quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Diretrizes para o desenvolvimento e a avaliação de blogs de biblioteca

Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 17, n. 35, p.145-166, set./dez., 2012. ISSN 1518-2924. DOI: 10.5007/1518-2924.2012v17n35p145

Diretrizes para o desenvolvimento e a avaliação de blogs de biblioteca

Laura Akie Saito INAFUKO 1
Silvana Aparecida Borsetti Gregório VIDOTTI


RESUMO
Os blogs se popularizam pela facilidade de uso e publicação, favorecendo o desenvolvimento de ambientes informacionais digitais. Consideram-se necessários estudos que otimizem a organização das informações contidas em blogs, para contribuir no seu desenvolvimento. A partir de observação direta não-participativa, analisaram-se, em 6 blogs de bibliotecas universitárias, elementos de Arquitetura da Informação (AI) e diretrizes de Usabilidade, identificando-se os elementos fundamentais e opcionais para o desenvolvimento estrutural de um blog. Além disso, foram elaboradas diretrizes de planejamento, um modelo de avaliação, e foram propostos elementos de AI específicos para blogs, contribuindo para os estudos da AI Digital.
PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura da Informação. Usabilidade. Blogs. Web colaborativa. Tecnologias de Informação e Comunicação.

1 INTRODUÇÃO
O surgimento da Internet e a evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) modificaram o modo como as pessoas se relacionam com a informação e impactaram a sociedade em suas esferas tecnológica, social, econômica e política, uma vez que, em essência, a Internet é dinâmica e sem fronteiras, possibilitando o acesso global a diversos tipos de informação. Essa mesma evolução alavancou o número de ambientes informacionais digitais, o que gerou um imenso volume de informações disponíveis em meio eletrônico.
No contexto da Web colaborativa, o usuário não apenas consome informação como também passa a se comunicar com outros usuários conectados na Internet e a publicar conteúdos na rede, sem necessitar de conhecimentos profundos de programação. Dentre as ferramentas da Web colaborativa, os blogs têm se popularizado devido à sua facilidade de uso e publicação, o que contribui também para o aumento de ambientes informacionais digitais.
Clyde (2004) considera que, apesar da cobertura dada aos blogs em jornais e revistas e do número considerável de artigos na área de Biblioteconomia que promovem o uso de blogs em bibliotecas, são realmente poucas as bibliotecas que possuem um blog oficial da unidade de informação. Segundo a autora, a maioria dos blogs de bibliotecas encontrados na rede são, na realidade, blogs de cunho pessoal desenvolvidos por bibliotecários, mas não há necessariamente uma ligação com a biblioteca a que este esteja vinculado profissionalmente. Embora o número de blogs de bibliotecários seja superior ao número de blogs de bibliotecas, consideramos que estudos sobre blogs são necessários pela potencialidade que esta ferramenta de publicação possui para a construção de uma comunidade virtual, que não apenas frequenta a biblioteca fisicamente, mas que também tem a possibilidade de construir relações virtuais a partir do acesso aos conteúdos vinculados no ambiente virtual, além do espaço de comentários, onde é possível o compartilhamento de informações e experiências.
Assim, esta pesquisa se propõe a apresentar diretrizes para o planejamento e para a criação de blogs de bibliotecas, com o uso de elementos da Arquitetura da Informação, para que estes ambientes informacionais digitais possam ser estruturados de forma a contribuir para o acesso fácil e intuitivo às informações contidas nesses ambientes.

