quinta-feira, 25 de junho de 2015

BIBLIOTECAS, ARQUIVOS E MUSEUS: lugares do passado?

É voz corrente, quando se fala dos arquivos, bibliotecas e museus, serem eles espaços em que se guardam as antiguidades; espaços em que se preserva o passado. Há até uma frase constantemente empregada: “Lugar de velharia é museu”. Lógico que essa frase tem variantes, mas a ideia, o motivo para o qual é empregada é sempre o mesmo, ou seja, a identificação do museu como algo vinculado ao antigo, ao passado.

As bibliotecas, assim como os arquivos, têm o pó, cheiro desagradável, penumbra, funcionários velhos, antiguidade e outras coisas mais agregadas à suas imagens. A morte perambula por esses sítios, a ponto de conhecermos inúmeras histórias sobrenaturais que têm como palco, por exemplo, as bibliotecas.

Nos romances de Stephen King é recorrente a biblioteca como cenário. Basta lembrarmos de “It” e de “O policial da biblioteca”, são livros que conheço desse autor e que lidam com o terror tendo como foco a biblioteca ou o bibliotecário. No caso de “O policial da biblioteca”, o livro é dedicado aos bibliotecários de uma biblioteca americana.

Em Londrina, recordo-me de uma matéria publicada em um dos jornais da cidade, o “Jornal de Londrina”, com histórias contadas por funcionários e usuários da biblioteca pública da cidade.

Relatos de sons de correntes se arrastando ou sendo arrastadas, portas que se fecham sozinhas, murmúrios de vozes desconhecidas e sem que se detecte o local de onde são geradas. Essas e outas tantas situações são relatadas e fazem parte do imaginário da sociedade sobre as bibliotecas. Interessante que esses fatos ocorrem, quase sempre, durante a noite e quando a pessoa que os presencia está sozinha.

Tenho uma amiga que diz que, mesmo sem nunca ter presenciado nada, não gostava de ficar sozinha em uma determinada biblioteca universitária, pois a sensação que lhe dava era a de que as estantes e os livros guardados ali a atacariam, cairiam sobre ela e a afogariam.

O trabalho rotineiro, o silêncio obrigatório e imposto pelos funcionários da biblioteca, vinculam-se com a lentidão do tempo, com o passar do tempo diferenciado daquele que ocorre fora das paredes da biblioteca, do museu, do arquivo. Seria o passado tentando se manter ou mantido no tic-tac sonolento e repetitivo dos relógios que esses locais insistem em expor nos lugares mais altos das paredes, com o sentido de alerta para os horários de funcionamento ou como ferramenta de domínio, como evidência do inexorável passar do tempo?

Apesar da concepção de antiguidade, de passado e até mesmo de morte, parece-me que essas ideias vinculadas aos equipamentos informacionais são falsas. Não somos espaços do antigo, do passado, da morte, ao contrário, nossas ações e fazeres devem apontar para tornar o passado presente, tornar o passado vivo.

O conhecimento e a informação dão-se na relação, não existem estanques, não existem antes da relação com o sujeito. Aliás, defendo que o próprio conhecimento existe na relação. Somos produtos dos conhecimentos de outros e de nossos próprios conhecimentos, mas se fazendo na relação. A partir desse pensamento, tanto a biblioteca como o arquivo e o museu não existem apenas entre suas paredes, não existem apenas na disposição de conhecimentos passados. Sempre precisarão da relação com o presente, da relação com o pensar de hoje, da relação com a cultura de agora, com a cultura local.

Nossas concepções, hoje, não surgiram de um estalo nem são frutos de geração espontânea; também não são resultados naturais de um desenvolvimento humano que não permite mudanças ou do que muitos entendem por destino. O que vivemos hoje é fruto de embates e lutas de interesses, de desejos, de poder, de domínio. O que vivemos hoje é resultado dessas lutas. Delas, os mais fortes, os dominantes saíram vitoriosos.

Arquivos, bibliotecas e museus relacionam o passado e o presente, tornam viva a história. Para nós não deve existir, isoladamente, passado e presente. Para nós, vida e morte se integram. Para nós o novo é o antigo modificado, transformado, mas um antigo real, concreto. Esses espaços são mediadores entre passado e presente, morte e vida, antigo e novo.

 Sobre Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

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