terça-feira, 25 de junho de 2013

Devoradores... de livros! Para eles, leitura não é bicho-papão

Devoradores... de livros! Para eles, leitura não é bicho-papão

A Crítica - 14/06/13

Todo mundo já ouviu dizer que os adolescentes não gostam dos livros e que não querem nada com a leitura. Mas talvez esteja na hora de reavaliar essa noção clichê que perdura há tempos no imaginário coletivo: é que nos últimos anos, em grande parte graças a fenômenos literários juvenis como “Harry Potter”, “Percy Jackson” e “Diário de um banana”, muitos jovens deixaram ou estão deixando de ver a leitura como um bicho-papão para se tornarem verdadeiros fãs dos livros.

Um exemplo da nova geração de “leitores vorazes” na fase da adolescência é Mateus Belota, de 13 anos. Ao mesmo tempo em que está lendo um dos livros da série “Os Heróis do Olimpo” – continuação da bem sucedida coleção “Percy Jackson e os Olimpianos”, de Rick Riordan –, ele já está de olho em vários outros títulos que espera ler em seguida. Entre eles, um novo título da série “Os legados de Lorien”, iniciada há pouco tempo com “Eu sou o Número Quatro”.

“Agora só estou lendo um livro. Quero comprar mais, mas é difícil encontrar nas livrarias”, reclama o jovem leitor.
Outra com o mesmo apetite de Mateus por livros é Ana Milena Gouvêa, 16. Apesar de já estar lendo dois livros solicitados pela escola – o ensaio filosófico “O Anticristo”, de Friedrich Nietzsche, e o romance “Memórias de um sargento de milícias”, de Joaquim Manuel de Almeida –, ainda decidiu ler por conta própria uma coletânea de contos de Edgar Allan Poe. E está curtindo.

“Estou gostando muito do Edgar, porque é uma literatura meio sombria, misturada com mistério. Ele é superlegal”, defende.

Mundo descoberto
A paixão pelos livros, tanto para Mateus quanto para Ana Milena, não veio automaticamente junto do aprendizado da leitura. Ela chegou mais tarde, com títulos que faziam mais a cabeça dos dois jovens. A série de Percy Jackson, por exemplo, foi a primeira que Mateus leu, por volta dos 9 anos. “Adoro a mitologia grega desde os 6 anos, quando li um livro sobre ela. Mas era um livrinho, pequeno”, recorda o garoto.

Já Ana Milena conta que não ligava lá muito para livros quando era criança – principalmente os da escola. “Achava chato, pois eram só coisas como Machado de Assis”, diz. As coisas mudaram, ela conta, quando teve contato com “Harry Potter”. “Comecei a gostar de ler, apesar de ter demorado bastante para conseguir os livros todos”.

E o interesse pela leitura só cresceu com o tempo: “Na pré-adolescência eu via filmes de livros, e o pessoal sempre dizia, ‘Os livros são melhores que os filmes’. Daí fui atrás dos livros. Hoje, ‘Jogos vorazes’ foi a primeira série que li antes de ver no cinema”.

Em casa e na rede

Além do cinema, outros estímulos para os jovens leitores vêm de diversos lugares. Ana Milena às vezes busca sugestões da professora de Redação. Mateus começou a ler “Harry Potter” por indicação de amigos. E a web – quem diria – é aliada de ambos.

“Alguns livros fui lendo porque eram de um mesmo autor, outros vi na Internet”, conta Mateus. “Nas redes sociais, quando vejo que uma pessoa leu um livro novo, pergunto como é a história, e peço para comprar ou emprestar”, diz Ana Milena.

A jovem de 16 anos, aliás, já mira mais à frente: seu próximo alvo é “Morte súbita”, livro adulto da autora de “Harry Potter”, J.K. Rowling. Ou seja: para jovens como ela e Mateus, essa paixão não acaba tão cedo!

De leitora a escritora

A paixão pela leitura estimulou a jovem Bruna Chíxaro, de 21 anos, a passar para o “outro lado” do universo dos livros. Encantada pelos livros que narravam a trajetória de Ana Bolena, rainha inglesa de fim trágico, ela decidiu também escrever a sua versão da história. O resultado é “Ana Bolena”, seu livro de estreia, que deve ser lançado pela Valer no próximo dia 22, às 10h, no Caesar Business Hotel.

A aventura de Bruna como autora começou meio que por acaso, com um blog sem pretensão nenhuma, quando a garota tinha 17 anos. “No início escrevi só para organizar minhas ideias”, conta ela. Mais tarde, quando a ideia evoluiu para a publicação, ela decidiu escrever algo que agradasse gente da sua idade e até os mais jovens.

“Resolvi escrever como se estivesse contando a história para a minha irmã, que é mais nova”, conta ela, que buscou fugir do estilo acadêmico. “Resolvi fazer assim também porque acho que livro de História às vezes é meio chato”, comenta.

A paixão por livros, Bruna credita à família. “Desde que aprendi a ler – ou até antes –, gosto de livros. Sempre tive livros na casa dos meus pais, e sempre fui muito incentivada”, relembra ela. Fora da família, outro estímulo veio de Tenório Telles, da Livraria Valer. “Ele foi o primeiro, além dos meus pais, a me dar um livro. Era ‘O senhor dos ladrões’, e eu gostei muito”.

Bruna nota que os adolescentes hoje estão lendo mais do que na sua época. “Acho que a mídia teve muito a ver. Hoje a divulgação de livros é bem maior”, opina a jovem autora. E, para ela, toda leitura vale a pena: “Já ouvi falar mal de Meg Cabot, dizendo que não é literatura”, diz. “Essas séries não são meu tipo de livro, mas ler sempre ajuda a gente a se expressar”.

E Bruna não vai parar com “Ana Bolena”: o próximo livro, em gestação, será sobre o Iluminismo na Rússia.

Best-sellers

Desde o fenômeno “Harry Potter” para cá, uma onda de livros voltados para o público juvenil invadiu as prateleiras. Além dos já citados na matéria, outras séries de sucesso são “Fala sério”, de Thalita Rebouças, e “Querido diário otário”, de Jim Benton, além dos gibis da Turma da Mônica Jovem.

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