terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ler é uma aventura para os períodos de férias

Ler é uma aventura para os períodos de férias
Tatiana Ramos

26/1/2014 09:01:00
Professora curitibanense fala sobre a experiência de leitura
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“O livro jamais deixará de ser uma herança cultural”, afirma professora Andréia
O período de férias, para muitas pessoas, é o momento certo para colocar as pernas para o ar, no balanço de uma rede, e ler um bom livro. Diferente da leitura feita em telas digitais, a experiência de folhear as páginas de um livro é única e incomparável, segundo a professora de Língua Portuguesa, Inglês e Literatura Andréia Lúcia Correa, pesquisadora no campo da leitura ordinária.
“A cibercultura toma espaço entre jovens e adultos pelo uso frequente da Internet, tablet e celular, mandar mensagens, posts, o ato de comunicar-se, mas a página invadida pelo leitor, o transar com a história e a presença do personagem vivo na memória é uma experiência maravilhosa”, avalia Andréia. Ela observa que, durante as férias, a movimentação das bibliotecas aumenta e, em muitas cidades, os espaços são procurados não apenas para o empréstimo e devolução de livros. “As pessoas tomam café, trocam de livros, compram e sentam-se para ler”, completa.
De acordo com Andréia, a teoria de que a leitura em papel será enterrada pela era digital não deve concretizar-se. Ela recorda que, muitas vezes, o fim dos livros já foi anunciado, quase sempre relacionado a uma nova descoberta ou forma de cultura. “Apresentam-nos o texto eletrônico como uma revolução, mas a história do livro já viu outras: as novas linguagens da Internet, o cibertexto, os celulares, enfim, a tecnologia... Isso define o leitor do futuro, voraz, solitário. Mas o espaço da biblioteca é um espaço de trocas, café, amizades, de perambular pelas prateleiras, reler e sentir”, compara. 
Mas, então, o livro sobreviverá? Andréia destaca que a trajetória da leitura e da escrita é uma prática social, que faz parte da evolução da humanidade, desde as formas primitivas. A professora ressalta que o contato com a palavra impressa afetou o pensamento e o comportamento da humanidade nos últimos 500 anos e que se trata de livros desde a época de Gutemberg. “A história do livro estende-se até a cultura da Renascença, se não antes, e começou a sério no século XIX, quando o estudo dos livros tornou-se objeto material e levou ao crescimento das bibliotecas, principalmente na Inglaterra”, relata.
Como acontece ainda hoje em muitos meios culturais, historiadores do livro começaram a se encontrar em cafés, bares e, logo, conferências. De acordo com Andréia, eles reuniam-se para psicanalisar o pensamento de cada leitor que ali vinha, beber seu bom vinho, fumar seu charuto de forma tranquila. “O livro é, necessariamente, o símbolo do progresso com que tentamos fazer esquecer as trevas da solidão, embora a leitura seja um ato solitário. A demanda tecnológica surgindo é uma logística de trabalho e armazenamento. O livro jamais deixará de ser uma herança cultural”, afirma.
No entanto, ela observa que não se pode ignorar que a evolução tecnológica ocupará espaço dos internautas de plantão. O fato é ponderar-se ao ler e o que saber ler. De acordo com Andréia, tudo pode acontecer, mas, independente da forma que tome, a leitura é fundamental em qualquer época. “Amanhã, os livros podem ser um punhado de irredutíveis que irão a museus e bibliotecas, mas nunca tivemos tanta necessidade de ler e escrever, ler para entender o outro, entender-se a si mesmo, escrever cartas de amor, bilhetes...”, conclui.
“Vício” sadioPara a professora, quem cultiva o hábito de ler nunca está satisfeito ao encerrar um livro. Fica sempre uma vontade de “quero mais”, tornando a leitura um “vício” sadio e despertando novos sentimentos e pensamentos mesmo após finalizar a última página. “Um livro nunca se encerra. Nunca tem fim. Não existe apenas uma única vez. Ele é a história do leitor. Sempre. O autor inicia um processo que só tem continuidade com o outro, ou melhor, com os outros. E nós lemos o que somos e somos o que lemos. E, no final das contas, nessa ‘metáfora circular’, autor e leitor tornam-se algo único”, declara, acrescentando que a companhia das páginas dos livros nos permite sonhar, idealizar e, quem sabe, tornar-se outro.


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