de ouvir histórias e do contato da criança desde cedo com o livro e finalmente esboça algumas estratégias para desenvolver o hábito de ler. Palavras-chave: Educação, Literatura Infantil, Leitura, Desenvolvimento da criança. Introdução O estudo realizado tem por objetivo, verificar a contribuição da literatura infantil no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança. Ao longo dos anos, a educação preocupa-se em contribuir para a formação de um indivíduo crítico, responsável e atuante na sociedade. Isso porque se vive em uma sociedade onde as trocas sociais acontecem rapidamente, seja através da leitura, da escrita, da linguagem oral ou visual. Diante disso, a escola busca conhecer e desenvolver na criança as competências da leitura e da escrita e como a literatura infantil pode influenciar de maneira positiva neste processo. Assim, Bakhtin (1992) expressa sobre a literatura infantil abordando que por ser um instrumento motivador e desafiador, ela é capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem , que sabe compreender o contexto em que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade. Esta pesquisa visa a enfocar toda a importância que a literatura infantil possui, ou seja, que ela é fundamental para a aquisição de conhecimentos, recreação, informação e interação necessários ao ato de ler. De acordo com as idéias acima, percebe-se a necessidade da aplicação coerente de atividades que despertem o prazer de ler, e estas devem estar presentes diariamente na vida das crianças, desde bebês. Conforme Silva (1992, p.57) “bons livros poderão ser presentes e grandes fontes de prazer e conhecimento. Descobrir estes sentimentos desde bebezinhos, poderá ser uma excelente conquista para toda a vida.” Apesar da grande importância que a literatura exerce na vida da criança, seja no desenvolvimento emocional ou na capacidade de expressar melhor suas idéias, em geral, de acordo com Machado (2001), elas não gostam de ler e fazem-no por obrigação. Mas afinal, por que isso acontece? Talvez seja pela falta de exemplo dos pais ou dos professores, talvez não. O que se percebe é que a literatura, bem como toda a cultura criadora e questionadora, não está sendo explorada como deve nas escolas e isto ocorre em grande parte, pela pouca informação dos professores. A formação acadêmica, infelizmente não dá ênfase à leitura e esta é uma situação contraditória, pois segundo comentário de Machado (2001, p.45) “não se contrata um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar”. Existem dois fatores que contribuem para que a criança desperte o gosto pela leitura: curiosidade e exemplo. Neste sentido, o livro deveria ter a importância de uma televisão dentro do lar. Os pais deveriam ler mais para os filhos e para si próprios. No entanto, de acordo com a UNESCO (2005) somente 14% da população tem o hábito de ler, portanto, pode-se afirmar que a sociedade brasileira não é leitora. Nesta perspectiva, cabe a escola desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por obrigação. Contextualizando Literatura Infantil Os primeiros livros direcionados ao público infantil, surgiram no século XVIII. Autores como La Fontaine e Charles Perrault escreviam suas obras, enfocando principalmente os contos de fadas. De lá pra cá, a literatura infantil foi ocupando seu espaço e apresentando sua relevância. Com isto, muitos autores foram surgindo, como Hans Christian Andersen, os irmãos Grimm e Monteiro Lobato, imortalizados pela grandiosidade de suas obras. Nesta época, a literatura infantil era tida como mercadoria, principalmente para a sociedade aristocrática. Com o passar do tempo, a sociedade cresceu e modernizou-se por meio da industrialização, expandindo assim, a produção de livros. A partir daí os laços entre a escola e literatura começam a se estreitar, pois para adquirir livros era preciso que as crianças dominassem a língua escrita e cabia a escola desenvolver esta capacidade. De acordo com Lajolo & Zilbermann, “a escola passa a habilitar as crianças para o consumo das obras impressas, servindo como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo”. (2002, p.25) Assim, surge outro enfoque relevante para a literatura infantil, que se tratava na verdade de uma literatura produzida para adultos e aproveitada para a criança. Seu aspecto didático-pedagógico de grande importância baseava-se numa linha moralista, paternalista, centrada numa representação de poder. Era, portanto, uma literatura para estimular a obediência, segundo a igreja, o