segunda-feira, 29 de julho de 2013

BIBLIOTECA PÚBLICA E MEDIAÇÃO


BIBLIOTECA PÚBLICA E MEDIAÇÃO

Ricardo Queiróz Pinheiro


[Julho/2013]

Ontem um amigo me fez uma pergunta complicada, daquelas que você hesita em responder não por dúvida ou excesso de cuidado, mas por medo da própria resposta:

- Qual o futuro das bibliotecas publicas?

Não vou reproduzir aqui a resposta, ela pode ter mudado durante a noite, ela pode mudar a qualquer momento, o que vou fazer é mudar o rumo temporal da pergunta:

- Qual o presente da biblioteca pública?

Pergunta que deve ser feita a todo um Brasil que se apresenta plural nas ausências e nas acomodações, diverso nos improvisos e nas distorções, múltiplo em histórias criativas e exemplos isolados, exemplos esses que mais aprofundam a dificuldade de uma solução integradora do que a fomentam.

Mas não é só de desesperança que vivemos na área de bibliotecas, e se tentaremos um futuro distinto desse presente, temos que nos aprofundar nele para avançarmos. Presentificação.

Um dos passos fundamentais é olhar para quem hoje, de fato, trabalha e atende nas bibliotecas públicas. Que profissional que entrega para a população o cartão de visitas da dimensão pública da leitura em nossas bibliotecas?

Quando falamos em novos modelos de bibliotecas públicas, muitos detalhes e um amplo arcabouço de projeções e idealizações vêm à tona. Móveis, cores, equipamentos, iluminações, estudos sobre luz natural, gadgets, setorizações, acervo, sistemas de controle de acervo etc. A figura humana aparece, nessa escala de destaques e prioridades, como um apêndice a ser encaixado, sua atuação e seu papel muitas vezes têm menos destaque do que a decisão de derrubar ou não uma parede.

Voltando ao presente: a pessoa, o profissional que atua nas bibliotecas públicas, hoje, é o centro do receio que me fez temer uma resposta de chofre ao meu amigo. Muito simples seria elencar as precariedades e as carências que cercam este indivíduo, a falta de qualidade no atendimento, a total incompreensão das múltiplas possibilidades da mediação (aliás, qual mediação?) e a alienação sobre seu papel social, a falta de apetência para a empreitada.

Estas constatações bastam? Evidente que não bastam. Ao seguir esse caminho, cometeria o erro crasso de nem olhar para o futuro, nem me ater ao presente, e me fixar inocuamente no passado. Apontaria caminho nenhum.

A biblioteca pública surgiu no Brasil – como destaca uma grande amiga – fugida, escondida, fatiada, e tão somente como patrimônio a ser preservado. O Rei de Portugal a trouxe na bagagem para protegê-la da destruição, da invasão napoleônica. Este DNA é exemplar: algo que surge, que se inventa escondido merece o nome de público?

E este início de história não deve ser encarado como chiste, como piada, tampouco é o caso de se fixar no passado, o presente segue, confirma esta instituição provisória, escondida, quase clandestina e patrimonialista, o que parece é que as bibliotecas públicas estão prontas para voltar com seus reis perdidos para algum portugal imaginário.

O problema é que o Rei não estava tão perdido assim, ele sabia o que estava fazendo, mas a biblioteca que herdamos continua se perdendo.

A biblioteca pública que se fundou “não pública” e legou isso aos seus atores dos vários momentos históricos, enfrentou outras intempéries durante o tempo e continua buscando sua identidade. Reitero que dentro dessa trajetória de atropelos, existem exemplos de vitórias e êxitos, e não são poucos, porém, eles não se fixaram como modelos.

É preciso destacar uma prioridade, o momento, voltando ao hoje, é de inventar, de dar poesia ao ser humano que atua nas bibliotecas, como algo urgente e inadiável, priorizar a figura do mediador em biblioteca.

Sim, mediador, pois todo o profissional que atua numa biblioteca, independente de estar nas funções técnica, administrativa ou de atendimento, atua como mediador e, no mínimo, como suporte para a mediação, esse é o fim e não o meio.

Vou terminar não mais fugindo da resposta ao meu amigo, resolvi revelar essa resposta, não a de ontem, mas uma factível, presente, de hoje, não quero simular uma fuga redentora como o Rei de Portugal o fez, ele e sua Real Biblioteca, portanto volto à pergunta inicial:

- Qual o futuro da biblioteca pública?

Respondo:

- O futuro da biblioteca pública é investir, desde já, no presente, no agora, na formação de mediadores de leitura e informação, é colocar nas bibliotecas a vida e a diferença que faz o diálogo e as buscas conjuntas que dão sentido ao imobilismo das estantes organizadas.

Por que não um Programa Nacional de Formação de Mediadores que agregue todos os profissionais, instituições e organismos envolvidos na questão da leitura? MINC, MEC, União, Estados e Municípios, Universidades, juntos para retirar a biblioteca pública do seu eterno portugal abandonado.

Por ora, é um caminho apenas sugerido, a ser desvelado, construído, é o obvio que não se revela óbvio, é o futuro calcado na urgência de um presente, destacando que se esperarmos muito, voltamos rápido ao passado incerto. Quero já o “Programa Nacional de Formação de Mediadores”, confesso que é um ideia vaga ainda, quem se habilita a ajudar a dar essa resposta para o futuro?
http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=763


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