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DÉCADA DE 1960: OS BEATLES E OS CATALOGADORES; E A ROSA
[Dezembro/2012] Fernando
Modesto
Mas se estávamos produzindo fichas
catalográficas em máquina de datilografia, também buscávamos uma uniformidade
internacional das regras de catalogação. Comemoramos o cinquentenário da
Conferência Internacional sobre Princípios de Catalogação (International
Conference on Cataloguing Principles – ICCP), realizada na cidade de
Paris, em outubro de 1961. Fora organizada pela IFLA com apoio da UNESCO. Entre
vários fatores que tornaram a Conferência algo essencial para uma moderna visão
da atividade catalográfica encontra-se a própria crise da catalogação.
Andrew D. Osborn escreveu que:
"Grande parte da Biblioteconomia e da administração de biblioteca
não é no todo científica. Durante um bom período de anos os administradores
desenvolveram um corpo de boas práticas, e é isso o que pode ser chamado de
Biblioteconomia. Talvez tenha havido um mínimo de teoria e um máximo de bom
senso no desenvolvimento destas boas práticas, e pode ser que tenha havido
certas perdas em minimizar o papel da teoria".
Para o autor, a Biblioteconomia era uma
prática, uma técnica na qual faltava um corpo teórico para basear-se, aspecto
que também faltava à catalogação. No seu artigo, argumentou que a catalogação
se diluía em quatro teorias sem pontos de convergência: a legalista, a
perfeccionista, a bibliográfica, e a pragmática.
Assim, se ao longo da primeira metade
do século 20 não houve avanços na constituição de uma normalização da
catalogação, por outro lado as guerras mundiais, as crises econômicas e
instabilidades políticas daqueles anos em nada favoreceram a consolidação de
uma cooperação bibliotecária do tipo que originou as regras da American Library Association (ALA)
e daLibrary Association (LA),
de 1909. Ademais, os códigos de catalogação da ALA editados nos anos de 1941 e
49 eram uma acumulação de regras que perderam os princípios teóricos. Fazia-se
necessário recuperar a teoria e fortalecer o desenho de códigos de catalogação
coerentes, não limitados a serem compêndios de regras (ESTIVILL RIUS, 2012).
Foi do trabalho de Lubetzky (e de sua
notória influência) que a catalogação e os códigos resgatariam princípios
teóricos, como os propostos por Cutter, simplificados em alguns aspectos e
revigorados com a inclusão do conceito de obra, como elemento central na função
agregadora do catálogo bibliográfico. Em 1954, a IFLA institui um grupo de
trabalho composto de catalogadores, representantes de vários países e de várias
tradições da catalogação. Sobre o trabalho desta comissão, Alice Príncipe
Barbosa comenta que além do preparo da coordenação internacional dos
princípios, produziu relatório sobre os mesmos, e no qual estabeleceu
orientações de entradas para obras anônimas e de autoria coletiva. O relatório
tornava percebível que códigos de catalogação tradicionais como os da ALA e as
Instruções Prussianas convergiam para um mesmo ponto, ou seja, apoio ao uso de
cabeçalhos mais específicos, evitando-se as entradas geográficas e as entradas
formais e convencionais. Recomendava a consulta junto aos especialistas de
vários países priorizando os problemas da catalogação em geral. Da recomendação
originou-se a Conferência de Paris.
O objetivo da Conferência foi estudar
princípios catalográficos sobre os quais os catalogadores se baseiam no momento
de elaborar os catálogos bibliográficos. Basicamente, a determinação dos
cabeçalhos ou ponto de acesso de autoridade. A influência da Conferência como
aprendemos nos cursos de Biblioteconomia, provocou a revisão das regras de
catalogação em geral. Aliás, mesmo hoje quando falamos em FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records), FRAD (Functional
Requirements for Authority Data), FRSAD(Functional
Requirements for Subject Authority Data), e a RDA, cada vez mais a Conferência
está presente e serve de planejamento. Ela ainda não acabou, pois os seus
efeitos renovam os princípios atuais propostos em 2009.
Um dos articuladores com papel decisivo
e ativo na realização do evento foi o bibliotecário inglês A. H. Chaplin, da
Biblioteca Britânica. Envolvido em reuniões prévias, ocupou o cargo de
Secretário Executivo do Comitê Organizador da Conferência. Ele destacou que foi
o mais amplo e maior encontro de especialistas em catalogação. Compareceram ao evento
105 delegações procedentes de 53 países e doze organizações internacionais, com
104 observadores de 20 países. Fato que marca como os novos princípios
precisavam ser ainda mais amplos em participação e envolvimento, agora no
inicio do século 21.
Ainda, segundo Barbosa, a realização da
Conferência foi oportuna, pois nos dois anos que a precederam, as associações
de bibliotecários de vários países foram motivadas a constituir comissões para
estudar a documentação previamente distribuída, e a emitir sugestões, bem como
designar delegados votantes para o evento. O Brasil foi representado pela
bibliotecária Maria Luísa Monteiro da Cunha. A forma como foi estruturada
colaborou para uma eficiência nos objetivos buscados, e nas discussões havidas.
Para Garrido Arilla, a Conferência ao tratar dos problemas gerais da
catalogação, estabeleceu os princípios em matéria de cabeçalhos ou entradas de
autoridade, e de obras anônimas no catálogo. Discutir um acordo sobre a escolha e
forma de entrada, em especial no caso de sobrenomes compostos, nas
transliterações dos autores orientais, no caso de obras escritas por vários
autores (coletivas) ou em colaboração, nos nomes geográficos, autores
corporativos e anônimos. Entretanto, Barbosa faz uma observação interessante: “os
Princípios não foram considerados internacionais, devendo cada país se
encarregar de ajustá-los às suas necessidades”.
Faço uma indagação pessoal: no Brasil
quais foram os ajustes feitos pela Comissão de Catalogadores? Será que apenas a
determinação das “Entradas para nomes de Língua Portuguesa”, apensada à edição
do AACR2 é o tal ajuste pretendido? Como a Comunidade de Catalogadores
Brasileiros pensa atualmente o controle de autoridade?
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