governo ou ao senhor. Uma literatura intencional, cujas histórias acabavam sempre premiando o bom e castigando o que é considerado mau. Segue à risca os preceitos religiosos e considera a criança um ser a se moldar de acordo com o desejo dos que a educam, podando-lhe aptidões e expectativas. Até as duas primeiras décadas do século XX, as obras didáticas produzidas para a infância, apresentavam um caráter ético-didático, ou seja, o livro tinha a finalidade única de educar, apresentar modelos, moldar a criança de acordo com as expectativas dos adultos. A obra dificilmente tinha o objetivo de tornar a leitura como fonte de prazer, retratando a aventura pela aventura. Havia poucas histórias que falavam da vida de forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens em torno do cotidiano, ou a afirmação da amizade centrada no companheirismo, no amigo da vizinhança, da escola, da vida. Essa visão de mundo maniqueísta, calçada no interesse do sistema, passa a ser substituída por volta dos anos 70 e a literatura infantil passa por uma revalorização, contribuída em grande parte pelas obras de Monteiro Lobato, no que se refere ao Brasil. Ela então, se ramifica por todos os caminhos da atividade humana, valorizando a aventura, o cotidiano, a família, a escola, o esporte, as brincadeiras, as minorias raciais, penetrando até no campo da política e suas implicações. Hoje a dimensão de literatura infantil é muito mais ampla e importante. Ela proporciona à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutíveis. Segundo Abramovich (1997) quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinarem infinitos assuntos. É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica...É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17) Neste sentido, quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma através da leitura a criança adquire uma postura crítico-reflexiva,extremamente relevante à sua formação cognitiva. Quando a criança ouve ou lê uma história e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza uma interação verbal, que neste caso, vem ao encontro das noções de linguagem de Bakhtin (1992). Para ele, o confrontamento de idéias, de pensamentos em relação aos textos, tem sempre um caráter coletivo, social. O conhecimento é adquirido na interlocução, o qual evolui por meio do confronto, da contrariedade. Assim, a linguagem segundo Bakthin (1992) é constitutiva, isto é, o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do outro, portanto, uma linguagem dialógica. A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar de um diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar, etc. Neste diálogo, o homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas ações. Ele se põe todo na palavra e esta palavra entra no tecido dialógico da existência humana, no simpósio universal. (BAKHTIN, 1992, p112) E é partindo desta visão da interação social e do diálogo, que se pretende compreender a relevância da literatura infantil, que segundo afirma Coelho (2001, p.17), “é um fenômeno de linguagem resultante de uma experiência existencial, social e cultural.” A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto. Segundo Coelho (2002) a leitura, no sentido de compreensão do mundo é condição básica do ser humano. A compreensão e sentido daquilo que o cerca inicia-se quando bebê, nos primeiros contatos com o mundo. Os sons, os odores, o toque, o paladar, de acordo com Martins (1994) são os primeiros passos para aprender a ler.Ler, no entanto é uma atividade que implica não somente a decodificação de símbolos, ela envolve uma série de estratégias que permite o indivíduo compreender o que lê. Neste sentido, relata os PCN’s (2001, p.54.): Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a essa necessidade. Assim, pode-se observar que a capacidade para aprender está ligada ao contexto pessoal do indivíduo. Desta forma, Lajolo (2002) afirma que cada leitor, entrelaça o significado pessoal de suas leituras de mundo, com os vários significados que ele encontrou ao longo da história de um livro, por exemplo. O ato de ler então, não representa apenas a decodificação, já que esta não está imediatamente ligada a uma experiência, fantasia ou necessidade do indivíduo. De acordo com os PCN’s (2001) a decodificação é apenas uma, das várias etapas de desenvolvimento da leitura. A compreensão das idéias percebidas, a interpretação e a avaliação são as outras etapas que segundo Bamberguerd (2003, p.23) “fundem-se no ato da leitura”. Desta