2 BLOGS NO CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA
Jorn Barger cunhou o termo weblog, em 1997, quando começou a chamar o seu próprio website de weblog, para descrever websites pessoais que fossem atualizados com frequência e contivessem em suas publicações links interessantes, além de tecer comentários sobre estes (BALTAZAR; AGUADED, 2005). O termo weblog é, na realidade, a junção de duas palavras inglesas, web (rede) e log (diário de bordo), significando “diário da rede”. Segundo Blood (2000), o termo weblog passou a ser utilizado em sua forma contrátil após Merholz (1999) ter anunciado que passaria a pronunciar “wee-blog”, e utilizaria o termo também em sua forma curta, “blog”, tornando seu uso popular.
Os blogs são websites que permitem a publicação de conteúdos não estruturados, sobre diversos assuntos. Esses conteúdos são, em geral, organizados de forma cronológica inversa, isto é, as postagens mais recentes aparecem em destaque no topo do website, enquanto que as mais antigas são armazenadas no ambiente, denominado “arquivo do blog”.
Yang e Liu (2009) consideram os blogs ferramentas relativamente novas de comunicação e colaboração pessoais, sendo o “blogar” (blogging) uma nova forma de publicação. Segundo os autores, blogs são websites que usam um formato de registro datado para publicação de informações periódicas, projetados originalmente para uso pessoal, e se caracterizam como diários pessoais on-line. Tal definição se deve ao fato de muitos usuários utilizarem esse ambiente para narrar fatos do cotidiano.
Primo (2008b), no entanto, discorda de tal característica ao afirmar que diários pessoais e blogs apresentam características muito distintas, mesmo sendo ambos formas de registro escrito que seguem uma explícita organização cronológica. A principal distinção entre um e outro, segundo o autor, é a forma intrapessoal que o diário pessoal toma, tendo como destinatário o próprio autor, enquanto nos blogs a abordagem escrita é interpessoal, tendo como leitor outras pessoas conectadas na Web. É importante ressaltar tal aspecto para evidenciar a importância desse ambiente colaborativo ao possibilitar a interação entre vários usuários no uso dessa ferramenta. Nesse sentido, pode-se considerar o blog um software social por permitir a interação e o compartilhamento de informações entre usuários, tendo como foco a utilização da tecnologia no estímulo de interação entre pessoas e grupos.
Clyde (2004) considera que não são apenas indivíduos ou grupos de indivíduos que publicam em blogs. Para a autora, blogs são desenvolvidos também por organizações e instituições de vários tipos, incluindo empresas, associações de profissionais, universidades e escolas, bibliotecas, clubes, e são projetados para servir como espaço de publicidade e promoção, de compartilhamento de informação, como espaço para gestão do conhecimento de uma organização, para a comunicação com clientes ou com a comunidade local, influenciando a opinião pública, ou para testar produtos ou ideias, ou ainda, para a criação de oportunidades para a avaliação da opinião pública.
Neste contexto, Recuero (2003) classifica os blogs como publicações eletrônicas, desmistificando a ideia de que eles tenham sido desenvolvidos apenas para a função de servirem como diários eletrônicos. A autora (2003, p. 3, grifo da autora) destaca que os blogs
[...] atuam como versões mais dinâmicas dos websites pessoais. E, com os websites pessoais, dividem as mesmas críticas: são experiências de publicação amadoras, muitas vezes produtos narcisísticos e exibicionistas. São geradores de conteúdo pessoal.
A autora (RECUERO, 2003) apresenta, ainda, duas categorias principais de blogs, facilmente distinguíveis devido às características de suas postagens, e uma terceira categoria, híbrida das categorias anteriores:
1. Diários eletrônicos: blogs que servem como canal de expressão de seu autor, sendo atualizados com pensamentos, fatos e ocorrências da vida pessoal de cada indivíduo.
2. Publicações eletrônicas: blogs que se destinam principalmente à informação. Publicam, assim como as revistas eletrônicas, notícias, dicas e tutoriais e comentários sobre determinado assunto. Evitam-se comentários pessoais, embora apareçam algumas vezes.
3. Publicações mistas: blogs que efetivamente misturam postagens pessoais do autor e postagens informativas.
Em blogs desenvolvidos por bibliotecários, é possível observar a existência dos três tipos de categorias de blogs, apresentados por Recuero (2003). Já em blogs desenvolvidos por bibliotecas, é predominante a ocorrência de postagens informativas sobre a instituição e assuntos de interesse dos usuários da biblioteca e leitores do blog, enquadrando-se na categoria as publicações eletrônicas.
