Continuação (3)
Mas a imagem aos poucos vai mudando.
Em Glee, no episódio Bad Reputation, Archie, Tina,
Mercedes, Kurt e Brittany tentam posar de bad guys na escola e decidem fazer
isto fazendo barulho na biblioteca (o que, no caso da série, implica em fazer
um número musical). A biblioteca é zelada por uma senhora idosa, de óculos e
cara de poucos amigos. Mas tudo o que eles conseguem, com uma performance
de U Can’t Touch This, do MC Hammer, entre as mesas da sala de
leitura é um elogio dela: “isto foi muito fofo”.
Além do silêncio, um bibliotecário
pode aterrorizar um estudante com suas pesadas multas por livros não
devolvidos.
Em um episódio hilário de Um
Amor de Família (Married with… Children), Al Bundy tenta passar a
perna na velha bibliotecária – que não só se se lembra do tempo em que ele estudou
no colégio, como quer cobrar dele uma multa no valor de 2.163 dólares. Ele
tenta passar a perna nela, a distraindo e recolocando o livro nunca devolvido
direto na prateleira. Filmado por uma câmera de segurança, Al acaba aparecendo
no noticiário na televisão e se tornando a vergonha da cidade. Antes de se
finalmente aposentar, ela diz para Al:
- Senhor Bundy, você se tornou o
Fredy Krueger do sistema de bibliotecas.
Jerry Seinfeld também tem um problema
parecido. No episódio The Library, de Seinfeld, ele
é procurado pelo “library cop”, Mr. Bookman, que quer cobrar dele uma multa por
um livro não devolvido em 1971! (No mesmo episódio, Kramer também se encanta
pela bibliotecária – que teima em ignorar Jerry enquanto carimba livros – mas
isto é assunto para o próximo tópico).
Existe um episódio de Coragem,
o Cão Covarde (Courage the Cowardly Dog), chamado Fúria da
Bibliotecária que resume bem o pânico que uma biblioteca pode causar
numa criança, digo, cachorro:
Os bibliotecários também aparecem com
vilões em Parks and Recreation. Ou ao menos são os inimigos
declarados do departamento de Parques da cidade de Pawnee na disputa pelas
verbas públicas. No episódio Ron and Tammy,da segunda temporada,
Leslie descreve o grupo da seguinte forma:
- O departamento da biblioteca é o
mais diabólico e sem escrúpulos grupo de burocratas que já vi. São como uma
gangue de motoqueiros. Mas em vez de espingardas e anfetaminas eles usam a
política e nos mandam ficar em silêncio.
O fetiche pelas bibliotecárias
Booth:
- Tudo que eu quero é que você tire
seus óculos, solte seus cabelos e me diga: “senhor Booth, você sabe qual é a
multa para um livro atrasado?”
Brennan:
- O quê?
Booth:
- Esquece.
No episódio The Passenger in
the Oven, da série Bones, Booth vê a colega Brennan
com os cabelos presos e de óculos e a imagina numa cena sensual, como
bibliotecária. Não é o primeiro e não é o último. A imagem da bibliotecária
como símbolo sexual é antiga e remonta aos desenhos das pin-ups, ilustrações e
fotografias de mulheres sensuais que os soldados levavam consigo na II Guerra
Mundial. Na época, as mulheres tinham muito menos espaço no mercado de
trabalho, talvez por isto se tornou tão comum fantasiá-las em profissões como
enfermeiras, professoras e bibliotecárias.
Em um episódio da comédia My
Boys, PJ tenta seduzir Bobby, seu namorado, fantasiada como um
bibliotecária sexy. A vestimenta remete a esta clássica imagem de uma pin-up –
camisa branca, saia preta justa, meia calça presa por cinta-liga e, claro, os
óculos de aro preto e os cabelos presos. PJ, no entanto, não tem sucesso: não
consegue fazer Bobby largar o Playstation.
Quem não resiste aos encantos da
bibliotecária é Kelso, de That ’70s Show. Ele acaba se
envolvendo com Brooke, personagem introduzida na sexta temporada da série – e
tem um filho com ela. Dick Solomon, o extra-terrestre de 3rd Rock from the Sun,
é outro que acaba seduzido por uma bibliotecária.
Verdade seja dita, bibliotecárias parecem
exercer uma atração nos jovens, mesmo não quando não são sexys. Na
comédia The Middle, no episódio Thanksgiving II, o
menino Brick fica excitado ao saber que uma bibliotecária vai jantar na sua
casa. A bibliotecária em questão, a namorada de Bob, é bem esquisitinha. Mas
Brick nem percebe, se veste especialmente para a ocasião, monopoliza a conversa
com ela sobre livros e deixa Bob com ciúmes. A química entre os dois é tão boa
que rola até uma piadinha interna sobre a classificação decimal de Dewey.
Brick:
- E então eu entreguei o livro para
ele e ele arquivou em 592, mas era um livro de botânica!
Lisa:
- Meu Deus, todos sabem que botânica
é 580-589!
Brick:
- Claro
O fascínio por bibliotecárias pode
ser bem explicado pelo anti-social Abed, da série Community -
série esta que tem a maioria de suas cenas ambientadas na sala de estudos de
uma biblioteca. No episódio Em Early 21st Century Romanticism, ele
e Troy estão apaixonados pela bibliotecária da universidade:
Troy:
Por que ser bibliotecária a faz ser mais gata?
Abed:
- São guardiãs da sabedoria. Guardam respostas de todas as
perguntas. Tipo: “Casa comigo?” e “Por que ainda existem bibliotecas?”
Piadinhas a parte, sexys ou malvados, ou simplesmente
profissionais, os bibliotecários são indispensáveis. Na ficção e especialmente
na nossa sociedade.
Com a colaboração de Maísa França
Paulo Serpa Antunes é jornalista e trabalha com produção de conteúdo para
Internet desde 1995. Atualmente é editor de internet do Jornal do Comércio, de
Porto Alegre. Foi o fundador do TeleSéries, em 2002. Fã de The West Wing, The Shield,
Família Soprano e Ed, entre outros shows.
Disponível em: <http://teleseries.uol.com.br/os-bibliotecarios-e-as-series-de-tv/comment-page-1/>. Acesso em: 16 mar. 2013.
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