forma, trabalhar com a diversidade textual, segundo os PCN’s (2001), fazendo com que o indivíduo desenvolva significativamente as etapas de leitura é contribuir para a formação de leitores competentes. A importância de ouvir histórias Ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso que desperta o interesse das pessoas em todas as idades. Se os adultos adoram ouvir uma boa história, um “bom causo”, a criança é capaz de se interessar e gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginar é mais intensa. A narrativa faz parte da vida da criança desde quando bebê, através da voz amada, dos acalantos e das canções de ninar, que mais tarde vão dando lugar às cantigas de roda, a narrativas curtas sobre crianças, animais ou natureza. Aqui, crianças bem pequenas, já demonstram seu interesse pelas histórias, batendo palmas, sorrindo, sentindo medo ou imitando algum personagem. Neste sentido, é fundamental para a formação da criança que ela ouça muitas histórias desde a mais tenra idade. O primeiro contato da criança com um texto é realizado oralmente, quando o pai, a mãe, os avós ou outra pessoa conta-lhe os mais diversos tipos de histórias. A preferida, nesta fase, é a história da sua vida. A criança adora ouvir como foi que ela nasceu, ou fatos que aconteceram com ela ou com pessoas da sua família. À medida que cresce, já é capaz de escolher a história que quer ouvir, ou a parte da história que mais lhe agrada. É nesta fase, que as histórias vão tornando-se aos poucos mais extensas, mais detalhadas. A criança passa a interagir com as histórias, acrescenta detalhes, personagens ou lembra de fatos que passaram despercebidos pelo contador. Essas histórias reais são fundamentais para que a criança estabeleça a sua identidade, compreender melhor as relações familiares. Outro fato relevante é o vínculo afetivo que se estabelece entre o contador das histórias e a criança. Contar e ouvir uma história aconchegado a quem se ama é compartilhar uma experiência gostosa, na descoberta do mundo das histórias e dos livros. Algum tempo depois, as crianças passam a se interessar por histórias inventadas e pelas histórias dos livros, como: contos de fadas ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc. Têm nesta perspectiva, a possibilidade de envolver o real e o imaginário que de acordo com Sandroni & Machado (1998, p.15) afirmam que “os livros aumentam muito o prazer de imaginar coisas. A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real”. É importante contar histórias mesmo para as crianças que já sabem ler, pois segundo Abramovich (1997, p.23) “quando a criança sabe ler é diferente sua relação com as histórias, porém, continua sentindo enorme prazer em ouvi-las”. Quando as crianças maiores ouvem as histórias, aprimoram a sua capacidade de imaginação, já que ouvi-las pode estimular o pensar, o desenhar, o escrever, o criar, o recriar. Num mundo hoje tão cheio de tecnologias, onde as informações estão tão prontas, a criança que não tiver a oportunidade de suscitar seu imaginário, poderá no futuro, ser um indivíduo sem criticidade, pouco criativo, sem sensibilidade para compreender a sua própria realidade. Portanto, garantir a riqueza da vivência narrativa desde os primeiros anos de vida da criança contribui para o desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação,que segundo Vigotsky (1992, p.128) caminham juntos: “a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.”. Neste sentido, o autor enfoca que na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse distanciamento da realidade através de uma história por exemplo, é essencial para uma penetração mais profunda na própria realidade: “afastamento do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece. (VIGOTSKY, 1992, p.129) ”. O contato da criança com o livro pode acontecer muito antes do que os adultos imaginam. Muitos pais acreditam que a criança que não sabe ler não se interessa por livros, portanto não precisa ter contato com eles. O que se percebe é bem ao contrário. Segundo Sandroni & Machado (2000, p.12) “a criança percebe desde muito cedo, que livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As crianças bem pequenas interessam-se pelas cores, formas e figuras que os livros possuem e que mais tarde, darão significados a elas, identificando-as e nomeando-as. É importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que ela tenha um contato mais íntimo com o objeto do seu interesse.A partir daí, ela começa a gostar dos livros, percebe que eles