Primo (2008b) destaca que o uso de blogs organizacionais tem como vantagem a facilitação das conversações, de modo a torná-las globais, e possibilitam alcançar um público bastante grande com baixo investimento, além de “humanizar” a instituição diante de seu público. Os blogs organizacionais são definidos como blogs coletivos “[...] cujos posts e interações são sobredeterminados pela formalização das relações e sistematização das forças de trabalho em busca de objetivos que delimitam e direcionam a atuação de cada participante do processo” (PRIMO, 2008a, p. 11). Neste tipo de blog, aquele que escreve não assina como a postura de alguém em particular, mas sim em nome de toda a organização.
A partir do surgimento de ferramentas de publicação e da facilidade de se encontrar informação na Web, os blogs começam a ser utilizados como fonte de informação, e cabe aos profissionais da informação auxiliar o desenvolvimento estrutural de ambientes informacionais digitais adequados aos seus usuários e com conteúdos relevantes e de qualidade, a começar pela criação do blog da instituição à qual está vinculado, de modo que este espaço se torne mais um canal de comunicação entre biblioteca e usuário. Nesse sentido, são necessários estudos que possibilitem a otimização da organização das informações contidas no ambiente blog, a partir de elementos da Arquitetura da Informação e de diretrizes de Usabilidade, para contribuir no desenvolvimento destes ambientes informacionais digitais. Na próxima seção, são apresentados os elementos de arquitetura da informação específicos para o ambiente de blogs.
3 ELEMENTOS DA ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO
O termo “arquiteto da informação”, segundo Péon Espantoso (2010), foi cunhado em 1976, por Richard Saul Wurman, que principiou estudos sobre o gerenciamento da informação. Segundo Macedo (2005), Wurman considerava que a reunião, a organização e a apresentação da informação tinham objetivos próximos às tarefas da Arquitetura, sendo a AI, então, uma expansão desta, com o diferencial de que seria aplicada a espaços de informação. Assim, Wurman (2005) considerava que os verdadeiros arquitetos de informação devem dar clareza ao que é complexo, tornando a informação compreensível para outros seres humanos.
Na década de 1990, Louis Rosenfeld e Peter Morville começaram a pesquisar a Arquitetura da Informação, com o objetivo de relacioná-la com o ambiente Web, definindo-a como
1. Design estrutural de ambientes de informação compartilhada.
2. Combinação entre sistemas de organização, rotulagem, pesquisa e navegação dentro de websites e intranets.
3. Arte e ciência de modelagem de produtos de informação e experiência para apoiar a usabilidade e a encontrabilidade (findability).
4. Uma disciplina emergente e uma comunidade de prática focada em trazer princípios de design e arquitetura para o contexto digital.
(MORVILLE; ROSENFELD, 2006, p. 4, tradução e grifo nossos)
Morville e Rosenfeld (2006) consideram, ainda, que um projeto de Arquitetura da Informação deve compreender e atender a três variáveis: o contexto, o conteúdo e os usuários, e a intersecção dessas três variáveis resulta no desenvolvimento de estruturas de informação que facilitam e agilizam o acesso à informação, integrando as necessidades e as expectativas dos produtores e do público-alvo do ambiente projetado.
Nesse sentido, Macedo (2005, p. 132) define Arquitetura da Informação como
[...] uma metodologia de desenho que se aplica a qualquer ambiente informacional, sendo este compreendido como um espaço localizado em um contexto; constituído por conteúdos em fluxo; que serve a uma comunidade de usuários. A finalidade da Arquitetura da Informação é, portanto, viabilizar o fluxo efetivo de informações por meio do desenho de ambiente informacionais.
Dessa forma, percebe-se a grande importância que essas três variáveis possuem no estudo e desenvolvimento de um projeto de construção de um website.
Embora a Arquitetura da Informação possibilite traçar os caminhos mais rápidos para o acesso a uma informação específica, Lara Filho (2003, p. 14) alerta que a arquitetura da informação não é uma técnica, não fornece receitas. Antes, ela é um conjunto de procedimentos metodológicos e sua aplicação não visa criar uma camisa de força no conjunto da informação de um site. [...] Cabe à arquitetura da informação balizar, sinalizar, indicar, sugerir, abrir possibilidades.
Nesse sentido, o estudo da Arquitetura da Informação em um website deve ter como foco os desejos e as necessidades informacionais de seu usuário, e dessa forma projetar o ambiente informacional digital de ac



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