terça-feira, 27 de maio de 2014

Pouca gente relaciona biblioteca com educação

Pouca gente relaciona biblioteca com educação



Biblioteca Comunitária Ler é Preciso de Agudos/SP - Acervo Ecofuturo
Costumo dizer que o jornalismo é o trabalho mais vigiado e acompanhado que existe. Tudo o que aparece no jornalismo será debatido e questionado. Com isso eu já me acostumei. Mas há debates que às vezes me surpreendem, com os quais eu não me acostumo. 
Em abril, escrevi no meu blog de educação da "Folha de S.Paulo", oAbecedário, um texto sobre a falta de bibliotecas públicas no país. 
Destaquei que tenho tido dificuldade de encontrar bibliotecas em horários flexíveis para estudar. Quando publiquei o post, eu estava terminando de escrever a minha tese de doutorado, por isso buscava bibliotecas.
No post, lembrei também que em São Paulo, uma cidade com cerca de 11 milhões de pessoas, há apenas sete bibliotecas que abrem aos domingos. E muitas instituições de ensino sequer têm bibliotecas --justamente por isso há uma campanha que tenta chamar atenção para o assunto.
Cerca de um mês depois, o texto coleciona 70 comentários de leitores e alguns e-mails. Parte deles apoiava a ideia de mais bibliotecas, parte não.
Houve leitores que me recomendaram arrumar o meu quarto para que eu pudesse estudar e escrever a minha tese em casa. Respondi que eu tenho muito recursos para resolver o meu problema: posso montar um escritório, posso flexibilizar meu horário de trabalho, posso fazer imersões de estudos aos finais de semana como tenho feito. Mas a maioria dos brasileiros não pode.
E quem sequer tem um quarto para dormir, como fará para estudar?
PROBLEMAS PIORES
Outra parte dos leitores disse que o país tem problemas muito mais sérios do que a falta de bibliotecas, ou ainda, a escassez desse tipo de instituição em horários mais flexíveis como à noite e aos finais de semana.
Alguns leitores ainda disseram que em época de novas tecnologias falar sobre bibliotecas chega a ser retrógrado.
Faltou no debate a percepção de que a biblioteca é parte fundamental do aprendizado. Ora, na escola há aulas expositivas, mas onde os estudantes farão as tarefas de casa e as pesquisas?
A biblioteca deve ser um espaço com livros, sim, mas também com jornais e revistas, com arquivos digitais, com computadores conectados à internet para se fazer pesquisa, com mesas de estudos com iluminação apropriada. 
Deve ser um espaço com funcionários altamente capacitados para ajudar nesses trabalhos de pesquisa. 
O Brasil vai muito mal em educação e está no final da fila em avaliação internacionais como o Pisa, da OCDE. 
Bibliotecas de qualidade podem resultar em alunos mais interessados em estudar, em fazer pesquisas, mais jovens se dedicando à ciência, melhores índices de educação de maneira geral.
E alguém pode ser contra isso?

Autor: Sabine Righetti
Sabine Righetti é especialista em políticas de educação e ciência. É jornalista pela Unesp, mestre e doutoranda em política científica e tecnológica pela Unicamp, onde dá aula na pós-graduação em jornalismo científico (Labjor/Unicamp). Escreve sobre ciência, saúde e educação na Folha desde 2010, onde edita o blog Abecedário: www.abecedario.blogfolha.uol.com.br. É jornalista organizadora do RUF (Ranking Universitário Folha), que lhe rendeu os prêmios Folha de Jornalismo 2012 e Estácio de Jornalismo 2013. Foi bolsista do Knight Wallace Fellowship, na Universidade de Michigan, EUA, estudando avaliação de ensino superior. Em educação, coordenou os livros “Direito à educação: discriminação nos sistemas de ensino” (Edusp, 2010) e “Direito à educação: aspectos constitucionais” (Edusp, 2009), finalista do Prêmio Jabuti 2010 na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise.

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