fazem parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.16) “o amor pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer. Assim, pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta: serem estimuladores e incentivadores da leitura. A literatura e os estágios psicológicos da criança Durante o seu desenvolvimento, a criança passa por estágios psicológicos que precisam ser observados e respeitados no momento da escola de livros para ela. Essas etapas não dependem exclusivamente de sua idade, mas de acordo com Coelho (2002) do seu nível de amadurecimento psíquico, afetivo e intelectual e seu nível de conhecimento e domínio do mecanismo da leitura. Neste sentido, é necessária a adequação dos livros às diversas etapas pelas quais a criança normalmente passa. Existem cinco categorias que norteiam as fases do desenvolvimento psicológico da criança: o pré-leitor, o leitor iniciante, o leitor-em-processo, o leitor fluente e o leitor crítico. O pré-leitor: categoria que abrange duas fases.Primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos) Nesta fase a criança começa a reconhecer o mundo ao seu redor através do contato afetivo e do tato. Por este motivo ela sente necessidade de pegar ou tocar tudo o que estiver ao seu alcance. Outro momento marcante nesta fase é a aquisição da linguagem, onde a criança passa a nomear tudo a sua volta. A partir da percepção da criança com o meio em que vive, é possível estimulá-la oferecendo-lhe brinquedos, álbuns, chocalhos musicais, entre outros. Assim, ela poderá manuseá-los e nomeá-los e com a ajuda de um adulto poderá relacioná-los propiciando situações simples de leitura. Segunda infância (a partir dos 2/3 anos) É o início da fase egocêntrica. Está mais adaptada ao meio físico e aumenta sua capacidade e interesse pela comunicação verbal. Como interessa-se também por atividades lúdicas, o “brincar”com o livro será importante e significativo para ela. Nesta fase, os livros adequados, de acordo com Abramovich (1997) devem apresentar um contexto familiar, com predomínio absoluto da imagem que deve sugerir uma situação. Não se deve apresentar texto escrito, já que é através da nomeação das coisas que a criança estabelecerá uma relação entre a realidade e o mundo dos livros. Livros que propõem humor, expectativa ou mistério são indicados para o pré-leitor. A técnica da repetição ou reiteração de elementos são segundo Coelho (2002, p.34) “favoráveis para manter a atenção e o interesse desse difícil leitor a ser conquistado”. O leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos) Essa é a fase em que a criança começa a apropriar-se da decodificação dos símbolos gráficos, mas como ainda encontra-se no início do processo, o papel do adulto como “agente estimulador” é fundamental. Os livros adequados nesta fase devem ter uma linguagem simples com começo, meio e fim. As imagens devem predominar sobre o texto. As personagens podem ser humanas, bichos, robôs, objetos, especificando sempre os traços de comportamento, como bom e mau, forte e fraco, feio e bonito. Histórias engraçadas, ou que o bem vença o mal atraem muito o leitor nesta fase. Indiferentemente de se utilizarem textos como contos de fadas ou do mundo cotidiano, de acordo com Coelho (ibid, p. 35) “eles devem estimular a imaginação, a inteligência, a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o sentir”. O leitor-em-processo (a partir dos 8/9anos) A criança nesta fase já domina o mecanismo da leitura. Seu pensamento está mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar operações mentais. Interessa-se pelo conhecimento de toda a natureza e pelos desafios que lhes são propostos. O leitor desta fase tem grande atração por textos em que haja humor e situações inesperadas ou satíricas. O realismo e o imaginário também agradam a este leitor. Os livros adequados a esta fase devem apresentar imagens e textos, estes, escritos em frases simples, de comunicação direta e objetiva. De acordo com Coelho (2002) deve conter início, meio e fim. O tema deve girar em torno de um conflito que deixará o texto mais emocionante e culminar com a solução do problema. O leitor fluente (a partir dos 10/11 anos) O leitor fluente está em fase de consolidação dos mecanismos da leitura. Sua capacidade de concentração cresce e ele é capaz de compreender o mundo expresso no livro. Segundo Coelho (2002) é a partir dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento hipotético dedutivo” e a capacidade de abstração. Este estágio, chamado de pré-adolescência, promove mudanças significativas no indivíduo. Há um sentimento de poder interior, de ver-se como um ser inteligente, reflexivo, capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos. Aqui há uma espécie de retomada do egocentrismo infantil, pois assim como acontece com as crianças nesta fase, o pré-adolescente pode apresentar um certo desequilíbrio com o meio em que vive. O leitor fluente é atraído por histórias que apresentem valores políticos e éticos, por heróis ou heroínas que lutam por um ideal. Identificam-se com textos que apresentam jovens em busca de espaço no meio em que vivem, seja no grupo, equipe, entre outros.É adequado oferecer a esse tipo de leitor histórias com linguagem mais elaborada. As imagens já não são indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de atração. Interessam-se por mitos e lendas, policiais, romances e aventuras. Os gêneros narrativos que mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas. O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos) Nesta fase é total o domínio da leitura e da linguagem escrita. Sua capacidade de reflexão aumenta, permitindo-lhe a intertextualização. Desenvolve gradativamente o pensamento reflexivo e a consciência crítica em relação ao mundo. Sentimentos como saber, fazer e poder são elementos que permeiam o adolescente. O convívio do leitor crítico com o texto literário, segundo Coelho (2002, p.40) “deve extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo para penetrar no mecanismo da leitura”. O leitor crítico continua a interessar-se pelos tipos de leitura da fase anterior, porém, é necessário que ele se aproprie dos conceitos básicos da teoria literária. De acordo com Coelho (ibid, p.40) a literatura é considerada a arte da linguagem e como qualquer arte exige uma iniciação. Assim, há certos conhecimentos a respeito da literatura que não podem ser ignorados pelo leitor crítico. Conclusão Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é determinado pela “atmosfera literária” que, segundo Bamberguerd (2000, p.71) a criança encontra em casa. A criança que houve histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que seja estimulada, terá um desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a leitura. De acordo com Bamberguerd (2000) a criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente, neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente ligada a motivação. Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente em estimular esta capacidade nos seus filhos. Outro fator que contribui positivamente em relação à leitura é a influência do professor. Nesta perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a criança a ler e a gostar de ler. Professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, desenvolverão na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora. Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça uma certa variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.23) “o equilíbrio de um programa de leitura depende muito mais do bom senso e da habilidade do professor que de uma hipotética e inexistente classe homogênea”. Assim, as condições necessárias ao desenvolvimento de hábitos positivos de leitura, incluem oportunidades para ler de todas as formas possíveis. Freqüentar livrarias, feiras de livros e bibliotecas são excelentes sugestões para tornar permanente o hábito de leitura. Num mundo tão cheio de tecnologias em que se vive, onde todas as informações ou notícias, músicas, jogos, filmes, podem ser trocados por e-mails, cd’s e dvd’s o lugar do livro parece ter sido esquecido. Há muitos que pensem que o livro é coisa do passado, que na era da Internet, ele não tem muito sentido. Mas, quem conhece a importância da literatura na vida de uma pessoa, quem sabe o poder que tem uma história bem contada, quem sabe os benefícios que uma simples história pode proporcionar, com certeza haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo repleto de encantamento. Se o professor acreditar que além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, encontrará meios de mostrar isso à criança. E ela vai se interessar por ele, vai querer buscar no livro esta alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona. Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura. Trabalho científico apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, como requisito parcial para a obtenção do Título de graduada em Licenciatura Específica em Português. ELINE FERNANDES DE CASTRO